Em 2007, Paraíso Tropical derrubou o horário nobre da Globo. A emissora emplacou sucesso atrás de sucesso na faixa das 21 horas entre 2003 e 2006, mas a trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares interrompeu a curva ascendente de audiência.

Bruno Gagliasso em Paraíso Tropical
Bruno Gagliasso em Paraíso Tropical

No entanto, a história das gêmeas Paula e Taís, vividas por Alessandra Negrini, também estrelada por nomes como Bruno Gagliasso (foto acima) esteve longe de ser um fiasco. Os tarimbados autores conseguiram sacudir a trama e deram a volta por cima, e Paraíso Tropical foi encerrada com ótimos índices de audiência.

Essa trajetória se repete na atual reprise do Vale a Pena Ver de Novo. A novela começou mal, mas, nos últimos capítulos, vem ensaiando uma recuperação. O que mostra que a Globo errou feio na estratégia adotada para o repeteco.

A grande virada

Paraíso Tropical entrou no ar em 5 de março de 2007 registrando 41 pontos no Kantar Ibope Media, índice considerado mediano naquela época. Mas a trama foi perdendo fôlego a cada dia, anotando médias menores que 40 pontos, algo inconcebível para a Globo naquele tempo.

A trama só voltou aos patamares de 40 pontos de média em sua oitava semana. Na época, a emissora constatou que o público achava a novela “masculina demais”, por ser muito focada no duelo entre Daniel (Fábio Assunção) e Olavo (Wagner Moura). Assim, os autores fizeram os devidos ajustes.

Ao dar mais enfoque em personagens femininas fortes, como Lúcia (Gloria Pires), Bebel (Camila Pitanga) e as próprias gêmeas Paula e Taís, Paraíso Tropical foi ganhando audiência. Na reta final, já atingia índices na casa dos 50 pontos, mostrando que a novela empolgou o público.

Aconteceu de novo

Alessandra Negrini e Fábio Assunção em Paraíso Tropical
Alessandra Negrini e Fábio Assunção em Paraíso Tropical

Ao optar por reapresentar Paraíso Tropical no Vale a Pena Ver de Novo, a direção da Globo parece não ter se atentado a este fato. Mesmo sabendo que o início da trama foi considerado morno pelo público em 2007, o canal optou por reprisá-lo praticamente na íntegra.

A trama voltou ao ar com pouquíssimos cortes. A novela só pareceu mais acelerada porque os capítulos do Vale a Pena Ver de Novo são maiores, o que fazia a Globo exibir mais de um capítulo original por dia. Ainda assim, a trama não empolgou em seu início – do mesmo jeito que aconteceu em 2007.

Mas, nos mais recentes capítulos da reprise, Paraíso Tropical vem registrando um aumento de público. Se no início os índices ficavam na casa dos 12 pontos, atualmente a novela chega a ultrapassar os 15 pontos de audiência.

Estratégia equivocada

O aumento de audiência da reprise de Paraíso Tropical coincide com uma fase mais movimentada da história. A novela explorou o golpe de Taís, que assumiu a identidade da irmã gêmea. Além disso, personagens como Lúcia, Antenor, Bebel e Olavo entraram em evidência. Agora, veio a morte da gêmea má.

Tudo isso serviu para aumentar a audiência de Paraíso Tropical em 2007 e está acontecendo novamente. Porém, a Globo jogou a toalha e decidiu encurtar a reprise, que vai sair do ar em 3 de maio, com 114 capítulos.

Ou seja, o canal exibiu praticamente na íntegra a fase mais monótona da trama. E agora que a novela está pegando fogo, a emissora vai passar o facão e acelerar justamente a melhor parte da história.

A Globo devia pensar na edição dos capítulos do Vale a Pena Ver de Novo como um todo. Se já se sabia que o início da novela não era tão empolgante, por que não aceleraram no começo? Assim, ela chegaria logo na atual fase, mais movimentada, e a emissora poderia reduzir os cortes.

Mas preferiram fazer de qualquer jeito e, agora, Paraíso Tropical será a novela mais curta do Vale a Pena Ver de Novo desde Eta Mundo Bom!, cuja reprise de 2020 teve 100 capítulos.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor