O ano de 2021 segue avassala-dor. Menos de 24 horas após a morte do ator Paulo José, morre outro grande nome de nossas artes: Tarcísio Meira.

Internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com Covid-19, o ator não resistiu. Estava intubado e faleceu na manhã desta quinta-feira (12), com 85 anos. Sua mulher, Glória Menezes, também foi internada e, de acordo com o último boletim médico, está se recuperando bem.

Tarcísio é reconhecido como um dos maiores galãs da TV brasileira, de uma época em que a palavra galã tinha um peso maior que hoje. Seu porte altivo e rosto talhado se encaixavam no padrão hollywoodiano de beleza masculina, intensificado por papeis fortes que defendeu ao longo da vida.

Outra importância atribuída ao ator: consagrado pelo público masculino ao viver o rústico João Coragem, de Irmãos Coragem, em 1971, Tarcísio Meira virou o herói que os homens torciam e se espelhavam, pelo qual passaram a assumir que assistiam novela.

Tarcísio Meira nunca deu bola para a alcunha de galã, apesar de ter aceitado viver vários na televisão. Em 1985, no auge da fase “galã maduro”, aceitou viver um vilão grotesco, Hermógenes, na minissérie Grande Sertão: Veredas. Em 1999, lhe foi oferecido o papel do bandeirante Dom Braz Olinto na minissérie A Muralha. O ator recusou, preferindo outro personagem: o sórdido e sinistro Dom Jerônimo Taveira – que tornou-se um de seus melhores trabalhos.

Tarcísio tinha um jeito único de interpretar, de projetar a voz, de ditar as sílabas e falar os erres. Certamente a experiência o moldou. Com bons papeis nas mãos, mesmo os mais maniqueístas, deitou e rolou.

Das memórias mais remotas que tenho da televisão, lembro do ator com cabelos encaracolados, trajando um capote escuro, na novela O Semideus, de 1973. Era criança e isso me passava uma sobriedade assustadora.

Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho nasceu em São Paulo, em 5 de outubro de 1935. Era casado desde 1962 com Glória Menezes (união de 59 anos), com quem teve um filho, o também ator Tarcísio Filho. Começou a carreira artística no teatro, em 1957, na peça A Hora Marcada.

Na televisão, estreou no teleteatro Noites Brancas, na TV Tupi, em 1959. Em 1961, conheceu Glória Menezes, com quem contracenava no teleteatro Uma Pires Camargo. Já casados, Tarcísio e Gloria protagonizaram, em 1963, a primeira novela diária brasileira, 2-5499 Ocupado, na TV Excelsior. Nesta emissora, Tarcísio atuou em mais 6 novelas: Mãe, Ambição, Pedra Redonda 39, A Deusa Vencida, Almas de Pedra e O Grande Segredo.

Em 1967, Tarcísio e Glória foram contratados pela TV Globo, onde permaneceram por 53 anos. A primeira novela foi Sangue e Areia, com Glória, seguida de A Gata de Vison, com Yoná Magalhães. Entre 1969 e 1974, Tarcísio e Glória protagonizaram 5 novelas como casal romântico: Rosa Rebelde, Irmãos Coragem, O Homem que Deve Morrer, Cavalo de Aço e O Semideus.

Em 1975, Tarcísio viveu Antônio Dias, outro papel marcante, na novela Escalada, de Lauro César Muniz. Vieram Espelho Mágico, Os Gigantes, Coração Alado e Brilhante. Em 1983, experimentou a comédia nonsense ao dar vida a Felipe, na novela Guerra dos Sexos, de Silvio de Abreu. Em 1985, foi visto na pele de dois personagens marcantes de nossa literatura: Capitão Rodrigo Cambará, da minissérie O Tempo e o Vento, e Hermógenes, da minissérie Grande Sertão: Veredas.

Outro personagem que marcou sua carreira foi o empresário Renato Villar na novela Roda de Fogo, em 1986-1987. Com Glória, fez a série Tarcísio & Glória, em 1988. Deu vida ao escritor Euclides da Cunha na minissérie Desejo, em 1990, ano em que apareceu em outro papel cômico, na novela Araponga.

A partir da década de 1990, Tarcísio foi visto nas novelas De Corpo e Alma, Pátria Minha, O Rei do Gado (primeira fase), Torre de Babel, Um Anjo Caiu do Céu, O Beijo do Vampiro, Páginas da Vida, A Favorita, Insensato Coração, Saramandaia, A Lei do Amor, além de participações em tantas outras, e minisséries e seriados.

O ator também construiu uma sólida carreira no cinema. A estreia foi no filme Casinha Pequenina, em 1963, ao lado de Mazzaropi.

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Entre seus principais filmes: Máscara da Traição (1969), de Roberto Pires; Independência ou Morte (1972), de Carlos Coimbra; O Marginal (1974), de Carlos Manga; A República dos Assassinos (1979), de Miguel Faria Jr; O Beijo no Asfalto (1980), de Bruno Barreto; Eu Te Amo (1981) de Arnaldo Jabor; A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha; Amor Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri; Eu (1987), de Walter Hugo Khouri; e Boca de Ouro (1990), de Walter Avancini.

Antes da pandemia de Covid-19, Tarcísio produzia e estava em cartaz na peça O Camareiro, de Ronald Harwood, com tradução de Diego Teza e direção de Ulysses Cruz.

Tarcísio Meira deixa órfãs não só várias gerações de fãs, mas também uma TV de outro tempo, de uma fase dourada da qual ele, Eva Wilma, Nicette Bruno, Paulo José (e tantos outros que se despediram recentemente) ajudaram a construir e sedimentar, mas que hoje, transformada, pouco remete a ela.

A televisão que minha geração conheceu vai se despedindo de seus maiores ídolos.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor