Tempo de Amar parece mesmo ter deixado para trás o sofrimento excessivo de sua fase inicial. Embora ainda com ritmo lento, o enredo da atual novela das seis mostrou uma recente movimentação envolvendo a história da mocinha Maria Vitória (Vitória Strada) e ainda aproveitou para fazer, nos últimos dias, deliciosas referências a Rainha da Sucata (1999) e Força de Um Desejo (1999), trabalhos anteriores do autor Alcides Nogueira ao lado de Sílvio de Abreu e Gilberto Braga, respectivamente.

A chegada de José Augusto (Tony Ramos), em cenas já elogiadas aqui no TV História, mobilizou também o enredo de Madame Lucerne (Regina Duarte), antes presa a situações repetitivas no bordel e servindo de escada para Inácio (Bruno Cabrerizo). A reedição do par romântico da novela de Sílvio de Abreu se valeu da licença poética para reverenciar a antiga trama em uma conversa de Lucerne com sua aliada Gilberte (Maria Eduarda de Carvalho), exibida na terça-feira (23).

A dona do prostíbulo confessou que, ao encontrar o português, se lembrou de uma paixão avassaladora por um sujeito chamado Eduardo Figueroa, justamente o personagem de Tony em ‘Sucata’, pelo qual Maria do Carmo (Duarte) era apaixonada. E ainda citou que Eduardo era “enteado de uma jararaca, Laurinha Figueroa” – a icônica vilã de Glória Menezes, que fazia de tudo para atrapalhar os planos de Do Carmo.

Pouco depois, foi a vez de Alcides relembrar outra trama de sua carreira: Força de Um Desejo, criada por Nogueira e co-escrita por ele e Gilberto Braga, embora muitos associem sua autoria apenas ao último. A nova referência foi exibida na quinta-feira (25) e trouxe Malu Mader relembrando sua personagem Ester Delamare, Baronesa de Sobral, que foi motivo de discórdia entre Henrique, Barão de Sobral (Reginaldo Faria) e Inácio (Fábio Assunção).

O retorno de Ester se deu no recital de sua filha Carolina (Mayana Moura), chamando a atenção de todos. Emocionada com a homenagem da jovem cantora, que ainda declarou que o recital era fruto “da força de um desejo” (citando nominalmente o título da novela), a nobre ainda aproveitou para discutir com Emília (Françoise Forton), acusando-a de tentar destruir seu casamento.

Revisitar personagens de obras antigas e/ou homenagear outros autores é algo comum na teledramaturgia. Isto pode ocorrer com o resgate de personagens de outras tramas (como também ocorreu com Dona Armênia, Aracy Balabanian na mesma ‘Rainha’, em Deus Nos Acuda (1992); ou com Jamanta – Cacá Carvalho em Torre de Babel (1998) -, que voltou em Belíssima (2005)) ou com referências nominais. Outro exemplo recente foi a elogiada Tititi (2010), onde Maria Adelaide Amaral revisitou grande parte do universo de Cassiano Gabus Mendes.

E mais uma grande cena foi exibida na mesma semana: o esperado embate entre Maria Vitória e Lucinda (Andreia Horta), no gancho da sexta-feira (26) pra o sábado (27). Após descobrir por Vicente (Bruno Ferrari) que a vilã se casou com Inácio, a protagonista foi tirar satisfações e revelou que já sabia que Lucinda se aproveitou da fragilidade do ex e o manipulou de todas as formas. Até que a megera aproveitou para humilhar a mocinha, acusando-a de repetir a atitude da mãe e abandonar sua filha. Foi a gota d’água para Maria Vitória partir para a agressão.

A tão aguardada surra foi de lavar a alma e Vitória Strada e Andreia Horta protagonizaram a melhor sequência da novela até aqui. A surpreendente maturidade da estreante, já vista ao lado dos veteranos como Tony Ramos e Marisa Orth, mais uma vez se fez presente ao lado de Andreia, uma das mais competentes de sua geração. E a própria surra também mereceu elogios pelo impacto da ação, algo que vinha deixando a desejar em outras obras nos últimos anos.

Porém, um ponto negativo chamou a atenção: justamente a exibição do embate em um sábado. Deu a entender que a cena foi desperdiçada, pois neste dia a audiência é visivelmente menor. Se veiculada em outro dia, como previsto, a briga poderia até render um merecido recorde. A edição, talvez por conta do capítulo mais curto na quarta-feira, empurrou a sequência para o último dia da semana. Foi a “cena certa no dia errado”.

Ainda assim, as três sequências apresentadas esta semana merecem elogios pelo bom resultado apresentado. Relembrar Rainha da Sucata e Força de Um Desejo foi bom demais e a surra da vilã na mocinha (sempre um clássico da teledramaturgia) foi de lavar a alma, mesmo exibida em um dia inadequado. A participação de Malu Mader revivendo Ester Delamare e o show de Vitória Strada e Andreia Horta foram presentes para o público.


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