Em Amor Perfeito, próxima novela das seis com estreia agendada para o próximo dia 20 de março, o público vai acompanhar a saga de Marcelino (Levi Asaf, foto abaixo), um garoto de oito anos que nutre o sonho de conhecer sua mãe, a jovem Maria Elisa Rubião, a Marê (Camila Queiroz).

Levi Asaf - Amor Perfeito
Divulgação / Globo

A moça foi separada de seu filho por conta de sua madrasta Gilda (Mariana Ximenes), que também foi a responsável por separar Marê do médico Orlando (Diogo Almeida), seu grande amor. O rapaz, que é pai de Marcelino, partiu desiludido para o Canadá, sem nem ao menos saber da existência do herdeiro.

[anuncio_1]

Racismo tratado de forma diferente

Amor Perfeito - Camila Queiroz e Diogo Almeida
Bob Paulino / Globo

Camila Queiroz, que vai viver a protagonista da história escrita e criada por Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr, contou, em entrevista à revista Quem, que a temática do racismo e do machismo será tratada de forma inédita no folhetim.

Segundo ela, por se tratar de uma novela de época, o público já espera ver atores negros como escravizados, o que não vai acontecer em Amor Perfeito. A atriz afirmou que será apresentada ao público a história do Brasil que foi escondida dos livros de História.

Camila citou, por exemplo, a primeira faculdade de medicina do Brasil em Salvador na década de 1960. Naquela época, havia muitos mais médicos negros do que existem hoje em nosso país. E isso os livros não contam. Mas os autores trarão o assunto para a novela.

Racismo em Nos Tempos do Imperador

Dani Ornellas em Nos Tempos do Imperador

Não faz muito tempo que o assunto ganhou contornos drásticos dentro da própria Globo. Durante a produção de Nos Tempos do Imperador (2021) o diretor Vinicius Coimbra foi acusado por três atrizes de fazer segregação ao elenco negro que fazia parte da novela.

De acordo com as denúncias feitas pelas atrizes Roberta Rodrigues, Cinnara Leal e Dani Ornellas (foto acima), Vinicius e sua equipe as tratavam com falas agressivas e preconceituosas durante as filmagens, além de existir camarins separados para os atores negros e brancos dentro dos estúdios.

O caso atualmente se encontra nas mãos de um time jurídico contratado pelas três atrizes, que recentemente acionou o MPT (Ministério Público do Trabalho). O órgão, por sua vez, abriu uma investigação para apurar as práticas discriminatórias ocorridas nos bastidores da trama.

Vinícius Coimbra foi demitido da emissora em março de 2022, sob alegação de assédio moral, questão trabalhista que engloba entre outras práticas, ofensas raciais.

Tentativa de acordo

Vinicius Coimbra
Reprodução / Redes Sociais

Em 27 de fevereiro, o ex-diretor artístico (foto acima) concedeu uma entrevista à colunista Cristina Padiglione, da Folha de S.Paulo, onde revelou que teve uma conversa com os advogados das atrizes para tentar um acordo para compensar a situação que elas passaram.

“Entretanto, durante essa conversa, houve um pedido de reparação financeira, partindo deles, que estava além das minhas possibilidades. Dias depois, devolvemos uma contraproposta que julgamos proporcional à minha parcela de responsabilidade e condizente com a prática judicial brasileira no tema de dano moral. Tudo para tentar compor esse dano moral. Tudo para tentar compor esse dano de relação, reconhecido por mim como existente e por eles como não intencional. Nossa contraproposta não foi aceita, e há oito meses não temos mais contato”, revelou.

Sobre a questão de ter segregado o elenco negro com camarins separados nos estúdios, Coimbra se defendeu alegando que não era responsável pela distribuição dos camarins e que levou as queixas feitas pelos artistas aos departamentos responsáveis.

Coimbra ainda revelou que errou ao criar um grupo no WhatsApp intitulado “Diálogos” com os artistas negros, sem a presença dos atores brancos, para que eles trouxessem qualquer problema nos bastidores, ou sugestões no texto para que fosse resolvido o mais rápido possível. No entanto, ele admitiu que o que deveria ser uma forma de demonstrar cuidado, acabou se tornando um incômodo para eles.

Questionado pela colunista se ele se considera uma pessoa racista, Vinicius Coimbra preferiu ponderar afirmando que as pessoas brancas deveriam ter uma revisão sobre as atitudes racistas que eles cometem na sociedade.

“Todos nós, pessoas brancas, historicamente privilegiadas, podemos ser racistas em algum momento, mesmo sem perceber. São revisões que precisam ser feitas, de atitudes conscientes e inconscientes. Vivemos num sistema de privilégios herdado da época escravagista que favorece as pessoas brancas em prejuízo das pessoas negras há séculos. Se você se beneficia desse sistema, sem fazer nada para mudar, você está sendo racista”, completou.

Compartilhar.
Avatar photo

Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor