Há exatamente 12 anos, no dia 17 de outubro de 2008, terminava um dos sequestros mais dramáticos da crônica policial: Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, era assassinada por seu ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, após uma desastrada negociação da polícia militar. O fato ocorreu em Santo André (SP) e, com a vítima em cárcere privado por mais de 100 horas, ganhou destaque no Brasil e no mundo.

Um dos pontos mais lembrados, também tema de estudos e de um documentário, foi o sensacionalismo da imprensa em cima do caso. Logo que o sequestro começou, os jornalistas foram deslocados ao local e se iniciava uma extensa cobertura na TV, no rádio e na internet.

O caso não ficou restrito apenas aos telejornais: programas de entretenimento, como A Tarde é Sua, da RedeTV!, e Hoje em Dia, da Record TV, debatiam, analisavam e exploravam o caso por horas.

Com a câmera fixa exibindo a janela do apartamento em que Eloá e sua colega, Nayara Silva, eram feitas de reféns, a apresentadora Ana Hickmann pedia ao sequestrador para aparecer e dar um “tchauzinho” para o programa e, se não bastasse, também encorajava as vítimas a acenar à imprensa e confirmar que estavam bem.

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O fato mais lembrado aconteceu no programa de Sonia Abrão. A produção teve acesso ao número do telefone fixo do cativeiro e um jornalista entrou em contato. No primeiro momento, o repórter Luiz Guerra se identifica como um amigo da família que apenas estava buscando informações. Lindemberg questiona e Guerra finalmente se identifica como jornalista, mas tenta se aproximar e negociar, inclusive chamando o sequestrador de “querido” e “filho”. A própria Eloá fala pelo telefone e Luiz Guerra pede para que ela mande recados para seus familiares.

Naquele momento, o sequestrador sentiu que tinha o controle da situação e exigiu que a matéria fosse veiculada na integra, sem cortes. Ele segue com ameaças à vítima e relembra o sequestro do ônibus 174, que ocorreu no Rio de Janeiro no ano de 2000 e resultou na morte da professora Geísa Firmo Gonçalves.

E não parou por aí: Sonia Abrão entrou em contato com Lindemberg e começou a debater com ele ao vivo, em rede nacional. A apresentadora pedia que ele liberasse as vítimas e que sentia preocupação com o criminoso. Chegaram até mesmo a combinar como seria o fim do sequestro, ensaiando passos e gestos, enquanto ele dizia que tinha um saco de balas.

O bandido falou com outros veículos e sentiu que tinha tanto a polícia quanto a mídia nas mãos, afinal, independentemente do canal, ele era destaque e se vangloriava por tudo isso.

No dia 17 de outubro de 2008, a polícia invadiu o apartamento e Lindemberg desferiu dois tiros em Elóa, na cabeça e na virilha, e em Nayara, que foi atingida na boca. As imagens do desfecho foram exibidas ao vivo para todo o País e, posteriormente, a Globo exibiu vídeos amadores que mostravam toda a ação.

A morte cerebral de Eloá foi anunciada um dia depois, na noite de 18 de outubro, mas a Globo deu uma “barrigada”, anunciando a morte da vítima antes, sem nenhuma confirmação do corpo médico.

Roberto Cabrini, que estava na Record TV, conseguiu com exclusividade um vídeo com o sequestrador, já preso, descrevendo toda a ação. Na época, a Folha de S.Paulo disse que as imagens foram negociadas por R$ 50 mil, o que a emissora negou.

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O velório da garota, aberto ao público, foi transmitido ao vivo por diversas emissoras, mostrando o sofrimento da família e criando um palco para debates e análises em torno do cadáver de Eloá.

Lindemberg Alves foi condenado a 39 anos e três meses de reclusão. A mídia fez mudanças nesse tipo de cobertura e a polícia mudou o modo de agir nas negociações.

Infelizmente, neste caso, acompanhamos, em nossa sala de estar, a agonia e a morte de uma jovem de apenas 15 anos.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor