André Santana

Ao optar por reduzir a duração da reprise de A Favorita no Vale a Pena Ver de Novo, a ideia da direção da Globo era focar no núcleo principal, o mais forte da trama de João Emanuel Carneiro. As tramas paralelas, consideradas o ponto fraco do enredo, teriam seu espaço reduzido. Com isso, a novela ficou mais ágil e a audiência até reagiu.

A Favorita

No entanto, a emissora levou a proposta a sério demais no último capítulo e deixou o final da trama um tanto capenga. A edição do Vale a Pena Ver de Novo retalhou drasticamente o último episódio e deixou de fora qualquer personagem que não participou da ação principal do enredo. Com isso, coadjuvantes importantes foram simplesmente ignorados.

Catarina (Lilia Cabral), por exemplo, era uma das poucas coadjuvantes que tinha uma história quase tão forte quanto a principal. A dona de casa protagonizou uma trajetória de transformação, ao passar de mulher submissa à dona do próprio nariz, tomando as rédeas de sua vida e se permitindo passar por novas experiências. A reprise mostrou isso, mas deixou de fora justamente seu desfecho, um momento-chave da personagem.

Grito de liberdade ficou de fora

A Favorita

Na reta final, Catarina engatava um romance com Vanderlei (Alexandre Nero), que insistia em se casar com ela. Mas ela logo percebe que repetiria sua própria história ao aceitar o pedido e toma uma atitude drástica: termina com o verdureiro e aceita o convite de Stela (Paula Burlamaqui) para uma viagem à Argentina. Pois esse grito de liberdade da personagem ficou de fora do final. Ficou estranho.

Suprimir a última cena de Catarina deixou a história sem sentido. Afinal, mesmo optando por enxugar as tramas paralelas na reprise, a dona de casa continuou tendo um grande espaço na obra. Sendo assim, a personagem merecia que seu final fosse mostrado.

Família Copola ignorada

Clarice Falcão

Outros desfechos importantes da família Copola também não foram exibidos. Na última cena de Mariana, vivida por Clarice Falcão (foto acima), por exemplo, fica subentendido que a menina era estuprada pelo próprio pai, Léo (Jackson Antunes). Ao deixar a cadeia, o malandro procura a filha, que o ignora e diz que ele não fará com sua filha o que fez com ela. A sequência não foi exibida.

Também não foi ao ar a cena do casamento de Cida (Claudia Ohana) e Juca (Bento Ribeiro), que simbolizava o fim da crise da família ao mostrar que Lorena (Gisele Fróes) voltou às boas com Átila (Chico Diaz). Até Cassiano (Thiago Rodrigues) foi ignorado: a novela não mostrou que ele reatou com Alícia (Taís Araújo).

Por fim, o final de A Favorita também não mostrou o parto do filho de Maria do Céu (Deborah Secco). Porém, neste caso, a sequência era tão irrelevante e tola que não fez a menor falta…

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor