Treze Dias Longe do Sol propõe boa reflexão sobre o ser humano, mas final decepciona

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Um prédio prestes a ser entregue desaba. Lá estão o engenheiro responsável, a filha do dono do empreendimento e alguns trabalhadores. Em meio à agonia dos familiares, a luta pela sobrevivência dos soterrados e o “jogo de empurra” dos envolvidos. É neste cenário que se perfaz o enredo de Treze Dias Longe do Sol, série exibida pela Globo em dez capítulos, iniciada no dia 9 de janeiro e que terminou na última sexta-feira.

Disponibilizada no GloboPlay em novembro do ano passado, a série de Elena Suárez e Luciano Moura, com direção artística deste último, é uma co-produção com a O2 Filmes, também responsável por produtos como Felizes Para Sempre e Os Experientes (ambas de 2015).

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A premissa do enredo envolve o atraso na obra de um moderno centro médico. O engenheiro Saulo Garcez (Selton Mello) é pressionado por sua ex-namorada, Marion Rupp (Carolina Dieckmann), que vistoria o empreendimento para saber as razões da demora. Com o desmoronamento, vêm à tona as suspeitas de que Saulo usou materiais de baixa qualidade e mão-de-obra pouco qualificada para economizar, pois ele tinha o objetivo de se tornar sócio da construtora Baretti.

Em meio a isso, a anuência de Gilda (Débora Bloch), diretora financeira da empreiteira que tem um amor platônico pelo engenheiro. A executiva manobra para que a culpa recaia sobre um amigo de Saulo, Newton (Enrique Diaz), responsável pelos cálculos estruturais do prédio, que era sua primeira obra. Em contraponto às ambições da diretora, está a esperança de Marco Antônio (Fabrício Boliveira), major do Corpo de Bombeiros, que se empenha ao máximo na busca pelos sobreviventes.

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O “jogo de empurra” envolvendo os executivos responsáveis pelo prédio, se dispersando para tentar se livrar da culpa, é um ótimo paralelo com a realidade e lembra famosos casos de desabamentos que não foram totalmente solucionados, como o edifício Palace II, em 1998, e o Metrô de São Paulo, em 2007. Por sua vez, a luta pela sobrevivência dos soterrados, em alguns momentos, chega a lembrar o seriado Supermax – embora com propostas diferentes, o teste dos limites do ser humano é semelhante.

A série ainda é enriquecida por dramas particulares, como o de Gilda com seu pai (Emiliano Queiroz), que sofre de Alzheimer; a saga de Newton para provar sua inocência ao se ver colocado como bode expiatório; e o envolvimento mal resolvido entre Saulo e Marion, que têm um filho juntos. As histórias trabalham a dubiedade e as nuances dos mais variados perfis do enredo, em situações que põem à prova o caráter e o comportamento dos mesmos.

Também merece elogios o elenco escolhido a dedo para dar vida a estes personagens. Selton Mello, cujo último papel foi na série Ligações Perigosas (2016), mostra sua conhecida segurança na pele de Saulo, corroído pela culpa que carrega, uma vez que sua ambição provocou uma tragédia, e que busca sua redenção tentando salvar os que ainda restaram. Carolina Dieckmann, que interpreta Marion, vive um dos seus melhores momentos da carreira, ao lado da icônica vilã Leona, de Cobras e Lagartos (2006).

Lima Duarte, como Dr. Rupp, finalmente voltou a ser valorizado como merecia, além de também brilhar como o humilde Josafá na novela das nove, O Outro Lado do Paraíso. O ator, que há tempos não tinha papeis que honravam seu talento, aparece em duas produções inéditas ao mesmo tempo, ainda mostra sua versatilidade em tipos totalmente diferentes e prova que não merecia ficar tanto tempo em papeis que não faziam justiça à sua competência.

Ainda se destacam nomes como Enrique Diaz (ótimo como Newton), Camila Márdila (na pele de Yasmin, uma das vítimas, que espera um filho), Maria Manoella (Ilana, ex-mulher de Saulo), Fabrício Boliveira (o obstinado Marco Antônio), Eucir de Souza (o capitão Ney, que tenta dissuadir o major de continuar procurando as vítimas) e Paulo Vilhena (como Vitor Baretti, herdeiro da construtora). E a série ainda apresentou um bom grupo de atores do Nordeste, que foram escolhidos para dar mais veracidade aos perfis dos operários: Démick Lopes (Zica), Antônio Fábio (Jesuíno, pai de Yasmin), Rômulo Braga (Daréu) e Arilson Lopes (Bené).

Entretanto, deve-se fazer uma especial menção para Débora Bloch. A atriz vive o perfil mais rico entre todos da série. Gilda, a diretora financeira da Baretti, alterna momentos de puro ódio, principalmente nas manobras para acusar Newton pelo desabamento, com humanidade e emoção, na relação conflituosa com o pai, que sofre de demência. Débora brilha em todas as sequências e ainda protagoniza uma tocante parceria com o grandioso Emiliano Queiroz.

Apesar de todo o conjunto positivo, deve-se fazer uma ressalva para o final da série. Enquanto acontece o resgate de todos, fica a dúvida se Saulo aceita ser resgatado ou não (sugerindo que o engenheiro morre, como uma espécie de redenção). O resultado da sequência soou como um anticlímax, contrariando quem esperava que Saulo sobrevivesse e alimentasse o conflito entre os responsáveis pela obra.

Mesmo com esta ressalva, Treze Dias Longe do Sol foi uma aposta bem-vinda. A série de Luciano Moura e Elena Suárez apresentou uma boa premissa ao abordar discussões sobre o caráter das pessoas em uma ‘situação limite’, enriquecida pelo primoroso elenco. E comprovou que as séries de janeiro exibidas pela emissora mantém o alto nível conquistado nos últimos anos.


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