André Santana

O desempenho de Mar do Sertão vem surpreendendo até o diretor mais otimista da Globo. A trama de Mário Teixeira é um sucesso de audiência, muito bem avaliada em grupos de discussão.

Mar do Sertão

A boa aceitação do folhetim fez com que a emissora depositasse ainda mais confiança no mesmo, esticando-o em três semanas. Mas o que parece um sinal de prestígio pode também criar um grande problema para a casa…

Êxito e esticamento

Mar do Sertão

No ar há um mês, Mar do Sertão acumula audiência superior à sua antecessora. Enquanto Além da Ilusão obteve 17 pontos de média nas primeiras semanas, o atual cartaz das seis anotou 20 pontos no mesmo período.

Além disso, Mar do Sertão também foi aprovada no grupo de discussão para avaliar a recepção do enredo e dos personagens desenvolvidos por Teixeira.

O grupo não constatou nenhuma rejeição ao folhetim. Assim, de acordo com Patrícia Kogut, colunista de O Globo, a produção será esticada, ganhando mais três semanas no ar.

O X da questão

Mar do Sertão

No entanto, o aumento de Mar do Sertão pode criar um problema para a novela das seis. Afinal, o autor Mário Teixeira se verá obrigado a prolongar entrechos e criar novas situações para preencher o tempo extra. Com isso, é grande o risco de o novelista se repetir ou fazer a história patinar, criando a famigerada “barriga”, aquele momento em que nada acontece.

Qualquer trama está sujeita a ostentar alguma barriguinha, é verdade. Porém, o risco de Mar do Sertão é ainda maior, já que o folhetim teve um primeiro mês muito ágil. O autor não economizou trama até aqui e vem contando sua história de uma maneira um tanto acelerada. Muita coisa já aconteceu em um mês de exibição…

Na verdade, há que considere Mar do Sertão até apressada demais, já que a novela “pulou” alguns momentos que poderiam ser importantes. Por exemplo, a “morte” de Zé Paulino (Sergio Guizé) foi resolvida de uma maneira muito rápida. O público nem ao menos testemunhou Candoca (Isadora Cruz) chorando pela perda de seu grande amor. O sofrimento da mocinha foi abreviado e o casamento dela com Tertulinho (Renato Góes) aconteceu rápido demais.

Histórico do autor

O Tempo Não Para - Adriane Galisteu e Juliana Paiva

O autor Mário Teixeira tem um histórico de novelas que possuem ótima premissa, excelentes pontapés iniciais, mas que se perdem ao se revelarem apressadas demais. Foi assim em I Love Paraisópolis (2015), que resolveu muito rápido os conflitos dos mocinhos Mari (Bruna Marquezine) e Ben (Mauricio Destri), transformando-os em figurantes em sua própria história.

O Tempo Não Para (2018) também enfrentou problemas parecidos. A trama das sete tinha um mote excelente, que era a história de uma família do século 19 que “desperta” no presente. O início foi ágil, tal qual Mar do Sertão. Entretanto, a premissa logo se esgotou, e a novela acabou ficando desinteressante. Tanto que a audiência começou bem, mas caiu durante a exibição.

Outros casos

Zazá - Letícia Spiller

São vários os exemplos de novelas que foram esticadas pelas emissoras. Isso costuma acontecer não apenas pelo sucesso delas, mas também para que os canais ganhem mais tempo para planejar as tramas seguintes.

Barriga de Aluguel (1990), por exemplo, teve 54 capítulos a mais do que o previsto. A Globo aproveitou o estrondoso sucesso da novela de Gloria Perez para mantê-la mais um tempo no ar e superar o atraso na produção de Salomé (1991), sua substituta. Gloria, aliás, também se viu obrigada a esticar O Clone (2001), que passou de 179 capítulos para 220.

Walcyr Carrasco é outro autor que costuma driblar bem os percalços causados por um esticamento. O Cravo e a Rosa (2000), que escreveu com Mario Teixeira, deveria ter apenas 90 capítulos, mas foi prolongada e ultrapassou os 200 episódios. Para sustentar a trama, Carrasco teve que criar uma vilã, Marcela (Drica Moraes), e propor novas histórias. Alma Gêmea (2005) e Amor à Vida (2013) foram outras novelas do autor que duraram mais do que o previsto.

Mas há casos que o esticamento prejudica bastante uma novela. Um episódio emblemático aconteceu em Zazá (1997), quando o autor Lauro César Muniz já direcionava seu enredo para o final quando foi surpreendido pelo pedido da direção da Globo solicitando 50 capítulos a mais. O pedido se deu em razão do atraso de sua substituta, Corpo Dourado (1998).

Com isso, Muniz teve que criar novos conflitos para o casal Hugo (Marcello Novaes) e Beatriz (Letícia Spiller), além de aumentar ainda mais as maldades do vilão Silas (Ney Latorraca). A novela, então, ficou muito prejudicada e a audiência caiu.

Ou seja, Mar do Sertão pode ser uma “nova” O Cravo e a Rosa e manter o sucesso mesmo com os capítulos a mais. Mas também pode ser uma “nova” Zazá e se revelar um desastre. A habilidade do experiente Mario Teixeira acaba de ser colocada à prova.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor