Tempo de Amar e Pega Pega têm uma semelhança: os mocinhos insuportáveis
14/12/2017 às 10h00
Criar mocinhas atrativas tem sido um dos maiores desafios para os autores. Afinal, os vilões sempre tiveram mais elementos para arrebatar o público, até porque movem o enredo. E elaborar bons mocinhos consegue ser ainda mais complicado por várias razões. No entanto, muitos escritores têm conseguido vencer essas dificuldades. Mas, atualmente, Alcides Nogueira, em Tempo de Amar, e Cláudia Souto, em Pega Pega, demonstram que fracassaram na missão.
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O autor da atual novela das seis criou um tipo apático, sonso e totalmente idiota. Inácio (Bruno Cabrerizo) e Maria Vitória (Vitória Strada) se apaixonaram subitamente no primeiro capítulo da trama e logo decidiram se casar. Porém, uma sucessão de desgraças separou o par. Ele foi tentar um emprego melhor no Rio de Janeiro, mas, pouco depois de sair de Portugal, acabou assaltado e golpeado na cabeça, ficando cego. Foi encontrado por Lucinda (Andreia Horta), vilã que passou a manipulá-lo de todas as formas.
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O rapaz acreditou piamente em tudo o que a nova ‘amiga’ lhe disse sobre Maria Vitória, garantindo que ela havia se casado e colocado o filho deles para ser criado pelo seu novo marido. Apesar disso, ainda tentou descobrir algo mais procurando seu grande parceiro, o vendedor Geraldo (Jackson Antunes), sem sucesso. Com o tempo, Inácio acabou voltando a enxergar e não demorou para pedir Lucinda em casamento.
O absurdo da situação é o fato dele ter simplesmente esquecido a existência da ex desde que sua visão voltou. Enquanto estava cego, o mocinho falava do seu amor o tempo todo e não se conformava com essa suposta união dela com outro. Agora a apagou da memória. Para culminar, é um personagem passivo, que não tem importância para o andamento da história. Aliás, bem diferente de Vicente (Bruno Ferrari), esse sim um perfil que seria um bom protagonista.
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Já em Pega Pega, a autora se mostrou completamente equivocada na condução de Júlio (Thiago Martins) e Eric (Mateus Solano). Os personagens são, teoricamente, os mocinhos do enredo. O primeiro é um dos ladrões que roubou 40 milhões de dólares do Carioca Palace, junto de Malagueta (Marcelo Serrado), Sandra Helena (Nanda Costa) e Agnaldo (João Baldasserini). Só que, diferente dos colegas, o garoto se julga o paladino da moral e se acha mais honesto porque participou do crime para pagar o aluguel da casa das tias. Além do vitimismo irritante, sempre fazendo cara de sofrido e se lamentando pelos cantos, Júlio se indigna quando alguém o recrimina ou o julga pelo roubo.
A desculpa de Cláudia Souto para justificar o crime do rapaz não convenceu, afinal, ninguém precisa roubar uma fortuna daquelas para não ser despejado. A ambição dos demais ficou bem mais crível, pois muitas vezes pessoas se deslumbram com a possibilidade de uma vida luxuosa. Ou seja, as explicações dadas por Júlio são tão irritantes quanto suas atitudes e a sua relação com Antônia (Vanessa Giácomo) também abusa da paciência de quem assiste.
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Desde que o casal terminou por causa do crime cometido por ele, o mocinho corre atrás dela o tempo todo e ainda enfrenta Domênico (Marcus Veras) – colega da policial que também a ama -, se achando o dono da razão. Também ficou indignado quando a mãe, Arlete (Elizabeth Savalla), começou a namorar Pedrinho (Marcos Caruso), dono do hotel que ele roubou. Não deveria ser o contrário?
Piorando a situação dos ‘heróis’ da trama das sete, há Eric. Seu início de relacionamento com Luiza (Camila Queiroz) não foi nada convincente e aquela paixão arrebatadora no primeiro capítulo foi forçada do primeiro ao último minuto. Não por acaso, os perfis perderam a importância, até por não terem conflitos. A sua relação conturbada com a filha, Bebeth (Valentina Herszage), era promissora, mas a autora resolveu tudo em pouco tempo, eliminando até o canguru que a menina idealizava. Então, tentando evitar uma maior falta de função, Claudia resolveu colocá-lo agindo junto com os policiais na caça aos bandidos do hotel. Porém, o tiro saiu pela culatra, pois o personagem acabou se tornando um mero intrometido. Agora, no entanto, o mistério que se arrasta sobre o assassinato de sua primeira esposa vem sendo mais explorado, provocando até sua segunda prisão. Todavia, nem essa segunda injustiça deixa o papel mais atrativo. Ele, inclusive, já foi liberado.
Tempo de Amar e Pega Pega são dois folhetins com mocinhos muito mal representados. Infelizmente, Alcides Nogueira e Cláudia Souto não conseguiram criar personagens convidativos e acabaram desenvolvendo tipos irritantes e pedantes. Uma pena.