Terremoto salvou ator que se meteu a escrever novela na Globo
04/01/2022 às 9h50
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Há 54 anos, terminava Anastácia, a Mulher Sem Destino, novela estrelada por Leila Diniz que entrou para a história não porque tenha feito sucesso (pelo contrário), mas porque marcou a estreia de Janete Clair na Globo com um terremoto.
Exibida entre de 28 de junho e 16 de dezembro de 1967, o ponto de partida da trama foi o folhetim francês “A Toutinegra do Moinho”, de Émile de Richebourg. Porém, a novela guarda poucas semelhanças com o original.
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Quando Glória Magadan, que supervisionava o núcleo de dramaturgia da Globo na época, apresentou a proposta da novela a Boni (José de Oliveira Bonifácio Sobrinho, diretor artístico da emissora), ele imaginou que fosse uma adaptação do filme Anastácia, a Princesa Esquecida – de 1956, com Ingrid Bergman – sobre a suposta única sobrevivente da família do último czar russo, Nicolau II.
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Apesar de algumas semelhanças na trama, a novela nada tem a ver com a história da filha do czar.
Problemas em excesso
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Anastácia vinha sendo escrita pelo ator Emiliano Queiroz (foto acima) – em sua única incursão no gênero –sem repercussão, apesar da produção onerosa (de época com elenco numeroso).
Sem nenhuma técnica, o autor começou a se perder na história e, na tentativa de emplacar na audiência, que não parava de cair, passou a criar cada vez mais novos personagens, empregando seus amigos atores.
Por volta do capítulo 40, Janete Clair, em sua estreia na TV Globo, foi convocada por Glória Magadan para continuar a história.
A frase de Magadan para Janete virou lenda nos corredores da emissora:
“Eu tenho um abacaxi para você!”.
Salto no tempo e terremoto
Janete resolveu recomeçar do zero. Para tanto, idealizou um terremoto que matou a maioria dos personagens – por descuido, eliminou o que sabia o segredo da novela.
A história então recomeçou com um salto de 20 anos na ação e apenas quatro personagens: os interpretados por Leila Diniz, Henrique Martins, Ênio Santos e Mírian Pires.
Leila Diniz passou a interpretar dois papéis: Anastácia, sua personagem original, e a filha dela, Henriette, que, depois, ganhou outro nome na trama, Rose. Os outros três sobreviventes envelheceram vinte anos.
Um novo elenco e uma nova trama formaram o resto da novela que ainda ficou no ar por um bom tempo.
Anastácia não foi um estouro de audiência, mas Janete Clair deu um destino coerente à protagonista e garantiu sua permanência na Globo, de onde nunca mais se desligou.
Explosão no shopping
Em 1998, mais de trinta anos depois do terremoto da novela, Silvio de Abreu promoveu em Torre de Babel a explosão de um shopping center (prevista no roteiro) que levou embora vários personagens que não haviam caído no gosto do público.
Foi uma das tentativas para levantar a audiência da novela, tal qual Anastácia, A Mulher Sem Destino.
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Esta foi a primeira das oito novelas consecutivas que Janete Clair escreveu para a Globo, ininterruptamente, entre 1967 e 1972.
As seguintes foram Sangue Areia, Passo dos Ventos, Rosa Rebelde, Véu de Noiva, Irmãos Coragem, O Homem que Deve Morrer e Selva de Pedra – com o agravante de Irmãos Coragem ter valido por duas: ficou mais de um ano no ar.
Ainda: enquanto redigia os últimos capítulos de Passo dos Ventos e os primeiros de Rosa Rebelde, Janete encontrou tempo para, escondida da Globo, escrever a novela Os Acorrentados, para a TV Rio.
Lamentavelmente não existem mais registros de Anastácia, A Mulher Sem Destino, apagados porque as fitas foram reutilizadas (prática comum na época) ou porque perderam-se em um dos incêndios na TV Globo (1969, 1971 e 1976).
AQUI tem tudo sobre Anastácia, A Mulher Sem Destino: trama, elenco, personagens e mais curiosidades.