Tempo de Amar chegou ao fim na última segunda-feira (19/03) e um de seus problemas foi a condução do casal protagonista. Os mocinhos não tiveram química e Alcides Nogueira não soube reverter o jogo, deixando Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) separados quase a novela toda. E os mocinhos não ficaram juntos no final, comprovando o fracasso do par. Vicente (Bruno Ferrari) roubou o posto de herói e ficou com o coração da mocinha no fim. Porém, esse não é o primeiro e nem será o último caso de pares principais que não deram certo na teledramaturgia.

Glória Perez, por exemplo, é a autora que mais sofreu desse mal. Ela não conseguiu emplacar vários mocinhos e o casal mais lembrado é Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia), em Caminho das Índias (2009). Apesar do clichê da mocinha rica não conseguir ficar com o mocinho pobre (ela era de uma casta superior a dele), o romance não emplacou. A química entre os atores foi nula e Márcio estava inexpressivo no papel, que ainda era bastante limitado. Aliás, um contexto bem semelhante ao de Tempo de Amar, pois a trama também teve uma boa audiência, apesar desse fiasco.

O constrangimento da situação, por sinal, foi inevitável. O personagem praticamente sumiu do enredo e ganhou uma namorada (vivida por Thaila Ayala) perto da reta final, casando-se com ela em uma cena de menos de quinze segundos no último capítulo. E era o retorno de Márcio à Globo após um longo período na Record, onde apresentou O Melhor do Brasil com muito êxito. Uma volta desastrosa.

O público acabou conquistado pelo romance de Maya e Raj (Rodrigo Lombardi), que virou o centro das atenções. Porém, esse caso não foi um desafio para a autora, pois Glória havia passado pela mesma situação em seu folhetim anterior.

Em América (2005), a escritora enfrentou diversos problemas e um deles foi o insosso casal formado por Sol (Deborah Secco em seu pior momento na carreira) e Tião (Murilo Benício). Os mocinhos não tiveram a menor sintonia e a protagonista do enredo sobre imigração ilegal era insuportável, virando motivo de deboche do público e da crítica.

Chorona e voluntariosa, Sol não despertou a menor simpatia do telespectador e a interpretação da atriz também não ajudava, totalmente insegura no papel. A solução foi juntá-la com o simpático Ed (Caco Ciocler), com quem teve um bom entrosamento, e colocar o peão com a veterinária Simone (Gabriela Duarte), outro casal que funcionou bem melhor.

Aguinaldo Silva também teve que mudar o rumo de seu enredo em 2011, quando escreveu a tosca Fina Estampa. O casal idealizado por ele não deu certo e nunca chegou a despertar torcida por um final feliz. Griselda (Lília Cabral) e Renê (Dalton Vigh) não tiveram sintonia e até as armações da vilã Tereza Christina (Chistiane Torloni) para separá-los eram desinteressantes. Tanto que quem roubou a cena na novela foi o caricato Crô (Marcelo Serrado), único personagem lembrado até hoje. A solução do autor foi juntar o “Pereirão” com Guaracy (Paulo Rocha) e Renê com Vanessa (Milena Toscano). Porém, nem esses outros pares deram certo. Mostraram-se tão insossos quanto.

Manoel Carlos foi outro escritor que enfrentou problemas com seus protagonistas. Viver a Vida foi um dos piores folhetins do autor e um dos muitos erros da trama era a péssima Helena construída por ele. A primeira protagonista negra de Maneco foi uma catástrofe e a própria Taís Araújo admite que viveu a pior fase de sua carreira nessa produção. O papel era ruim e a atriz atuou muito mal, demonstrando incômodo com a personagem passiva e indecisa.

O envolvimento de Helena com Marcos (José Mayer) não foi desenvolvido de uma forma atrativa e acabou despertando raiva do público, afinal, Helena largou sua carreira por ele e o mesmo passou a desprezá-la quando a filha, Luciana (Alinne Moraes), ficou paraplégica. Aliás, uma das cenas mais humilhantes dessa novela foi quando Helena se ajoelhou e pediu desculpas para Tereza (Lília Cabral), ex de Marcos, sendo esbofeteada por ela. A dita protagonista acabou ficando com o fotógrafo Bruno (Thiago Lacerda) no final, com quem também não teve química.

Silvio de Abreu, hoje responsável pelo setor de teledramaturgia da Globo, foi mais um no time dos que precisaram lidar com o fracasso dos mocinhos. Mauro (Rodrigo Lombardi) e Diana (Carolina Dieckmann) não emplacaram em Passione (2010) e a relação dos personagens era insossa e cansativa. Para culminar, Diana era um perfil pedante e perfeitinha demais, testando a paciência de quem assistia. A solução do autor foi simplesmente matar a personagem perto da reta final, juntando Mauro com Melina (Mayana Moura), que sempre foi apaixonada por ele e tinha um caráter duvidoso. O casal, ironicamente, funcionou bem melhor e Silvio admitiu em entrevistas que fracassou na construção de Diana.

Até em Malhação ocorreu esse tipo de problema. Na temporada de 2011, cujo subtítulo era Conectados, Cristal (Thais Melchior) e Gabriel (Caio Paduan) eram os mocinhos apaixonados e havia um mistério no ar a respeito do número 1046. Porém, o roteiro de Ingrid Zavarezzi foi rejeitado pelo público e, com o intuito de melhorar a audiência que só descia, a autora simplesmente transformou a mocinha em uma vilã psicótica, juntando o mocinho com a enigmática Alexia (Bia Arantes). Porém, nenhuma mudança conseguiu deixar a trama mais convidativa. Pelo contrário, o conjunto acabou ficando absurdo.

Outra temporada que fracassou com os mocinhos foi a de 2009, protagonizada por Bianca Bin e Micael Borges. Escrita por Patrícia Moretzohn, a história de amor entre a doce Marina e o barqueiro Luciano não vingou. Além da falta de sintonia, os personagens juntos eram chatos demais e os atores estavam claramente inseguros. Micael chegou a atuar pior que Bianca e foi sumindo do roteiro aos poucos. A autora resolveu, então, transformar o vilão Caio (Humberto Carrão) em mocinho, o aproximando de Marina. Eles realmente tiveram bem mais química e um final feliz, enquanto o então protagonista acabou voltando só no final e sem função.

Vale citar ainda a Malhação – Intensa, de 2012, escrita por Rosane Svartman e Glória Barreto. O protagonista Dinho (Guilherme Prattes) não foi bem desenvolvido pelas autoras e não deu para engolir o rapaz usando as duas melhores amigas, sem se importar com o rompimento da amizade delas. Afinal, ele se envolveu com Lia (Alice Wegmann) e Ju (Agatha Moreira), formando um triângulo repleto de mágoas e feridas.

A rejeição foi inevitável e a solução foi a retirada do personagem, que simplesmente viajou, sendo substituído por Vitor (Guilherme Leicam), que virou o par de Lia. Embora o personagem tivesse um desenvolvimento bem melhor e uma história atrativa, a interpretação do ator não ajudou muito. Quem acabou roubando a cena mesmo foi o casal “Brutinha”, destacando Juliana Paiva e Rodrigo Simas. Até mesmo o romance de Ju e Gil (Daniel Blanco) se mostrou mais convidativo.

E por falar em Juliana e Rodrigo, os dois acabaram formando um outro par em Além do Horizonte (2013), problemática novela das sete de Marcos Berstein e Carlos Gregório, justamente por causa do fracasso dos mocinhos. A atriz não teve química com Thiago Rodrigues e o par Lili e William não deu certo. A ideia dos autores foi juntá-la com Marlon, aproveitando a química dos intérpretes vista no seriado adolescente. E acabou sendo uma ótima ideia.

Vale observar, ainda, o caso de Joana (Aline Dias) e Gabriel (Felipe Roque), em Malhação – Pro Dia Nascer Feliz (2016), que fracassou desde o início e o autor Emanuel Jacobina resolveu juntá-la com Giovani (Ricardo Vianna), deixando o mocinho com a vilã redimida, Bárbara (Bárbara França). Porém, nenhuma solução deu certo. Os novos casais foram tão ruins quanto os protagonistas iniciais…

Entretanto, há também muitos casos de mocinhos que fracassaram e ainda assim ficaram juntos no fim, não tendo o desfecho alterado. Gilberto Braga, por exemplo, é um autor que raramente emplaca mocinhos em suas obras. É um autor hábil em criar vilões, não bonzinhos. Vide o fraquíssimo par formado por Marina (Paolla Oliveira) e Pedro (Eriberto Leão) em Insensato Coração (2011), ou o insosso casal Maria Clara (Malu Mader) e Fernando (Marcos Palmeira), em Celebridade (2003), sendo reprisada atualmente no Vale a Pena Ver de Novo.

O autor também fracassou com Paula (Alessandra Negrini) e Daniel (Fábio Assunção), em Paraíso Tropical (2007), ofuscados totalmente pelos vilões Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura). Sua última novela, a problemática Babilônia (2015), sofreu com os mocinhos Regina (Camila Pitanga) e Vinícius (Thiago Fragoso), que tiveram química nula. Um caso mais recente também pôde ser visto em Pega Pega, com Eric (Mateus Solano) e Luiza (Camila Queiroz), escrita por Cláudia Souto. Casal sem sintonia e sem enredo que acabou junto, mas sem importância na história.

Walcyr Carrasco tem bem mais sorte com seus protagonistas, mas até ele já precisou enfrentar essa questão, pois não foi feliz com Filó (Débora Nascimento) e Candinho (Sérgio Guizé), em Êta Mundo Bom! (2016). O caipira rendia muito mais sozinho com seus amigos (e seu burro Policarpo), enquanto a chorosa Filomena não foi bem interpretada e nem teve um enredo atrativo. Também não houve química. O casal principal acabou virando Celso (Rainer Cadete) e Maria (Bianca Bin). Só que todos esses pares, apesar do fracasso e ao contrário dos outros mencionados, ficaram mesmo juntos no fim.

Esses, claro, são apenas alguns exemplos de mocinhos que não deram certo na ficção. Há vários outros e o caso recente de Tempo de Amar acabou de entrar no time de pares ruins da teledramaturgia. A única diferença da novela das seis recém-encerrada é o contexto do enredo, pois a novela teve como único drama consistente o reencontro dos protagonistas que acabou não dando em nada em virtude da falta de química do casal, da fraca atuação do ator e do erro crasso da condução do personagem. Um verdadeiro conjunto de equívocos que qualquer autor morre de medo de cometer.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor