A novela das sete ainda não tem nem um mês no ar, mas já é possível afirmar com certa tranquilidade que a história de Mário Teixeira reúne as maiores qualidades de uma ótima novela das sete. Há carisma de sobra em vários personagens e a ideia de inserir uma família de 1886 em 2018 tem sido desenvolvida de maneira genial, resultando em cenas impagáveis. O contexto absurdo não implicou em algo ridículo, o que era um risco bem viável.

Muito pelo contrário, a trama tem um charme que faz o telespectador mergulhar naquela história com facilidade. E Mário foi feliz em descongelar os personagens aos poucos, aproveitando bem o choque cultural de cada um. A primeira foi Marocas (Juliana Paiva), que logo encantou o íntegro Samucas (Nicolas Prattes) e vem protagonizando momentos hilários ao lado do rapaz. A mocinha é uma das melhores personagens da novela e Juliana está irretocável, ainda mais com a quantidade de texto que precisa decorar. Impossível não se apaixonar por Maria Marcolina.

Já o segundo a despertar 132 anos depois foi Dom Sabino (Edson Celulari em grande momento, após ter sido desvalorizado em A Força do Querer). O patriarca da família Sabino Machado fez uma bonita amizade com Eliseu (Milton Gonçalves), um humilde catador de rua, e a dupla ainda tem muito para render, principalmente em cima da abolição da escravidão e dos resquícios de um passado não tão distante.

O encantamento do pai de Marocas com a elegante Carmem (Christiane Torloni) é outro show à parte, proporcionando sequências divertidíssimas protagonizadas por Edson e Chris. O choque com os biquínis da mãe de Samuca em um álbum de fotografia, por exemplo, foi de gargalhar.

A chegada de Dona Agustina (Rosi Campos) e das gêmeas Nico (Raphaela Alvittos) e Kiki (Nathalia Gonçalves), que acordaram na segunda semana da trama, deixou o conjunto ainda melhor, movimentando mais a história através de momentos inusitados. As cenas fluem bem e o núcleo familiar agora completo virou o elemento fundamental de O Tempo Não Para, implicando na criação de novos e promissores laços, vide a amizade recém-iniciada de Marocas e Paulina (Carol Macedo), filha de Eliseu. A curiosidade explicável da então enigmática doutora Petra (Eva Wilma) e a preocupação da psiquiatra Helen (Rafaela Mandelli) também prometem bons desdobramentos, assim como a ambição dos interesseiros Emílio (João Baldasserini) e Mariacarla (Regiane Alves).

Aliás, os demais ‘naufragados’ já estão despertando e concluindo essa etapa do roteiro. Os ex-escravos Menelau (David Junior) e Cesária (Olívia Araújo) se depararam com um mundo pós-abolição e esse contexto promete bastante. O interesse de Helen em apoiar Menelau, inclusive, pode render um futuro bom casal, caso o autor invista. E a chegada de Teófilo (Kiko Mascarenhas) à ilha onde moram os biólogos Marino (Marcos Pasquim) e Monalisa (Aleandra Richter) ficou interessante por ter sido diferente dos colegas de navio. Ele foi o único que não foi encontrado congelado e ainda se viu desmemoriado. O perfil também tem tudo para se destacar.

Os choques temporais, claro, são os maiores trunfos do folhetim e até agora vêm resultando em cenas engraçadíssimas e repletas de críticas sociais. Não é possível saber se haverá fôlego para esse tipo de situação até o final da história, mas é inegável que o estranhamento dos personagens de outro século com os novos costumes é o maior charme da produção. O texto de Mário Teixeira tem sido inspirado, aproveitando os protagonistas e criando momentos que divertem e entretêm quem assiste. Também tem sido útil para contar um pouco sobre a história do Brasil através das falas do pai de Marocas. Vale citar ainda o show de Christiane Torloni na pele da hiperativa Carmem. A atriz nunca esteve tão engraçada em uma novela. O curioso é que sua comicidade está nas reações aos atos intempestivos de Dom Sabino.

O Tempo Não Para merece todos os elogios que vêm recebendo e a audiência corresponde ao que está sendo apresentado ao público. É o maior sucesso da faixa das sete dos últimos onze anos, conseguindo uma média em torno de 29 pontos antes mesmo de completar um mês no ar. Resta torcer para seguir com essa boa condução pelos próximos meses.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor