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O ano de 2022 foi irregular para a teledramaturgia nacional.
Reprodução / GloboAo mesmo tempo em que houve sucessos arrebatadores, como Pantanal e Todas as Flores, houve produções criticadas por todos os lados, como Travessia e Cara e Coragem.
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Início do ano
O ano começou com Um Lugar ao Sol elogiada pela crítica especializada, mas desprezada pela grande audiência. Porém, nos três primeiros meses do ano, a novela de Lícia Manzo perdeu muito em qualidade (sua segunda metade), ainda mais quando precisou ser reeditada para render mais capítulos além dos previstos. Saiu manchada, lamentavelmente, mas nada que ofuscasse o brilho de Andréa Beltrão, com sua Rebeca, a melhor do elenco.
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Quanto Mais Vida, Melhor!, a atração das 19h na Globo, não fez bonito, mas tampouco decepcionou. Foi uma novela simpática, que arrancou boas atuações do quarteto protagonista (Giovanna Antonelli, Vladimir Brichta, Mateus Solano e Valentina Herzage), bons momentos de catarse e repercussão nas redes sociais.
O mesmo não se pode falar de sua substituta, Cara e Coragem. Uma “novela de ação” com uma história que ninguém comenta, ninguém diz que viu ou assume que vê. A audiência nem é ruim, mas a novela simplesmente não repercute. Nenhuma grande interpretação, nem acontecimentos de tirar o fôlego – ao menos que justificassem se tratar de uma “novela de ação”. Está passando em brancas nuvens e não deixará saudades.
Outras emissoras
Nenhuma novidade na concorrência. Poliana Moça, no SBT, mantem seu público cativo, e isso é bom. Porém, nada de novo no front e, pelo visto, continuará assim. Puro comodismo não mexer no que está ok por medo de perder o pouco que tem.
A Record TV, por sua vez, vê seu público se esvair. A série Todas as Garotas em Mim, espécie de “Malhação evangélica”, nem os fiéis da IURD quiseram ver. Reis, novela travestida de série (porque é separada em temporadas, explicou a Record), também absolutamente nada agrega, nem para a emissora, menos ainda para o seu público.
Somente Cristiane Cardoso fora do comando da dramaturgia da Record poderia voltar a emissora aos seus bons tempos de novelas.
Novelas das seis
Um dos sucessos de 2022 responde por Além da Ilusão. Com uma trama, no geral, bem armada e desenvolvida, a autora Alessandra Poggi percorreu caminhos já testados e conhecidos do grande público.
Personagens bem construídos e dramas envolventes em uma roupagem bonita, produção esmerada, ótimos texto e direção e as interpretações contundentes de Antonio Calloni (Matias), Paloma Duarte (Heloísa) e Malu Galli (Violeta).
A trama substituta no horário foi Mar do Sertão, de Mário Teixeira, uma novela simpática, repleta de personagens interessantes e pitorescos que têm segurado o Ibope. Porém, faltava uma trama mais poderosa, ou que sacudisse a audiência.
Nesta semana, Timbó (Enrique Diaz), um dos melhores tipos da novela, descobriu petróleo em suas terras e ficou rico. Ótima arma do autor para enfrentar os meses quentes de verão (período de audiência em queda) na reta final da novela.
Novelas das nove
O maior sucesso do ano, sem dúvida, foi Pantanal. O remake da novela da Manchete trouxe de volta os bordões, o burburinho e a repercussão no que a Globo apostava. A emissora apresentou uma produção grandiosa, com fotografia, arte, cenários, figurinos, caracterizações e trilha sonora irretocáveis, ancorada, sobretudo, em um elenco de grandes talentos – em especial Isabel Teixeira (Maria Bruaca) e Osmar Prado (Velho do Rio).
Apesar das atualizações pontuais necessárias, o roteirista Bruno Luperi pouco ousou e mal alterou a história de seu avô, Benedito Ruy Barbosa. Ao seguir à risca a trama original, manteve os seus deslizes, como a “barriga” da metade em diante.
Não era uma trama inédita, mas tratava-se de uma nova produção, em um novo tempo e espaço. Não sei porque alguns a desconsideram, ou a desmerecem, pelo fato de não ser inédita. É uma nova novela, inclusive inédita para o público que não viu a primeira versão.
Infelizmente, o nível e a qualidade não se mantiveram. Travessia, a trama substituta, é uma profusão de erros. A novela de Glória Perez amarga ibope baixo e desinteresse do público, além de críticas de todos os lados pela trama pouco atraente (e cheia de furos) e pelos personagens nada cativantes. A crítica se estende à direção e ao elenco, sem interpretações que mereçam destaque.
A Globo vendeu a novela com uma trama sobre deepfake, seus malefícios e consequências. Seria uma ótima oportunidade para abordar fake news no momento de eleições presidenciais. Porém, o tema foi tratado de maneira rasa, superficial, insuficiente. Pior: como se fosse uma brincadeira de adolescente. Em menos de um mês, o assunto sumiu da trama, diluindo-se nas idas e vindas da protagonista Brisa (Lucy Alves).
A crise é ainda potencializada pelos bastidores da novela, que geraram uma grande má vontade do público – como a escalação da influencer Jade Picon (sem nenhuma experiência em atuação) para um papel importante na trama, e as notícias sobre Cássia Kis, seu assédio a colegas de elenco por causa de ideologias políticas e religiosas, sua fala homofóbica em uma entrevista e a participação em manifestações antidemocráticas.
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Streaming
No mesmo tempo em que a Globo lançava Travessia na TV aberta, estreava no Globoplay Todas as Flores, outro dos destaques de 2022. A novela de João Emanuel Carneiro, repleta de clichês folhetinescos irresistíveis, arrebatou o público do streaming, se tornando um dos maiores sucessos da plataforma neste ano.
Foi um deleite ver Letícia Colin esbanjando energia com sua vilã Vanessa, um bom contraponto com a sutileza de Sophie Charlotte, também excelente. No mais, Todas as Flores mereceu o sucesso, pela trama envolvente, pela produção caprichada e pelo elenco bem escalado. A segunda temporada da novela, a estrear em abril de 2023, promete.
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Os melhores de 2022
– Pantanal;
– Todas as Flores;
– Além da Ilusão;
– Isabel Teixeira (pela Maria Bruaca de Pantanal);
– Osmar Prado (pelo Velho do Rio de Pantanal);
– Antonio Calloni (pelo Matias de Além da Ilusão);
– Paloma Duarte (pela Heloísa de Além da Ilusão);
– Malu Galli (pela Violeta de Além da Ilusão);
– Letícia Colin (pela Vanessa de Todas as Flores).
Destaco também as séries Rensga Hits e Encantado’s (Globoplay) e as séries documentais Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (HBO Max), Lei da Selva (Canal Brasil), O Canto Livre de Nara Leão, Vale Tudo com Tim Maia, Rota 66, a Polícia que Mata e Elza e Mané – Amor em Linhas Tortas (Globoplay).