Traição e cenoura: novela da Globo ficou marcada por bastidores picantes

Mário Gomes e Betty Faria em Duas Vidas

Mário Gomes e Betty Faria em Duas Vidas

Há exatamente 47 anos, em 13 de dezembro de 1976, a Globo lançava na faixa das oito a novela Duas Vidas, escrita por Janete Clair. A autora, considerada uma das maiores novelistas brasileiras, já havia emplacado vários sucessos, mas Duas Vidas acabou não tendo grande destaque em sua galeria de obras.

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Mário Gomes e Betty Faria em Duas Vidas

Aliás, a novela se destacou pelos motivos errados: a trama teve bastidores conturbados, inclusive com detalhes “picantes” envolvendo seu elenco. A protagonista Betty Faria e o diretor Daniel Filho acabaram se envolvendo em um escândalo na época.

Folhetim realista

Isabel Ribeiro e Stepan Nercessian em Duas Vidas (Divulgação / Globo)

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Com Duas Vidas, Janete Clair tentava consolidar uma fase “realista” de sua carreira. A autora, até então, era adepta do folhetim rasgado e fantasioso. Mas, com Pecado Capital (1975), ela iniciava um estilo mais “pé no chão”. Duas Vidas nasce dentro deste contexto.

A trama mostra a vida de cariocas que são desapropriados do bairro do Catete por conta de uma obra para a construção de um metrô, fazendo uma crítica social quanto ao impacto do progresso na vida das pessoas. Uma das famílias desapropriadas é a de Grego (Sadi Cabral), que vai viver no apartamento que o filho Tomás (Cecil Thiré) mora com a esposa Leda Maria (Betty Faria).

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Mas, após a morte de Tomás, Leda se vê envolvida com o médico Vitor Amadeu (Francisco Cuoco) e também com o aspirante a cantor Dino César (Mário Gomes), seu amor de juventude. Mas o artista se aproxima de Cláudia (Susana Vieira), a dona de uma gravadora.

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Escândalo

Betty Faria

Duas Vidas teve uma recepção morna por parte do público. No entanto, os bastidores conturbados da trama abasteceram os jornais e as revistas de fofoca. Na época, surgiram comentários sobre um romance entre Betty Faria (foto acima) e Mário Gomes, iniciado durante as filmagens do longa O Cortiço.

Daniel Filho, diretor da novela que era casado com Betty na época, acabou abandonando a produção. Com isso, Gonzaga Blota e Jardel Mello assumiram a condução da trama às pressas.

Depois disso, Mário Gomes ainda se viu em meio a mais uma fofoca. O jornal Luta Democrática publicou que o galã havia dado entrada em um hospital com uma cenoura entalada no ânus. De acordo com o site Teledramaturgia, do pesquisador Nilson Xavier, a fofoca teria partido de Carlos Imperial, produtor musical e cineasta.

Mário Gomes (Reprodução / Instagram)

O boato seria uma vingança de Imperial contra Gomes (foto acima). Isso porque, em 1976, o cineasta espalhou pela cidade cartazes do ator vestido de mulher para divulgar o filme O Sexo das Bonecas. Mário Gomes não teria gostado da ação e entrou na Justiça, conseguindo o recolhimento dos cartazes.

 

Censura

Autora Janete Clair (Reprodução / Web)

Além de todo o quiprocó envolvendo Daniel Filho, Betty Faria e Mário Gomes, Duas Vidas ainda foi alvo da censura. O Brasil ainda vivia na Ditadura Militar e Janete Clair fazia justamente uma crítica às obras do metrô, que eram do Governo Federal.

A censura implicou com vários pontos da trama, como o romance entre a madura Sônia (Isabel Ribeiro) e o jovem Maurício (Stepan Nercessian). Tudo isso fez os censores cravarem que Duas Vidas era subversiva e atentava contra a moral e os bons costumes.

Janete Clair, incomodada, mandou uma carta ao à Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal:

“Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada em face dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas. Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores. De fato não posso entender que conceitos morais ou de qualquer natureza possam determinar a proibição de um romance de amor entre um jovem e uma mulher madura, ambos solteiros. (…) Não posso entender igualmente o porquê da proibição de outra cena em que o dono de uma casa de móveis reclama contra a poeira produzida pelas obras do metrô, que lhe emporcalha os móveis e afugenta a freguesia, quando todos nós sabemos dos transtornos ocasionados por essa obra pública (…)”, escreveu a novelista.

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