Talentosa, Fernanda Torres mostra outra faceta em Sob Pressão
06/12/2018 às 10h00
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As qualidades de Sob Pressão são visíveis em cada episódio e o sucesso de público e crítica da série é mais do que merecido. Além de todos os ponto positivos já abordados neste blog, é preciso citar mais um da segunda temporada: a entrada de Fernanda Torres em um papel dramático, após longos anos fazendo apenas comédia na televisão.
A Dra. Renata entrou na trama no quarto episódio como uma gestora experiente que estava apenas fazendo uma supervisão de rotina no Hospital público conhecido como Macedão, administrado por Samuel (Stepan Nercessian). No capítulo seguinte, entretanto, uma reviravolta ocorreu: a personagem tomou o lugar de Samuel graças a um acordo político que prometia benefícios financeiros ao hospital, desde que uma pessoa de confiança do prefeito tivesse um bom cargo no local.
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Aos poucos, Renata foi expondo sua frieza em torno da rotina dos médicos, sempre fazendo questão de priorizar a burocracia ao invés do atendimento de emergência em vários casos considerados “polêmicos”.
Em contrapartida, melhorou as condições de leitos e conseguiu equipamentos mais modernos em função de sua administração. O sempre desconfiado Evandro (Júlio Andrade) até começou a nutrir uma certa confiança nela. Apenas Samuel nunca engoliu a nova gestora, inclusive por razões óbvias. Mas a suspeita tinha sentido.
Renata faz parte de um grande esquema de corrupção que inclui a compra de próteses mais caras para desviar parte do dinheiro em bônus salariais, citando apenas um exemplo. O irônico do contexto é que o crime acabou beneficiando o hospital público, ainda que timidamente. Esse paradoxo ajuda a “humanizar” a personagem, pois, por incrível que pareça, há um intuito de ajudar o “Macedão”, além dela mesma, claro. O arrogante médico Henrique (Humberto Carrão) é um de seus cúmplices. O perfil é muito rico e a ousadia da escalação merece elogios. Afinal, é uma grata surpresa ver uma atriz tão estigmatizada pela comédia na tevê interpretá-la. E tão bem.
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Fernanda Torres está ótima e vem crescendo ao longo dos episódios – o nono, inclusive, a destaca do início ao fim em uma virada de tirar o fôlego. Longe dos exageros de suas últimas personagens, a intérprete adotou um tom sóbrio apropriado para o perfil e não lembra em nada a Vani, de Os Normais, ou a Fátima, de Tapas & Beijos, seus papéis mais marcantes da televisão.
Isso é necessário ser colocado porque há casos de atores que acabam repetindo alguns ”tiques” ou vícios quando interpretam por muito tempo o mesmo personagem. Mesmo quando saem da comédia e vão para o drama ou vice-versa. Mas não é o caso de Fernanda. Tanto que até em Filhos da Pátria, ano passado, conseguiu imprimir um tom mais farsesco para Maria Teresa Bulhosa, mesmo sendo outro tipo cômico.
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O público já conhecia essa outra faceta da atriz no teatro e no cinema, mas já estava na hora de vê-la em uma produção sem humor na televisão, após experiências não muito bem-sucedidas na década de 80 em algumas novelas (Selva de Pedra, em 1986, é a mais lembrada) – o ‘trauma’ foi tanto que a intérprete prometeu nunca mais participar de folhetins.
Agora, finalmente, a atriz ganhou um papel diferenciado e tem convencido em Sob Pressão. Renata é um tipo que muito escritor jamais pensaria para Fernanda. Ainda bem que o roteirista Lucas Paraizo e o diretor Andrucha Waddington não tiveram receio para escalá-la. E é importante dizer que o fato de Andrucha ser marido dela é irrelevante. O talento para viver perfis diferenciados apenas foi reconhecido. Já era tempo.