Dyego Terra

Parece que Gloria Perez tem uma maldição que nunca a deixa livre para emplacar um novo sucesso espontâneo. Ela costuma ter o azar de substituir um fenômeno de audiência e, com isso, já estreia suas tramas com muitas cobranças e expectativas. Essa coincidência também é vista em Travessia, atual novela das nove da Globo.

Tal sina vem se repetindo há pelo menos 30 anos, quando ela estreou De Corpo e Alma (1992) logo após o grande sucesso de Pedra Sobre Pedra.

A trama escrita por Agnaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn havia recuperado os índices do horário após a problemática O Dono do Mundo (1991), de Gilberto Braga, que padeceu com uma heroína impopular.

Pois bem, coube a Gloria o papel de substituir o folhetim no horário nobre da emissora carioca. Como se sabe, foi durante essa novela que sua filha Daniella Perez foi assassinada pelo até então colega de elenco, Guilherme de Pádua. Esse fato obviamente acabou com o clima da obra, que seguiu no ar, mas já não tinha razão de ser.

Explode Coração ficou com a vaga de A Próxima Vítima

Explode Coração - Ricardo Macchi e Tereza Seiblitz

Repetindo a mesma “sorte”, a novelista estreou, em 1995, Explode Coração, que vinha para ocupar a vaga deixada pela gloriosa A Próxima Vítima (1995). Nesse caso, a escritora conseguiu, de certa forma, segurar o rojão, e se manteve até bem ao apresentar uma novela relativamente promissora, que mostrava a cultura cigana e apresentava tecnologias avançadas para a época.

O folhetim foi o primeiro inteiramente gravado no Projac e marcou a volta de Gloria, que havia feito uma pausa após o assassinato da filha.

América tinha a difícil missão de segurar Senhora do Destino

América

Em 2005, América estreou como a sucessora de Senhora do Destino (2004), que marcou nada menos que 50 pontos de média no Ibope, com registros de 60 em sua reta final.

Mas, o que parecia impossível se tornou realidade e a trama da sonhadora Sol, defendida por Deborah Secco, obteve tanta repercussão como a história de Maria do Carmo (Suzana Vieira) e terminou com apenas um ponto a menos que a antecessora, atingindo 49 pontos.

Salve Jorge naufragou ao substituir Avenida Brasil

Já Salve Jorge (2012) teve a dura missão de substituir nada menos que o maior fenômeno da década: Avenida Brasil (2012), que não só pontuava na casa dos 40 pontos, como repercutia como nunca antes visto na internet, sendo amplamente comentada nas redes sociais e considerada uma verdadeira fábrica de memes.

Salve Jorge teve diversos problemas, como elenco muito grande, com personagens que passavam mais de uma mês sem dar as caras na tela; história confusa, que não andava; uma protagonista que demorou a acontecer, além de situações irreais e controversas, que foram altamente criticadas pelo público e pela imprensa.

Todas essas questões foram afastando o telespectador. A trama patinou no Ibope e obteve zero representatividade na internet. Foram 33 pontos gerais, ante 39 da antecessora.

Travessia nem de longe repete o sucesso de Pantanal

Pantanal - Osmar Prado

A história está se repetindo esse ano com Travessia. A novela chegou para substituir Pantanal, que foi responsável por fazer a Globo voltar para a casa dos 30 pontos de audiência e ter novamente uma novela na boca do povo.

Bom, não se pode dizer que o público não fala da trama de Brisa (Lucy Alves). Fala mal, é verdade, mas fala. Acontece que a atual novela das nove sofre dos mesmos problemas de Salve Jorge: a protagonista demora para mostrar a que veio, a história também parece que ainda não engrenou, já que tem diversos personagens no vídeo, mas poucos mostram a que vieram.

A obra já tinha o peso de substituir um dos maiores sucessos dos últimos tempos e, no lugar de aproveitar o Ibope em alta, acabou jogando fora tudo que havia sido conquistado por Pantanal.

Com essa análise, podemos concluir que Gloria Perez teve muitas vezes a difícil missão de ir ao ar após grandes êxitos e que nem sempre conseguiu lidar bem com essa situação.

Só o tempo dirá se Travessia está mais para América, que acabou conquistando o público, ou para Salve Jorge, que afastou a audiência e ficou marcada como um fiasco.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor