Tempo de Amar é uma novela de muitos acertos. Do texto primoroso de Alcides Nogueira e seus colaboradores à direção tão característica (e certeira) de Jayme Monjardim. No elenco, soberbo, destaque para os veteranos Tony Ramos (José Augusto), Nívea Maria (Henriqueta), Françoise Forton (Emília) e Nelson Freitas (Bernardo). Deborah Evelyn conseguiu distanciar Alzira de tipos similares que interpretou anteriormente; e Regina Duarte, enfim, “equalizou” o tom de Madame Lucerne. Entre os novatos, a protagonista Vitória Strada (Maria Vitória), Bruno Ferrari (Vicente), Olívia Torres (Tereza), Bárbara França (Celina) e Amanda de Godoi (Bijoux).

Mas, dentre tantos talentos, um em especial me chama atenção: Marisa Orth. Sempre associada aos tipos de humor, a atriz vem ganhando as telas com os dramas de Celeste Hermínia, a cantora de fado que se refugiou no Brasil, fugindo da tirania do então marido José Augusto. Anos após sua chegada ao Rio de Janeiro, reencontra a criança que deixou para trás, Maria Vitória. As duas, livres dos ditames repressores da época, são movidas a amor: enquanto a filha, julgando-se “viúva” de Inácio (Bruno Cabrerizo), aceita noivar com Vicente, a mãe, amante do Conselheiro Francisco (Werner Schünemann) descobre ter sido enganada, rompendo compromisso.

Aqui, o único senão deste núcleo: a partida precoce de Odete (Karine Teles), a esposa do Conselheiro. O estado quase vegetativo da personagem compadecia o telespectador, que ansiava por sua recuperação – falo por mim e pelos meus. Celeste Hermínia, tipo espirituoso, lidava bem com a condição de “outra” na vida do amado. O que se espera, de agora em diante, é o reencontro da moderníssima fadista com seu passado, arraigado ao retrógrado José Augusto; o português deve deixar a Quinta da Carrasqueira, rumo ao Rio de Janeiro, em breve. Novas possibilidades para Marisa Orth surpreender o público com seu talento dramático.

Esta verve da atriz não é, necessariamente, surpresa para mim. Em 2003, em Agora é Que São Elas, ela desassociou sua imagem de Magda, a ninfomaníaca de QI abaixo da média, sua personagem em Sai de Baixo (1996) – que Globo, VIVA e os fãs insistem em manter “em atividade”. Na novela, também das 18h, Orth surgiu como a tresloucada ex-miss Van-Van, que, com o desenrolar da narrativa, ganhou contornos mais humanos, terminando, por fim, como a protagonista “madura” do folhetim. Marisa confere agora a Celeste Hermínia a mesma humanidade que atribuiu a Van-Van; prova, mais uma vez, que não é atriz de uma nota só. Palmas para ela!

Ainda sobre Tempo de Amar: como é bom ver Cássio Gabus Mendes em um personagem contido como Dr. Reinaldo, bem diferente dos tipos expansivos relegados a ele nos últimos tempos; o romance de Reinaldo e Eunice (Lucy Alves, ótima) tem rendido grandes momentos à produção. Olívia Araújo é sempre valorizada nas novelas de Alcides Nogueira – de Ciranda de Pedra (2008) a I Love Paraisópolis (2015). Tão graciosa sua Dona Nicota, agora de namoro com Seu Geraldo (Jackson Antunes, outra grata surpresa).


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.