Dois programas completamente diferentes, mas que começaram com grande sucesso e hoje passam por um visível desgaste. O The Voice Brasil, da Globo, e o MasterChef, da Band, em suas atuais temporadas, mostram um visível declínio e já não atraem mais a mesma repercussão de outros tempos, embora ainda tenham audiências consolidadas e um público fiel. E razões como a superexposição e a falta de mudanças em suas fórmulas explicam bem esta perda de força.

Formato criado pela Talpa, empresa do holandês John De Mol (ex-Endemol), o The Voice chegou ao Brasil em 2012, sendo exibido às tardes de domingo e com um júri formado por Lulu Santos, Carlinhos Brown, Daniel e Cláudia Leitte. Não demorou para o programa cair nas graças do público, muito em função da força de candidatas como as cantoras Liah Soares, Ju Moraes e Ellen Oléria, vencedora da primeira edição.

Vozes marcantes, batalhas empolgantes e boas escolhas de júri e público marcaram esta temporada e também se viram no ano seguinte, quando a disputa musical foi transferida para as noites de quinta-feira e revelou nomes como Lucy Alves (que recentemente se destacou como atriz em Velho Chico).

No entanto, desde a terceira temporada (em 2014), o The Voice Brasil vem perdendo a força. As vozes não mais surpreendem, as escolhas dos jurados e do público decepcionam e chamam atenção pela incoerência. Nem mesmo as poucas trocas de técnicos feitas ao longo dos últimos anos (como a entrada de Michel Teló no lugar de Daniel em 2015 e a substituição de Cláudia Leitte por Ivete Sangalo neste ano) surtem efeito. Em meio a isso, outros programas musicais lançados pela Globo têm atraído mais atenção, como o já extinto Superstar (que revelava bandas) e o Popstar (com celebridades de outras áreas atacando de cantores).

O formato ganhou um novo fôlego com a criação da versão infanto-juvenil The Voice Kids (2016), exibida aos domingos, durante o começo do ano, com um júri formado por Ivete, Brown e a dupla Victor e Leo. Inúmeras crianças empolgaram com seus talentos e apresentações arrepiantes, com um repertório de altíssimo nível que andava em falta nas edições adultas.

Em função do sucesso, foi renovado para este ano e agora vai para sua terceira temporada, desta vez com uma grande alteração em seus técnicos: Cláudia Leitte assume o lugar de Sangalo, grávida de gêmeas, e Victor e Leo foram substituídos pelas sertanejas Simone e Simaria, após Victor ser afastado do programa depois da acusação de ter agredido sua esposa, em fevereiro deste ano. As três se juntam a Carlinhos Brown, que se divide entre os dois formatos.

Já o MasterChef, em 2014, foi uma agradável surpresa e logo se tornou o carro-chefe da Band, firmando de vez a presença dos realities de culinária no Brasil – um filão que já era explorado por Ana Maria Braga no Mais Você, com os quadros SuperChef Celebridades e o Jogo de Panelas, mas que apenas com o programa comandado por Ana Paula Padrão ganhou mais espaço e força, impulsionando inclusive as emissoras concorrentes, que lançaram produtos como o Hell’s Kitchen – Cozinha Sob Pressão (SBT) e a Batalha dos Confeiteiros (com Buddy Valastro, na RecordTV).

Com vários participantes disputando as mais diversas provas na cozinha, o MasterChef tem a seu favor o carismático e rigoroso júri formado por Paola Carosella (argentina), Erick Jacquin (francês) e Henrique Fogaça (brasileiro). A competência do trio faz deles uma atração à parte, mais do que os participantes ou a própria apresentadora. Também conta positivamente a ausência de votação popular, que diminui o risco de injustiças e, por si só, não faria sentido de existir em um reality culinário.

O êxito do MasterChef no Brasil rendeu quatro temporadas de sua versão principal e duas variações: o Kids (exibido em 2015) e o Profissionais (que estreou no ano passado e está no ar em sua segunda edição). É atualmente o programa em que a Band mais aposta, devido à sua boa produção e suas provas atrativas.

Ainda assim, o reality culinário também tem dado sinais de desgaste, por motivos diferentes do The Voice. O principal deles é sua exibição excessivamente longa, na extensão das temporadas, na duração dos programas e também no pouco espaço entre o fim de um e a estreia de outro.

Como exemplo, somando os períodos de exibição da 4ª temporada do MasterChef amador (começo de março e o fim de agosto deste ano) e da atual edição Profissionais (que estreou em setembro, duas semanas depois do anterior, e está prevista pra acabar em meados de dezembro), são praticamente 10 meses no ar e apenas 2 de descanso. Não dá nem tempo de sentir saudade.

Outro motivo que contribui para isto, de forma indireta, é o fracasso de outras apostas da Band. Entre elas, o programa de namoro À Primeira Vista, a versão brasileira do musical XFactor e o reality de sobrevivência Exathlon Brasil, gravado na República Dominicana e com coprodução turca.

Os três formatos não conseguiram emplacar e, no caso dos dois últimos, várias polêmicas envolveram seus bastidores. A pouca divulgação também prejudica que estes outros shows consigam crescer (aliás, os dois primeiros já foram cancelados).

Por todas estas razões, o The Voice Brasil e o MasterChef vêm enfrentando atualmente uma fase de desgaste, cansando parte do público. Os programas têm muitos méritos, como suas boas produções e – no caso do programa da Band – a escolha sem interferências populares. No entanto, a falta de maiores mudanças no reality musical global e a superdosagem do culinário da emissora paulista têm feito os dois shows perderem a força. Uma reformulação precisa ser feita para evitar que ambos se percam em definitivo.


Compartilhar.