Ao modificar a fila das novelas do horário nobre, realocando Todas as Flores para o Globoplay e adiantando Travessia, a intenção da Globo era clara: apostar na popularidade da autora Gloria Perez para segurar os bons índices de audiência de Pantanal (2022). No entanto, a aposta se mostrou frustrada.

O Outro Lado do Paraíso - Gloria Pires
Divulgação / Globo

A escalação de Walcyr Carrasco para suceder Gloria Perez também segue a mesma toada. No entanto, se Travessia não foi capaz de manter a boa fase da faixa das nove da Globo, quem garante que Carrasco o fará?

A prova de que a emissora aposta tudo em Terra e Paixão (ex-Terra Vermelha e Terra Bruta) é o fato de a novela nem ter estreado e já ter sido esticada: o folhetim deve ter 221 capítulos! Assim, na eventualidade de o folhetim ser um fracasso, a Globo terá um problemão em mãos. É uma armadilha que o canal cria para si mesmo.

Esticamento

Amor à Vida - Mateus Solano e Paolla Oliveira
Divulgação / Globo

Mesmo com o fiasco de Travessia, a Globo não pensava em encurtar a novela de Gloria Perez. A previsão inicial era que a trama terminasse no dia 19 de maio. No entanto, de acordo com o site Notícias da TV, os planos foram alterados e a história de Brisa (Lucy Alves) deve chegar ao fim 15 dias antes do previsto, em 5 de maio.

Com isso, Terra e Paixão deve estrear em 8 de maio e ganhar mais 12 capítulos, saltando dos 209 inicialmente previstos para 221. É o mesmo número de episódios de Amor à Vida (2013, foto), também de Carrasco, o folhetim das nove mais longo da década de 2010.

Ou seja, há uma confiança muito grande na próxima novela de Carrasco. Confiança que tem toda razão de existir, afinal, o autor coleciona sucessos. Todas as suas tramas das nove foram exitosas, já que Carrasco não tem pudores ao alterar totalmente o rumo de suas histórias caso a audiência exija. Foi assim com O Outro Lado do Paraíso (2017), que começou morna, mas logo se converteu num êxito estrondoso.

Segredo do sucesso?

Cassia Kis em Morde e Assopra
Divulgação / Globo

Na teoria, portanto, Walcyr Carrasco sabe o segredo dos números. Não à toa, ele é o autor mais prestigiado da Globo e emplaca praticamente uma novela por ano desde que estreou no canal, em 2000, com O Cravo e a Rosa.

Em seu histórico, ele conseguiu reverter alguns “quase fiascos”. A Padroeira (2001), por exemplo, começou muito mal, mas o autor logo promoveu uma grande reformulação e a audiência correspondeu. Carrasco mudou tudo: removeu personagens, inseriu novos, mudou o tom de drama para comédia, enfim. A Padroeira não é seu maior sucesso, mas escapou de ser um vexame.

Outra novela que ele conseguiu reverter o fiasco a tempo foi Morde & Assopra (2011). Inicialmente, o público não embarcou na história sobre dinossauros e robôs. Com isso, a temática foi reduzida e Carrasco investiu mais em romances, além de aumentar o drama de Dulce (Cassia Kis, foto). Deu muito certo.

Fiascos

Sete Pecados - Giovanna Antonelli, Priscila Fantin e Reynaldo Gianecchini
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Mas nem sempre o autor ganha. Sete Pecados (2007, foto), por exemplo, é um ponto fora da curva em sua carreira de êxitos. A primeira novela das sete de Carrasco estreou confusa, com muitos personagens e a proposta pretensiosa de abordar os sete pecados capitais em seu enredo.

No entanto, o tema falhou e perdeu espaço. O autor, mais uma vez, mudou o foco da trama, investiu em personagens promissores e afastou outros. A vilã Agatha (Claudia Raia), por exemplo, foi literalmente explodida da história. Mas nada deu certo e Sete Pecados não engrenou.

O curioso é que, mesmo com o insucesso, a Globo reprisou Sete Pecados em 2010, no Vale a Pena Ver de Novo. Foi um fracasso tão grande que o folhetim teve seus 208 capítulos transformados em 83. Resultado bem diferente das enésimas repetições de O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta (2003) nas tardes da emissora.

Ou seja, é bem possível que Terra e Paixão seja mais um êxito na carreira de Walcyr Carrasco. Mas o sucesso não é matemática pura. Se não der certo, a Globo terá uma bomba de 221 capítulos em mãos. É um grande risco.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor