Há exatamente 54 anos, no dia 28 de junho de 1967, a então novata Globo colocava no ar uma verdadeira bomba. Estreava nessa ocasião a novela Anastácia, a Mulher sem Destino, considerada uma das mais problemáticas tramas já exibidas pelo canal e que contou com um terremoto para eliminar boa parte do numeroso elenco e tentar salvar a história.

A produção estreou na Globo, que tinha apenas dois anos de existência, em 28 de junho daquele ano. Era a época das novelas de capa e espada, com histórias rocambolescas, supervisionadas por Glória Magadan (1920-2001).

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Escrita pelo ator Emiliano Queiróz, o eterno Dirceu Borboleta de O Bem Amado (1973), Anastácia era baseada no folhetim francês A Touti Negra do Moinho. A história se passava na Rússia após o fim do czarismo.

Anastácia, vivida por Leila Diniz (1945-1972), era uma moça pobre que ignorava quem era seu pai. Posteriormente, descobriu que era a filha caçula do último czar russo, Nicolau II. A trama era ambientada em uma ilha vulcânica das Antilhas, onde Anastácia se refugiava após a descoberta de seu passado, escondendo sua identidade.

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O público não entendeu o enredo, confuso e longe da realidade brasileira, o que era comum nas atrações daquela época. Além disso, existiam muitos personagens, o que dificultava o desenvolvimento da história.

Cabide de empregos

A jornalista Rose Esquenazi fez uma reportagem sobre os acontecimentos da novela no Jornal do Brasil de 16 de julho de 1994. “No capa e espada de Emiliano iam entrando todos os amigos desempregados e conhecidos que pediam uma forcinha. Só que, com tanta gente na trama, o autor acabou se confundindo e ninguém, muito menos o público, conseguiu entender a história”, relatou.

Com os baixos índices de audiência e muitas reclamações por meio de telefonemas e cartas, a emissora teve que tomar uma atitude: afastou Queiróz e chamou Janete Clair (1925-1983) para dar um jeito. A autora já era reconhecida naquela época, escrevendo novelas para as rádios Nacional e Tupi.

Em seu primeiro trabalho na Globo, Janete criou um terremoto na ilha em que Anastásia se refugiava, eliminando mais de cem personagens de uma só vez.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, o dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), que era casado com Janete Clair, disse que eles leram juntos os 50 primeiros capítulos e ficaram pensando no que iam fazer. “Brincando, dissemos que precisávamos colocar uma bomba para acabar com aquela gente. Como a trama se passava numa ilha, achamos que um terremoto seria mais adequado”, comentou.

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A partir daí, a história dá um salto de 20 anos, recomeçando com apenas sete personagens, entre eles Ênio Santos (1922-2002), Miriam Pires (1926-2004), Henrique Martins e Leila Diniz, que, além de Anastácia, acumulou o papel de filha da protagonista.

Dentro do possível, a audiência subiu, a novela terminou no dia 16 de dezembro de 1967 e Janete ganhou a confiança dos diretores da emissora, sendo contratada em definitivo. O final dessa história todo mundo já sabe: ela se tornou um dos grandes nomes da teledramaturgia nacional.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor