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A trajetória de Ivana sempre foi um dos maiores atrativos de A Força do Querer, reprisada atualmente na Globo. Isso antes mesmo da estreia da trama de Glória Perez. Afinal, a autora resolveu abordar um tema complexo, polêmico e ousado: a transexualidade. A transição de uma menina que vira menino nunca havia sido exposta na ficção e o contexto ainda despertou curiosidade em virtude da atriz escolhida: uma estreante. Portanto, tudo resultou em um chamariz para o folhetim. E o conjunto se mostrou um acerto desde o começo, sempre funcionando como um conflito de grande destaque, expondo o imenso talento de Carol Duarte.
Todas as angústias daquela garota que nunca se sentiu à vontade com o próprio corpo foram exploradas com precisão pela autora, que se preocupou em fazer o público se compadecer pelos dramas da filha de Joyce (Maria Fernanda Cândido). A tristeza por não se adequar aos padrões, a indignação de ser cobrada por uma vaidade que nunca teve, o incômodo que seus seios sempre lhe causaram, o desconforto que as roupas femininas provocavam; enfim, tudo foi sendo exibido aos poucos, sem atropelos. O tempo foi fundamental para deixar a situação cada vez mais familiar para o telespectador, que foi entendendo o que estava acontecendo com ela.
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E, em todos os momentos, Carol Duarte brilhava. Impressionante a sua dedicação e total entrega ao papel, valorizando cada sentimento daquela menina que procura uma identidade. Foram muitas grandes cenas protagonizadas pela intérprete, sendo necessário destacar o instante em que Ivana se bateu e quebrou o espelho, demonstrando ódio profundo pelo que é, querendo sair de dentro do seu próprio corpo.
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Não teve texto, apenas o trabalho corporal primoroso da atriz. E outro grande momento foi a descoberta do que ela era, após ter se encontrado com um transgênero, ouvindo uma história quase igual a sua. O sorriso de alívio diante do mesmo espelho, que antes era um inimigo, representou uma liberdade tão aguardada.
Em uma das melhores cenas, a personagem reuniu a família para finalmente contar o que sempre sentia. O desespero de Ivana em mostrar para todos o que ela realmente é, um homem, foi defendido com uma entrega impressionante. Foram cenas muitos densas e carregadas de drama, sendo necessário também aplaudir Dan Stulbach e Maria Fernanda Cândido, simplesmente espetaculares expondo o estado de choque de Eugênio e Joyce com a notícia dada pela filha de que ela era um trans.
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Após esse momento tão dramático, veio outra sequência muito esperada: a mudança de visual de Ivana. A cena em que a desnorteada menina cortou seu cabelo, desesperada em ver o menino que sempre esteve dentro dela, foi espetacular, provocando um choro libertador em Ivana e um choro de desespero de Joyce, sem saber como agir diante da atitude da filha. Depois desse momento tão tenso, a transgênero foi ao cabeleireiro para finalizar o que já tinha começado em casa, se enxergando finalmente como queria. A cena foi delicada, tendo a linda De Toda Cor (Renato Luciano) como tema.
A personagem sempre carregou uma carga dramática pesada, exigindo muito da intérprete. Tanto que Ivana raramente sorri. Está sempre com uma expressão mais fechada, como se fosse um bicho acuado. A única pessoa que consegue deixá-la à vontade é Simone (Juliana Paiva), sua prima e melhor amiga. A parceria das atrizes é ótima, valorizando os momentos de desabafo da irmã de Ruy (Fiuk).
Recentemente, ela se aproximou de Nonato (Silvero Pereira) e essa dupla era bastante aguardada pelo público na época, muito em virtude da similaridade que os une (o preconceito da sociedade) e a questão que os difere – o motorista gosta do seu corpo e ama se vestir de mulher, pois é um travesti, enquanto ela é um homem que nasceu no corpo de uma mulher. A autora traçou um paralelo muito consistente entre os perfis ao longo do enredo e acertou ainda mais ao aproximá-los. Carol e Silvero foram as grandes revelações da trama e ficaram ótimos juntos.
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Vale elogiar, ainda, todos os ótimos embates entre Ivana e Joyce, destacando a novata e Maria Fernanda Cândido. Dan Stulbach também é um grande parceiro da então estreante, protagonizando sempre cenas delicadas, demonstrando um lado amoroso de Eugênio, que é bem mais compreensivo que a esposa, embora tenha se chocado tanto quanto na hora da revelação. Cláudia Mello é mais uma talentosa atriz que contracena com Carol, sendo necessário citar o lindo momento em que Zu flagrou a menina saindo de casa e recebeu um abraço de despedida – despedida da antiga Ivana.
Carol Duarte enfrentou uma missão desafiadora em sua estreia na televisão e o começo de trajetória não poderia ter sido melhor. Glória Perez foi muito feliz ao confiá-la esse papel tão difícil em A Força do Querer e Ivana marcará a carreira dela para sempre. As cenas foram muito bem vivenciadas pela profissional e é uma pena que até agora ainda não tenha recebido outro bom papel na televisão – a personagem do fracasso O Sétimo Guardião (2019), uma prostituta gaga, naufragou junto com o folhetim. Que venham novos desafios.