A novela Roda de Fogo finalmente está de volta: no Globoplay, a partir dessa segunda-feira (26), para a alegria dos fãs saudosistas (principalmente depois da promessa não cumprida pelo Viva). Um dos maiores sucessos da TV da década de 1980, a trama foi exibida entre agosto de 1986 e março de 1987.

Separei 10 curiosidades para celebrar seu retorno:

1 – Criação coletiva

Roda de Fogo foi escrita por Lauro César Muniz e Marcílio Moraes a partir de uma sinopse criada por um grupo de roteiristas da Casa de Criação Janete Clair: Dias Gomes, Ferreira Gullar, Euclydes Marinho, Luiz Gleiser, Joaquim Assis, Marília Garcia e Antônio Mercado.

A Casa de Criação Janete Clair foi instituída em 1985, por Dias Gomes, com o objetivo de selecionar e elaborar roteiros para as produções da TV Globo. Porém, durou pouco tempo: em 1987, foi encerrada após a polêmica (e o processo jurídico) envolvendo a sinopse da novela O Outro, de Aguinaldo Silva.

2 – Ressonância na atualidade

O maior mérito da novela foi colocar no subtexto um retrato do Brasil. A trama girava em torno do capitalismo selvagem dominante no país, marcado pela ganância dos empresários, os “crimes do colarinho branco”, as negociatas, falcatruas e conchavos com políticos corruptos a fim de defender seus interesses, inclusive com personagens decadentes do Regime Militar – entre os quais um general reacionário aposentado e um ex-torturador. Nada mais atual, não é mesmo?

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3 – Custou para pegar

Apesar de seu relevante sucesso e repercussão final, Roda de Fogo custou a “pegar” em seu início. O público torceu o nariz quando deparou-se com o “galã” Tarcísio Meira no papel de um vilão cruel. A novela conquistou a audiência quando Renato Villar humanizou-se, ao descobrir sua doença terminal (um aneurisma cerebral). Aos poucos, o personagem foi ganhando a simpatia do público, que o perdoou e passou a torcer por ele.

Ficaram famosas as cenas em que Renato tinha fortes crises de dores na cabeça e levava a mão à testa, com uma sonoplastia contundente. O público não queria que o personagem morresse, desejo manifestado nas pesquisas de opinião e nas cartas que a produção recebia. No final da novela, Renato morre nos braços da amada, Lúcia (Bruna Lombardi).

4 – Vilão gay

A trama da luta pelo poder e a onda de assassinatos fez brilhar o vilão Mário Liberato – um dos melhores momentos de Cecil Thiré na televisão.

Porém, entidades de direitos dos homossexuais não gostaram de ver um personagem gay vilão. Era uma época em que gays em novelas eram geralmente retratados de forma estereotipada ou como um tipo problemático, que precisasse de ajuda.

5 – Atriz demitida

Após constantes atrasos para gravações e uma falta, a atriz Lúcia Veríssimo foi demitida pelo diretor artístico Paulo Ubiratan. Em entrevista ao Jornal do Brasil de 17/03/1988, Ubiratan declarou:

“Na época, havia um movimento sindical por um máximo de seis horas de trabalho. É um direito legal, mas o ator tem o dever de chegar na hora e saber o texto. A Lúcia atrasava todo dia. Eu reclamava e ela atrasava de novo. Aí, eu a suspendi, e sabe o que ela fez? Faltou para passar o fim de semana em Los Angeles. Aí eu demiti. Qual é?”

A atriz deixou a novela antes de sua metade. A saída de sua personagem, Laís, foi explicada na trama com uma viagem para o exterior, sem volta. No último capítulo, seu pai lê um postal que Laís mandara da Europa contando da viagem. E tudo ficou por isso mesmo.

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6 – Abertura icônica

A abertura exibia as letras da palavra “fogo” incandescentes, por onde passavam um tigre (letra F), uma ave de rapina (O), um cavalo (G) e, finalmente, um homem nu (O). Um detalhe peculiar na transição pelas letras agregava simbolismo à proposta da vinheta: enquanto os animais, até então petrificados, ganhavam movimento e vida ao passar pelas chamas, o contrário acontecia com o ser humano, que se transformava em uma estátua de pedra ao ultrapassar a roda de fogo, o que servia para lembrar que a frieza, ou dureza, podem dominar o homem em sua tentativa de superar obstáculos e atingir objetivos (colaboração André Luiz Sens, blog Televisual).

7 – Música da abertura não encontrada

Composta por Marina Lima e Antônio Cícero, a música da abertura, “Pra Começar” foi extraída do álbum “Todas ao Vivo”, de Marina, lançado em 1986, pouco antes da estreia da novela. Pela canção ter sido originalmente gravada “ao vivo”, Marina foi especialmente para estúdio gravá-la para a abertura de Roda de Fogo.

Todavia, o fonograma em estúdio nunca foi lançado comercialmente – nem no LP nacional da novela – e sua execução era limitada à abertura. As rádios só tocavam a versão ao vivo – a do álbum de Marina e do disco da novela.

8 – Sátira no TV Pirata

Em 1988, o humorístico TV Pirata apropriou-se do título e da abertura de Roda de Fogo como inspiração para sua novela Fogo no Rabo, uma sátira escrachada e debochada ao gênero telenovela, exibida dentro do programa. No entanto, a trama de Fogo no Rabo nada tinha a ver com Roda de Fogo – a não ser o personagem Reginaldo (Luiz Fernando Guimarães), levemente inspirado em Renato Villar (Tarcísio Meira), mas puxado para o escárnio.

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9 – A reprise mais picotada

Reapresentada entre maio e julho de 1990, Roda de Fogo foi a novela mais picotada no Vale a Pena Ver de Novo: a reprise teve apenas 34 capítulos, contra 179 da apresentação original. Por ter sido tão bruscamente editada, essa reprise é uma das mais controversas da história do Vale a Pena Ver de Novo, gerando uma série de teorias.

A mais aceita é que sua escolha tenha servido exclusivamente para cobrir o período da Copa do Mundo da Itália, já que seu horário de exibição era entre dois jogos vespertinos. A novela estreou em 21 de maio, duas semanas antes do início do campeonato, e terminou (em 6 de julho) exatamente com o fim da Copa.

Reforçando essa teoria, está o fato da novela destoar do padrão do Vale a Pena de então, que optava por comédias ou tramas românticas. Roda de Fogo é considerada uma novela muito “masculina”, adequada para fisgar o público que terminava de assistir um jogo e aguardava o próximo.

10 – Novela homônima

Não confundir Roda de Fogo com a novela homônima produzida pela TV Tupi em 1978, escrita por Sérgio Jockyman e Walther Negrão. Com tramas completamente diferentes, uma novela nada tem a ver com a outra. O único ponto em comum entre as duas novelas é a presença nos elencos da atriz Eva Wilma.

AQUI tem tudo sobre Roda de Fogo: trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e mais curiosidades de bastidores.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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