Triângulo amoroso de Kyra é o único que presta em Salve-se Quem Puder

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A atual novela das sete vai caminhando para seu final e ficou claro que Daniel Ortiz usou e abusou dos triângulos amorosos. O autor já tinha usado bastante o recurso em Haja Coração, sua novela anterior, e aproveitou bem mais o recurso em Salve-se Quem Puder. As três protagonistas estão envolvidas em dilemas amorosos e vários outros personagens também não escapam da situação. Mas, analisando friamente o roteiro, o único triângulo que apresenta consistência é o formado por Kyra (Vitória Strada), Rafael (Bruno Ferrari) e Alan (Thiago Fragoso).

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Logo no início da trama, houve uma bonita construção do relacionamento de Kyra e Rafael. O pedido de casamento que o íntegro personagem fez para a atrapalhada companheira, durante um engarrafamento e em meio a um temporal, foi bonito e engraçado, além da química dos atores – vista em Tempo de Amar, de 2017 – ter sobressaído. Era aquele momento da apresentação dos perfis individuais, que acabou somado com a relação ‘Kyrael’. Foram poucas cenas porque na mesma semana a protagonista acabou dada como morta, após ter presenciado um crime em Cancún, no México, no meio de um furacão. Ainda assim houve um envolvimento do público.

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Já quando Kyra precisou usar o nome falso de Cleide, diante das condições do serviço de Proteção à Testemunha, foi trabalhar como babá na casa de um advogado, viúvo, pai de duas crianças adotadas. No caso, primo de Alexia (Deborah Secco), sua então nova companheira de ‘fuga’.

E a construção do novo casal se iniciou. Baseado em todos os clichês infalíveis do gênero, já vistos em muitos filmes românticos: o ricaço solitário que se encanta pela babá, que por sua vez demora um bom tempo para conquistar a confiança das crianças e, quando se dá conta, também se apaixona pelo patrão.

Tudo foi muito bem trabalhado pelo autor e a interrupção das gravações em virtude da pandemia do novo coronavírus aumentou ainda mais a expectativa pelo primeiro beijo de ‘Alyra’. Cleide foi ficando cada vez mais íntima da família e virou o xodó dos filhos de Alan. O clima entre eles aumentava a cada momento juntos. Ortiz soube preparar bem o instante do tão aguardado beijo na retomada da novela —- durante um Karaokê, quando Alan cantou a música tema do par (You and Me, de James TW) – e Thiago Fragoso e Vitória Strada transbordaram química. A espera fez valer a pena.

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Agora o desafio de Kyra é se afastar das crianças porque sua relação com o patrão acabou. Alan não quis seguir com o relacionamento e colocou um ponto final. Isso por causa da insegurança da personagem por conta do sentimento que ainda diz sentir por Rafael. Para culminar, o ex flagrou Cleide viva na semana passada em uma das melhores catarses da trama, o que promoveu uma outra virada. Rafael e Kyra se beijaram e a química entre Vitória Strada e Bruno novamente surgiu em cena. Há uma divisão de torcidas do público, o que é compreensível porque toda a construção é bem realizada e nada parece forçado. A atriz também tem química com os dois atores, o que facilita e divide quem assiste. É até fácil torcer pelos dois casais, por incrível que pareça, ainda que o roteiro vá mostrando um final feliz da babá com Alan, já que Rafael protagonizou deliciosas cenas com Júlia (Sophia Abrahão).

O triângulo deixa bem evidente como os dilemas amorosos das outras duas protagonistas soam artificiais. Luna (Juliana Paiva) namorava Juan (José Condessa), no México, mas a construção do romance deles no início da novela não foi tão atrativa quando a de Rafael e Kyra. No entanto, o autor tinha a chance de reverter o jogo ao longo da história. Mas o ator abandonou a produção quando ocorreu a interrupção das gravações e afirmou ter um compromisso já firmado em Portugal. Com isso, Ortiz precisou inserir outro personagem para substituí-lo: Alejandro (Rodrigo Simas), outro tipo vindo do México.

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Para trazer um pouco de densidade na relação do novo perfil com Luna, Daniel inventou um primeiro beijo na adolescência e usou uma cena de Bruno e Fatinha, casal sensação de Malhação Intensa, exibida em 2012. O escritor foi inteligente com a escalação de Rodrigo. Porque há um grande fandom dos atores até hoje por causa do sucesso do casal de 9 anos atrás. Ele sabe que se colocasse qualquer outro intérprete a chance do público comprar a ideia seria nula. Mas ainda assim, todo o desenvolvimento soa raso. Houve uma construção primorosa do romance entre Fiona e Teo (Felipe Simas).

E o casal tem vários elementos catárticos, como o fato dele ter sido o ‘Anjo Salvador’ da mocinha durante o furacão; e Luna ainda ser filha de Helena (Flávia Alessandra), que é madrasta de Teo. A personagem também é fisioterapeuta e o rapaz teve um problema sério no joelho após o furacão, o que implicou em muitas cenas de tratamento de Fiona com o enteado de sua mãe. O relacionamento do casal só acabou porque Úrsula (Aline Dias) a ameaçou. Ou seja, um conjunto que nem se compara ao enredo simplório com Alejandro. Por isso ficou pouco convincente esse breve envolvimento de Luna com seu amor da infância. Não seria a atitude volúvel que ela teria apenas dias depois de um término tão traumático.

A questão envolvendo Alexia, Zezinho (João Baldasserini) e Renzo (Rafael Cardoso) é outra que não apresenta um bom resultado. Fica claro em todos os momentos que Aléxia ama o caipira que virou praticamente um guarda-costas. Todavia, todo o contexto envolvendo Renzo é muito mais convidativo para o telespectador. O sobrinho da grande vilã, que iniciou a história sendo um mero comparsa, teve um arco de redenção ótimo graças ao amor que sempre sentiu por sua então vítima. De vilão virou mocinho. E de forma convincente.

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Todavia, isso nunca deixou Josimara de fato balançada. Todas as cenas criadas pelo autor não convencem e fica clara a tentativa de preencher tempo e plantar uma falsa dúvida na cabeça do telespectador. Se houvesse um desenvolvimento de fato entre Aléxia e Renzo, o casal teria um forte apelo popular. Mas é óbvio que ela ficará com Zezinho, até como uma espécie de ‘prêmio’ para o ator, pois até hoje uma parcela do público não se conforma com o final de Haja Coração, com Beto ficando sem Tancinha (Mariana Ximenes). Ortiz só deveria ter se preocupado em criar um enredo para Zezinho. O personagem vive exclusivamente para sentir ciúmes de Alexia e não tem um drama para chamar de seu. Fez falta.

Salve-se Quem Puder tem se mostrado um folhetim delicioso e a reta final está cada vez mais empolgante. Mas Daniel Ortiz pecou no excesso de triângulos amorosos. Claro que os dilemas rendem discussões nas redes sociais e um bom engajamento. O autor está no seu direito de criar situações que promovam uma repercussão. Mas bastaria os conflitos envolvendo Rafael, Kyra e Alan. Cumpririam a função com louvor. Porque com os demais não havia necessidade.

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