Há 11 anos produzindo novelas infantis, o SBT enfrenta o desgaste do gênero. A Infância de Romeu e Julieta, a trama atual, além dos problemas que apresenta pela falta de estrutura folhetinesca, aponta para um cansaço do tema.

João Baldasserini como Daniel em A Infância de Romeu e Julieta
João Baldasserini como Daniel em A Infância de Romeu e Julieta (reprodução/SBT)

Mesmo com o grandioso fiasco acometendo o projeto milionário que conta ainda com a coprodução da gigante Amazon, não existe plano para o canal retomar a dramaturgia adulta.

No que depender de Iris Abravanel, autora de seis dos sete títulos infanto-juvenis que a rede de seu marido produziu nos últimos anos, ela não volta a escrever para adultos.

“Criança é tão gostoso, mais lúdico. Eu já fui professora primária, então, eu lidava com criança, já tinha aquela coisa mais lúdica. Em Poliana Moça, eu coloquei até o Pinóquio no meio, para também ter mais histórias. Não dá para se deter só no livro, tem que criar mais, tem que trazer para os dias atuais”, disse ao site da Caras, em 25 de abril deste ano.

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Novelas para adultos

Iris Abravanel
A autora Iris Abravanel (Reprodução/web)

Mas a escritora disse isso poucos dias antes da estreia de seu último trabalho no SBT, que estreou em 8 de maio deste ano.

A Infância de Romeu e Julieta, que já recebeu em baixa do também fracasso Poliana Moça (2022), derrubou mais ainda os índices do horário destinado a produções nacionais inéditas do canal.

Vale recordar que nenhuma trama dedicada ao público adulto de autoria da Abravanel emplacou. Revelação (2008) e Vende-se um Véu de Noiva (2009), também penaram com baixíssimos índices, o que pode indicar um trauma para ela.

Só que Romeu e Julieta é responsável pelos piores índices da dramaturgia da rede desde Corações Feridos, também escrita por Íris e finalizada em maio de 2012.

A nova trama infantil, que é uma adaptação “sem tragédia” do clássico de William Shakespeare, estreou com baixos 6 pontos de média e, atualmente, luta para fechar com 4, que é o seu acumulado geral até o presente momento.

Tragédia anunciada

As Aventuras de Poliana - Sophia Valverde
Sophia Valverde em As Aventuras de Poliana (Reprodução / SBT)

Desde a produção de As Aventuras de Poliana, iniciada em 2018, que Iris e sua equipe desenvolvem sem descanso as telenovelas da rede paulista.

A insistência no mesmo gênero e na mesma equipe de redatores acarretou em uma excessiva repetição de temas, plots e personagens. Foi a materialização do prenúncio de que o modelo, mais cedo ou mais tarde, cansaria.

Poliana Moça e Romeu e Julieta demonstram falhas de concepção. Falta toda uma estrutura nas duas histórias que, ao contrário das primeiras tramas infantis, como Carrossel (2012) e Cúmplices de um Resgate (2015), não foram adaptações mexicanas. Faltam às “tramas originais” de Iris e sua equipe conflitos, clímax, e até mesmo a presença de vilões, algo óbvio e indispensável em um folhetim.

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Jogo do contente

A Infância de Romeu e Julieta - Miguel Ângelo e Vittória Seixas
Vittória Seixas e Miguel Ângelo, protagonistas de A Infância de Romeu e Julieta (Divulgação / SBT)

Para o canal, problema algum. A novela segue seus trabalhos normalmente, gravando capítulos a se perder de vista, o que é outro grande erro da teledramaturgia do SBT. Até agora, nada foi pensado para virar o jogo.

Enquanto isso, a sua principal aposta para sair da forte crise de audiência fracassa e registra menos ibope que os das tramas reprisadas à tarde. Uma delas, Sortilégio, que já está em sua terceira exibição em sete anos.

Como se fosse pouco, o título atual não repercute na internet, tampouco está entre os mais vistos da Prime Vídeo, além de registrar números pífios em todo o Brasil, de acordo com dados do PNT (Painel Nacional de Televisão).

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor