A atual produção das onze estreou no dia 23 de abril. Ou seja, está há pouco mais de um mês no ar. George Moura e Sérgio Goldenberg criaram um enredo instigante, cujo capricho é observado na fotografia, tomadas de câmera, construção de personagens, direção de José Luiz Villamarim e escalação do elenco. Um conjunto primoroso, sem qualquer dúvida. Entretanto, já está bastante claro que o roteiro não se sustenta em 53 capítulos (número estipulado pela emissora antes mesmo da estreia).

A saga de Maria (Alice Wegmann, totalmente entregue) na fictícia Sertão, iniciada após o sumiço de seu irmão gêmeo (Nonato – Marco Pigossi), despertou logo o interesse de quem assistia. O desespero daquela menina em achar seu grande parceiro de vida envolveu e resultou em intensas cenas na primeira semana de história. A sua relação com Hermano (Gabriel Leone) transbordou química, enquanto a parceria com Cássia (Patrícia Pillar) expôs um genuíno amor entre mãe e filha.

Já o ódio entre a protagonista e o poderoso Pedro Gouveia (Alexandre Nero) – principal suspeito da morte do rapaz – é o grande elemento de tensão da trama, até porque a menina se apaixonou pelo filho do algoz, sendo correspondida.
Um conjunto de elementos que desperta atenção, sendo necessário ainda citar o inescrupuloso Ramiro (Fábio Assunção) – juiz que se aproveita do sumiço de Nonato para se aproximar de Cássia e atrapalhar a vida de Pedro, seu grande rival -, o asqueroso Plínio (Enrique Diaz), delegado que assedia mulheres e abusa de seu poder sempre que pode, e o reprimido Ramirinho (Jesuíta Barbosa), filho do poderoso juiz que incorpora a sensual Shakira do Sertão à noite, escondendo sua orientação sexual de todos.

Entretanto, o enredo vem se arrastando e quase nada de relevante tem acontecido. Após a primeira semana eletrizante, onde Maria iniciou sua saga em busca de justiça pelo irmão desaparecido e até sofreu uma tentativa de estupro, matando o capanga de Pedro, a “supersérie” parece que estagnou. A protagonista segue fugindo de seus agora inimigos e as cenas já estão repetitivas. Sempre alguém acha Maria e ela foge para outro lugar, enquanto Cássia se lamenta e Ramiro a corteja. Hermano se envolveu com Valquíria (Carla Salle) e Ramirinho anda avulso no roteiro, sofrendo chantagem do delegado, que descobriu seu segredo. Até mesmo o promissor enredo em cima de Rosinete (Débora Bloch), esposa religiosa de Pedro, e a filha Aurora (Lara Tremouroux), que sofre de lúpus, não se desdobra.

Outro personagem que parecia atrativo era Samir, interpretado magnificamente por Irandhir Santos. O religioso que abriga vários necessitados e ajuda doentes com sua fé até agora não disse a que veio. Até ajudou Maria no início e tem sofrido ameaças de Ramiro para deixar seu terreno, mas nada além disso. Uma pena. A produção, aliás, tem poucos personagens e nesse caso acaba sendo um limitador em virtude do único foco da história ser a descoberta do responsável pelo desaparecimento de Nonato. Não precisava um elenco inchado, claro, até porque haveria o costumeiro desperdício de talentos, mas ao menos proporcionaria outros caminhos para o roteiro enquanto o foco central não é desvendado.

Não há estrutura para prender o telespectador e incentivá-lo a seguir acompanhando a trama. Quem assiste pode se dar ao luxo de perder uns cinco capítulos seguidos que não afetará em nada seu entendimento do enredo. E infelizmente esse fato tem sido constatado na audiência. A supersérie vem marcando entre 11 e 13 pontos quando exibida na segunda faixa, pós – Mister Brau, Carcereiros e Globo Repórter. A audiência também despencou às segundas, mas nesse caso há o fator término do fenômeno O Outro Lado do Paraíso, que alavancava bem os números entregando acima dos 45 pontos.

Onde Nascem os Fortes é uma produção de grande qualidade e os autores têm um respeitável currículo, vide as primorosas O Canto da Sereia, Amores Roubados e O Rebu. Todavia, o ritmo lento e os poucos acontecimentos realmente interessantes vêm prejudicando o andamento da trama das 23h. A impressão é de que tudo poderia ser contado em duas semanas ou em 20 capítulos. E os envolvidos nem podem mexer em nada porque a trama está praticamente finalizada – as gravações estavam adiantadas e poucas cenas ainda restavam. Portanto, resta torcer apenas para que novas viradas ou maiores conflitos estejam presentes no enredo futuramente, surpreendendo o telespectador.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor