Tempo de Amar faz estreia bonita e correta, mas falha em seu principal casal

Anunciado nas chamadas como “vencedor do Emmy” (prêmio que conquistou em 2012 pelo excelente remake de O Astro, no ano anterior), Alcides Nogueira está de volta à TV com sua nova história. Tempo de Amar, inspirada em ideia original do escritor Rubem Fonseca e coescrita com Bia Corrêa do Lago, tem a responsabilidade de suceder a elogiada Novo Mundo, dos estreantes Alessandro Marson e Thereza Falcão. Assim como sua antecessora, a nova trama também é de época, porém, se passa 100 anos depois, no fim dos anos 1920.

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O ponto de partida da novela é o romance cheio de idas e vindas entre os portugueses Maria Vitória (Vitória Strada) – herdeira do fazendeiro José Augusto (Tony Ramos) – e Inácio (Bruno Cabrerizo) – um rapaz humilde que mora no vilarejo vizinho.

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Ela estava prometida ao ricaço Fernão (Jayme Matarazzo), que fica furioso ao saber que sua noiva está apaixonada por outro. Inácio vai para o Brasil e ela se descobre grávida, sendo enviada pelo pai para um convento, enquanto o rapaz é assaltado e encontrado por Lucinda (Andreia Horta), que se encanta pelo lusitano e quer impedi-lo de voltar a sua terra.

O primeiro capítulo ficou marcado pelo primor estético e pela caprichada reconstituição de época. As belíssimas imagens dos campos portugueses foram de encher os olhos – mérito da esmerada direção de fotografia de Nonato Estrela. O núcleo brasileiro chamou atenção pela elegância dos figurinos e da ambientação.

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O enredo apresentou um ritmo até ágil para uma trama de época, uma vez que normalmente a condução deste tipo de novela costuma ser mais lenta. O mote do enredo foi o encantamento entre Inácio e Maria Vitória, através de uma troca de olhares durante uma procissão. Entretanto, a construção do casal foi a maior falha do capítulo.

A paixão dos mocinhos se desenvolveu de uma forma muito atropelada, a ponto de já se beijarem, jurarem felicidade eterna e do rival Fernão ameaçar o humilde protagonista. Não dá nem para criar algum tipo de empatia com o público com tanta velocidade. É um erro que pode custar caro futuramente, vide o exemplo de Luiza (Camila Queiroz) e Eric (Mateus Solano) em Pega Pega, novela das sete.

A presença de Vitória Strada chamou atenção por sua expressividade. Mesmo sendo apenas o primeiro capítulo, a estreante dominou bem suas cenas iniciais e imprimiu carisma à sua mocinha. Tony Ramos, intérprete do fazendeiro José Augusto, tem nas mãos um dos tipos mais complexos da história, uma vez que ele não é o típico homem conservador-reacionário que exige que a filha se case com quem foi prometida – o ricaço torce pela felicidade da filha.

Jayme Matarazzo, interpretando pela primeira vez um vilão, também fez bonito, podendo honrar a oportunidade de ganhar um papel diferente dos mocinhos rebeldes sem causa que vinha fazendo até aqui. No núcleo brasileiro, Andreia Horta, mesmo em uma curta cena, deu mostras de que promete ser outro destaque. A versatilidade ainda pôde ser vista no talento de Marisa Orth (vivendo uma socialite e cantando fado em uma sequência), Nelson Freitas (que também ganhou um personagem sério) e Regina Duarte (que divertiu na primeira sequência de sua Madame Lucerne).

A belíssima abertura contou com a canção Amar Pelos Dois, do português Salvador Sobral, vencedor do festival de música europeu Eurovision, sendo a primeira canção lusitana a ser campeã do concurso.

A estreia de Tempo de Amar foi linda, correta e eficiente. Apesar do desenvolvimento excessivamente rápido do casal principal, o capítulo foi agradável de se ver e evidenciou o acerto em apostar na versatilidade de alguns nomes de seu elenco. A estética das partes portuguesas foi de encher os olhos, enquanto o lado brasileiro remetia às primorosas novelas Lado a Lado (2012-13) e Força de Um Desejo (1999), esta última assinada por Alcides Nogueira com Gilberto Braga. É aguardar o que os próximos capítulos irão trazer.


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