Thaís Melchior não tem culpa da solução rasa do SBT em As Aventuras de Poliana

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A atual novela infantil do canal de Silvio Santos é um fenômeno de audiência. A trama é um sucesso absoluto desde a sua estreia, em 16 de maio, e até hoje nunca perdeu a vice-liderança no horário, marcando sempre por volta dos 15 pontos. Nem mesmo a tentativa de Record de retomar o segundo lugar com Jesus funcionou. E a produção merece o êxito. Íris Abravanel vem apresentando uma novelinha simpática e que agrada em cheio o público alvo. Tanto que a previsão é que acabe somente no fim de 2019. Porém, uma polêmica se deu no folhetim: a saída de uma atriz e a entrada de outra para viver uma das principais personagens.

A amargurada Luísa começou sendo interpretada pela talentosa Milena Toscano e a atriz caiu nas graças dos telespectadores em virtude da complexidade da personagem, que no início da novela parecia uma vilã sem sentimentos até se mostrar uma mulher fragilizada pelas feridas do passado. A personagem, aliás, é muito importante no livro Pollyanna (1913), best-seller de Eleanor Porter, clássico da literatura infanto-juvenil, cujo enredo é a base do folhetim do SBT. A poderosa mulher é tia de Poliana (Sophia Valverde) e se viu “obrigada” a cuidar da sobrinha quando os pais da menina faleceram.

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O que parecia um fardo, acabou virando uma bênção para a ranzinza ricaça. Aos poucos, as duas foram se aproximando e firmando um laço afetivo até então inesperado. A convivência com a alegria constante de Poliana, que ama usar o “Jogo do Contente” para enxergar o lado bom da vida, foi amolecendo o coração da tia Luísa, embora no começo a irritasse bastante. Todavia, Milena Toscano engravidou logo no início das gravações da novela.

Como vários capítulos já tinham sido fechados – a emissora sempre grava tudo com muita antecedência -, o SBT decidiu manter a atriz no elenco e depois simplesmente substituí-la por outra. Uma solução equivocada e preguiçosa. Afinal, mudar um ator ou uma atriz no meio de uma história é sempre um grave risco e as alternativas raramente funcionam. Ainda mais quando o perfil é de grande importância.

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A sintonia entre Milena e Sophia era visível e as cenas das duas eram as melhores da trama. A relação entre tia e sobrinha se encaminhava muito bem. Porém, o dia da substituição chegou e a troca das atrizes foi ao ar no capítulo do dia 25 de setembro. Saiu Milena e entrou Thaís Melchior, revelada na problemática temporada de Malhação de 2011 e cujos últimos trabalhos foram na Record – Vitória (2014), A Terra Prometida (2016) e Apocalipse (2017). A solução da autora foi rasa: Luísa resolveu mudar seu visual, deixando o tom mais sombrio de lado e adotando algo mais elegante. Na volta de um passeio no Shopping, já era Thaís vivendo a personagem. E assim ficou. Todos os personagens de seu núcleo se mostraram maravilhados com a nova aparência da ricaça.

Vários telespectadores, revoltados com a atitude da emissora, resolveram descontar na atriz. Thaís Melchior chegou a ser ameaçada de morte e precisou desativar suas redes sociais por um tempo. Isso porque já sofria vários ataques meses antes de substituir de fato Milena. O absurdo da situação expõe não só a imaturidade de parte do público, mas também a irresponsabilidade do SBT em torno de um contexto que poderia ser facilmente contornado. Afinal, a novela terá cerca de 400 capítulos. Um número exorbitante. Como é de praxe no canal, o enredo será espichado o quanto puder para aproveitar a boa audiência. E como As Aventuras de Poliana é o maior sucesso infantil da emissora desde a retomada do gênero, em 2012, a cúpula decidiu encerrá-la somente no final de 2019, como já mencionado. Ou seja, daria tempo suficiente para Milena curtir sua licença maternidade e voltar ao trabalho. Vide o caso da apresentadora Eliana, que enfrentou uma gravidez de risco e em menos de um ano estava de volta ao comando de seu programa.

Portanto, seria muito mais benéfico para o enredo inventar uma viagem para Luísa ou até um grave acidente (a deixando em coma, por exemplo), e colocar Thaís para viver uma prima distante da personagem com o intuito de preencher o vazio do principal núcleo da trama. Substituir uma pela outra, vivendo a mesma personagem, é abusar da boa vontade de quem assiste. A revolta do público é compreensível, mas os xingamentos e as ameaças a Thaís jamais. Ela não tem culpa de absolutamente nada. Está apenas fazendo seu trabalho, embora tenha adotado um tom mais bobo para um perfil que era bem firme. Esses telespectadores indignados deveriam cobrar satisfação da autora e do SBT. Não da intérprete.

Vale lembrar que o canal é reincidente. O outro caso, ironicamente, envolveu Sophia Valverde, hoje protagonista da atual trama. A menina foi escalada para substituir Duda Weindglin, que vivia a Dóris no remake de Cúmplices de um Resgate (2015). Ninguém sabe exatamente o que houve até hoje e a troca das atrizes sequer foi explicada no enredo. O caso não repercutiu tanto porque a personagem era relativamente pequena.

Até mesmo a Globo enfrentou essa questão em Império, exibida em 2014. Sem voz em virtude de uma forte rouquidão até hoje não muito bem explicada, Drica Moraes precisou ser afastada e Aguinaldo Silva chamou Marjorie Estiano para interpretar a vilã Cora, após a atriz tê-la vivido na primeira fase da história. A explicação dada foi “um rejuvenescimento mágico por xixi de jacaré” que a víbora ingeriu. A solução também ficou grotesca e mereceu críticas, ainda que a atriz tenha dado um show. A verdade é que trocar um ator por outro com um folhetim em andamento nunca dá certo.

O SBT só tem motivos para comemorar o sucesso de As Aventuras de Poliana, que chegou ao centésimo capítulo nesta terça, mas foi um erro grave não cogitar ter Milena Toscano de volta ao enredo depois de sua licença-maternidade. A longa duração da novela proporciona essa possibilidade. No entanto, como não há mais nada a se fazer, Thais Melchior merece respeito dos telespectadores indignados com a solução da emissora. Tia Luísa ganhou uma nova interprete. Ponto. E a culpa não é, e nunca foi, dela.


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