Substituição: internada antes de novela da Globo, atriz nunca mais voltou
11/11/2024 às 14h15
No último trimestre de 2006, Nair Bello preparava-se para atuar em Pé na Jaca, comédia concebida por seu amigo Carlos Lombardi para a faixa das 19h. Contudo, a atriz sofreu três paradas cardíacas às vésperas da estreia, entrando em coma. As cenas gravadas pela artista para a novela jamais foram ao ar.
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A veterana estava preparando-se para a festa de lançamento de Pé na Jaca, em um salão de beleza, quando sentiu-se mal. A cabeleireira Maria Nokolai relatou que Bello chegou ao estabelecimento queixando-se de cansaço. Ela desmaiou em seguida, sendo encaminhada à Santa Casa de São Paulo por uma equipe de resgate.
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Nair Bello foi transferida para o Sírio-Libanês, que, em boletim médico, deu detalhes do estado gravíssimo dela – em coma induzido e respirando com a ajuda de aparelhos.
O show não pode parar
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Por conta do ocorrido com Nair, Arlete Salles foi convocada às pressas para a trama de Lombardi. A artista, que estava em Manaus para um festival de cinema local, seguiu apressada para o Rio de Janeiro, onde gravou as primeiras cenas como Gioconda.
“Não acreditei. Recebi as cenas no sábado à noite, por fax, e na segunda, às 8h, já estava cortando o cabelo, ao meio-dia experimentando roupa e às 15h, no estúdio, gravando”, contou Arlete em entrevista à Folha de S. Paulo, de 18 de novembro de 2006.
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Como não pode estudar a personagem, Arlete Salles mostrou-se bastante insegura com a empreitada. Tanto que ela optou por não assistir as cenas iniciais, alegando ser muito crítica.
“Estou soçobrando como um naufrágio em ondas. Ainda estou procurando a personagem, sua alma, aprendendo no ar, esperando que a Gioconda apareça num canto do estúdio. Mas vou chegar à praia. A personagem vai ficar pronta diante do público”, prosseguiu.
“A Gioconda da Nair é paulista, tem a marca dela. Agora, comigo, vai ter um pouco de nordestina e de carioca. Meu sonho é que a Nair se recupere e retome a personagem de alguma forma”, completou, desejando forças à colega.
Após apresentar melhora, em janeiro de 2007, Nair Bello passou a sofrer de arritmia cardíaca e insuficiência respiratória. A atriz faleceu em 18 de abril do mesmo ano, por falência múltipla dos órgãos. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e sepultado no Cemitério do Araçá, no Pacaembu.
Legado
Nascida em São Paulo, em 28 de abril de 1931, Nair Bello entrou para a carreira artística aos 18 anos, após passar em um teste da Rádio Excelsior. O riso, desde sempre, foi sua marca registrada. Após cair na gargalhada de um contrarregra que imitava o galope de um cavalo, durante uma radionovela transmitida ao vivo, ela acabou expulsa da produção, seguindo para a linha de humor.
A estreia na TV foi através do humorístico O Riso é o Limite (1959), da Record, no qual viveu Dona Santinha, italiana que, quando irritada, dava tamancadas no marido Epitáfio (Renato Côrte Real). Nair resgatou tal figura no Zorra Total (1999), da Globo, então em parceria com Rogério Cardoso.
Em 1975, a artista de riso solto e contagiante viveu um drama pessoal: seu primogênito, Manuel, morreu em um acidente de carro. Bello entrou em depressão profunda, chegando a se isolar durante um ano. Ela só retornou aos holofotes após procurar o médium Chico Xavier, que psicografou uma carta do filho, em que ele a encorajava a voltar a atuar.
Cinco anos depois, Nair Bello estreou na Globo, em Olhai os Lírios do Campo – do amigo Geraldo Vietri. Nos anos seguintes, passou pela Band, estrelando seriados como Dona Santa (1981), Casa de Irene (1983) e Bronco (1987); este último com Ronald Golias, com quem seguiu para o SBT, em A Escolinha do Golias (1990).
Voltou para a emissora líder com Perigosas Peruas (1992), de Carlos Lombardi, também parceiro de Vira Lata (1996), Uga-Uga (2000), O Quinto dos Infernos (2002), Kubanacan (2003) e Bang-Bang (2005); esta última, a partir do argumento de Mário Prata. Nair esteve ainda em O Mapa da Mina (1993), A Viagem (1994), Malhação (1995) e Era Uma Vez… (1998).
Deixou saudades
Hebe Camargo, amiga de Nair Bello desde que atuaram juntas no filme Liana, a Pecadora (1951), lamentou a perda em um comunicado:
“A Nair está na minha vida há muito tempo. O que nós já rimos ou choramos ao longo desses anos é uma eternidade. Eternidade que ela alcança agora, depois de um período que nos fez sofrer e que certamente sofreu. Ainda não acredito que ela se foi. Onde buscarei o riso largo, os palavrões ditos em alto e bom som? (…) Nair, minha amada Nair. Nós nos encontraremos um dia”.
Outra amiga íntima de Nair, a também atriz Lolita Rodrigues, declarou:
“Eu perdi uma amiga, uma mãe, uma irmã, uma avó, uma pessoa querida. Ela era de uma generosidade impressionante”.
A veterana foi casada com Irineu Souza Francisco, falecido em 1999. Além de Manuel, os dois tiveram outros três filhos: José, Maria Aparecida e Ana Paula.