Nilson Xavier

A TV Globo estreou, nesta segunda-feira (10), a novela Travessia, criada e escrita por Glória Perez, com direção artística de Mauro Mendonça Filho. A campanha de lançamento foi ostensiva, com inúmeras peças inseridas na programação da emissora, inclusive em programas. O objetivo era chamar a atenção do público viúvo de Pantanal, a novela antecessora, avaliada como um grande sucesso.

É uma tarefa difícil, haja vista a discrepância entre as duas obras, uma rural e outra urbana, uma com o apelo da natureza e da vida interiorana, outra amparada em tecnologia e modernidade. Se em Pantanal, o protagonista Zé Leôncio resistiu o máximo que pôde em aceitar internet e smartphone, em Travessia, até o formato vertical de stories e tiktok foi representado nas imagens da abertura.

Eu diria ainda que ambas novelas atraem públicos distintos, o que requer atenção redobrada. Foi-se o tempo em que tudo que a Globo jogava no ar dava audiência, quando o público tinha pouquíssimas opções de entretenimento em casa. Atualmente, a disputa acirrada pela audiência da TV aberta está fora dela mesma (no streaming, por exemplo), o que não acontecia antigamente.

Destaques

A proposta do capítulo de estreia foi apresentar os antecedentes dos protagonistas. A trama começou mais de uma década atrás, quando Brisa e Ari eram crianças no Maranhão, como cresceram se amando e Ari (Chay Suede) foi influenciado por seu mestre Dante (Marcos Caruso) no apreço pelo patrimônio histórico de São Luís.

No núcleo carioca da história, dois sócios empreendedores lançam o projeto de um shopping center moderníssimo. Guerra (Humberto Martins) não sabe, mas o amigo Moretti (Rodrigo Lombardi) tem um caso com sua namorada Débora (Grazi Massafera). Descoberta a traição, a amizade é desfeita e a moça é abandonada grávida. Prestes a dar à luz, Débora morre em um acidente, a bebê sobrevive e Guerra a toma para criar.

É Chiara – personagem de Jade Picon -, a terceira ponta do triângulo amoroso com Brisa e Ari. Os três personagens tornam-se adultos em imagens que reproduzem stories do Instagram – um recurso interessante para mostrar a passagem do tempo.

Toda essa trajetória foi exibida de forma rápida, com poucos cortes para o outro núcleo (do Maranhão). É desse momento o maior destaque do capítulo: Grazi Massafera. A atriz dominou com uma interpretação tão contundente que até destoava de seus companheiros de cena. Pena que a personagem morreu.

Outro ponto positivo foi a autora lançar no ar a dúvida sobre a paternidade de Chiara. Débora afirmou que o pai era Moretti, mas a menina foi criada por Guerra, inimigo dele. E se fosse filha biológica de Guerra? Isso é folhetim!

Ressalto ainda o ótimo gancho para o próximo capítulo: o momento em que viraliza na internet a montagem de uma foto na qual Brisa (Lucy Alves) é acusada de raptar crianças – o que dá o ponta pé na trama principal.

Novelão

Nas entrevistas de profissionais envolvidos em Travessia, usou-se muito o termo “novelão” para conceituar a produção. É a Globo refutando qualquer proposta de “inovação” em seu horário mais nobre, um movimento iniciado com Pantanal, remake de uma novela antiga de sucesso garantido.

A opção por andar em trilhas já testadas e aprovadas é consciente. Glória Perez, uma autora que desfila com desenvoltura no gosto popular, pulou a ordem dos autores quando a alta direção entendeu que a sinopse de João Emanuel Carneiro (inicialmente o substituta de Pantanal) poderia ser melhor aproveitada no streaming (Todas as Flores).

O que sentiu-se nas chamadas e no capítulo de estreia corrobora essa ideia. Comparando com as duas últimas novelas da autora, Travessia está mais para Salve Jorge (2012-2013), uma produção mais palatável ao gosto do público médio, com muitos convites para voar – “É preciso voar”, justificou a autora à época -, do que para A Força do Querer (2017), novela calcada na realidade, com abordagens e dilemas sociais bem retratados.

Já no primeiro capítulo de Travessia, foi o personagem de Rodrigo Lombardi que voou, ao pular da janela para escapar de ser morto. Preparem as asas!

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Deslizes 👎

Vanessa Giacomo peruca

Peruca é sempre uma temeridade. Vanessa Giácomo, coitada, não merecia a que arrumaram para ela na primeira fase. Pavorosa!

– Achei de bastante mau gosto, já no primeiro capítulo, uma mulher quase ser vítima de feminicídio.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor