Antes mesmo de estrear, O Outro Lado do Paraíso despertou uma curiosidade a respeito da abordagem do nanismo. Afinal, pela primeira vez uma novela teria uma anã no elenco fixo e não haveria qualquer característica cômica. Walcyr Carrasco prometeu explorar algo novo na teledramaturgia e a expectativa acabou gerada. No início, o enredo de Estela (Juliana Caldas) realmente despertou interesse. Entretanto, com o tempo, a situação foi se desgastando e se perdeu.
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No primeiro mês de novela, a personagem sofria nas mãos da mãe, a maquiavélica Sophia (Marieta Severo), que nunca tolerou ter uma filha anã. Tanto que, no passado, a vilã despachou a filha para o exterior com o intuito de não mostrá-la para os amigos influentes, deixando bem explícita a vergonha da sua caçula. A menina acabou estudando e virou uma pessoa esclarecida e bem-sucedida. Anos depois, voltou ao Brasil para o casamento do irmão, Gael (Sérgio Guizé), resolvendo permanecer no país. Desde então, passou a sofrer várias humilhações da mãe.
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A única amiga de Estela é a empregada Rosalinda (Vera Mancini), que a criou desde pequena. E Gael, apesar do péssimo histórico com mulheres, é um irmão amoroso. Pouco depois da mudança de fase e da passagem de tempo de dez anos, Sophia expulsou a filha de sua mansão, a colocando em uma casa simples no interior de Palmas, bem longe dela. O local, então, acabou virando o núcleo da personagem, que se mudou com a fiel escudeira.
Lá, conheceu o doce Juvenal (Anderson Di Rizzi) e inicialmente se apaixonou, sendo correspondida. Porém, ao se deparar com o interesseiro Amaro (Pedro Carvalho), logo dispensou o pretendente anterior, ficando com o segundo.
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Foi a partir desse contexto que o perfil se perdeu de vez. Estela passou a viver enclausurada na casa junto com Rosalinda e sempre conversando a respeito de Amaro, fazendo questão de desprezar Juvenal. A única função da personagem era esperar o pretendente e recebê-lo com um bolo, jogando conversa fora. Seu único intuito era casar e ser feliz. A forma infantil como é tratada por Rosalinda também começou a piorar, nem parecendo que é uma adulta estudada. As cenas ficaram repetitivas e desconexas do restante da novela. Até mesmo o romance delicado que parecia ter com Juvenal acabou destruído em virtude do tratamento grosseiro para com ele. A filha de Sophia virou uma mimada irritante.
O preconceito em torno do nanismo e todas as possibilidades que essa condição poderia render no roteiro foram desperdiçadas em um triângulo amoroso que não se sustentou. O autor poderia mostrar como os anões podem ser independentes e bem resolvidos, ignorando os olhares tortos, ou então expor as dificuldades que todos têm em banheiros públicos, lojas e qualquer local frequentado por pessoas “normais”. Mas nada disso foi feito. Até mesmo as cenas de crueldade da Sophia rendiam mais, explorando a fragilidade da menina em lidar com rejeição. Ao afastá-la do núcleo principal, até essa situação se esvaziou.
Após meses de cenas repetitivas e que nada acrescentavam ao roteiro, finalmente o enredo de Estela pareceu andar. Ao ser desmascarado por Sophia, que deixou bem claro a sua intenção de não deixar herança alguma para a filha caso ela se casasse, Amaro terminou o relacionamento e foi embora. A personagem, então, acordou e percebeu que estava com um interesseiro. A partir desse término, Estela promete ser uma pessoa mais ativa e dona de si. Até discurso sobre a felicidade de uma mulher não estar ligada a um homem teve. A menininha frágil e boba aparenta ter ficado definitivamente para trás. Ou seja, o autor se deu conta do erro que cometeu com essa personagem.
A presença de uma anã no elenco de O Outro Lado do Paraíso prometia muito, mas infelizmente se tornou uma decepção. Todo o contexto que envolve o nanismo acabou não explorado e o potencial do papel se diluiu. No entanto, essa recente virada na trajetória de Estela pode melhorar o futuro da personagem. Ela, por exemplo, virará professora das prostitutas no bordel da cidade, alfabetizando adultos. Que ao menos a partir de agora a condução da filha de Sophia seja feita de forma competente. A novela vai até maio. Portanto, ainda tem tempo para conserto. Que seja antes tarde do que nunca.