No dia 27 de janeiro de 1975, há exatamente 46 anos, a Globo estreava na faixa das sete a novela Cuca Legal. A trama de Marcos Rey, no entanto, teve muitos problemas em seu desenvolvimento.

Inspirada na peça Boeing-Boeing, a produção perdeu o autor antes da estreia: Silvan Paezzo desistiu da empreitada e passou o bastão para Rey. A novela tinha na televisão o mesmo protagonista dos palcos: Francisco Cuoco, que vivia Mário Barroso, um piloto de avião que era noivo de três mulheres em cidades diferentes.

Mas a história, que marcou a estreia de Hugo Carvana na televisão, não pegou. Oswaldo Loureiro, que chegou a escrever o argumento inicial, deixou a direção da novela, cedendo lugar para Jardel Mello.

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“Cuca Legal nasceu, cresceu e se perdeu”, declarou Loureiro em entrevista à revista Amiga. “A novela passou a ser uma ficção, ficou muito longe da realidade. A culpa disso não sei de quem é, se do autor, se minha ou dos atores. Só de uma coisa tenho certeza: nossa proposta inicial não tem mais sentido”, criticou o profissional em 7 de maio de 1975.

Ainda sem a estrutura que consagrou o Padrão Globo de Qualidade, a trama ficou um mês sem iluminador e uma semana sem continuísta. “A mesma equipe técnica que iria trabalhar comigo ainda estava terminando Corrida do Ouro. Isso também chegou a me desanimar, mas depois do 30º capítulo a coisa se normalizou”, declarou.

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Para completar, Elza Gomes, que vivia Dalva, e fazia par com Mário Lago, intérprete de Aureliano, sofreu um infarto e acabou ficando afastada das gravações por algumas semanas. Antes da trama, a Globo anunciou que eles viveriam um novo par romântico, diferente dos habituais casais que o público estava habituado.

“Cuca Legal foi a novela que fez retroceder a qualidade conseguida com Corrida do Ouro e cujos impasses e irrealizações fizeram lembrar a decepção com Supermanoela. O grande problema de Cuca Legal foi a fraqueza da história. Interessante: apesar da pobreza expressiva e significativa do enredo, tanto os diálogos como o desempenho dos atores estiveram em bom nível”, escreveu Artur da Távola na revista Amiga de 18 de junho de 1975.

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Como frisou a Amiga da semana seguinte, Cuca Legal ficou com média na casa dos 60 pontos – às vezes, chegou em 70, mantendo-se como o terceiro programa mais visto da Globo. “Embora não tenha provocado nenhuma preocupação maior à Rede Globo, sofreu ligeiros abalos, considerados comuns a esse tipo de empreendimento”, destacou. Meu Rico Português, trama exibida pela Tupi na mesma faixa, acabou ganhando alguns pontinhos.

Com apenas 118 capítulos, Cuca Legal terminou em 13 de junho de 1975, sendo substituída por Bravo!, de Janete Clair, escrita em parceria com Gilberto Braga.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor