O talentoso Pedro Paulo Rangel (foto abaixo), que nos deixou no último dia 21 de dezembro, disse em entrevista que nunca entrou em conflito por não ter interpretado galãs na televisão. O ator também revelou que tinha medo de morrer.
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No entanto, o artista era discreto sobre vida pessoal e nunca falou sobre sua orientação sexual. Ele nunca se casou e nem teve filhos.
Trabalhos memoráveis
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Pedro Paulo Rangel nasceu no Rio de Janeiro em 29 de junho de 1948. Conhecido por sua versatilidade ao interpretar papéis cômicos e dramáticos, se destacou ao viver tipos memoráveis na carreira como o Juca Viana de Gabriela (1975) e Audálio de Vale Tudo (1988).
Outros personagens marcantes foram o Adamastor de Pedra Sobre Pedra (1992), o Calixto de O Cravo e a Rosa (2000) e o tio Gigi de Belíssima (2005). Além disso, o ator atuou nos humorísticos Viva o Gordo (1981) e TV Pirata (1988).
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Personagem gay aceito pelo público
Mesmo com tantos trabalhos em seu extenso currículo, Rangel protagonizou apenas uma novela, O Noviço, em 1975. Ele também viveu um galã uma única vez, na novela Saramandaia, em 1976.
O ator confessou que, por nunca ter exigido cuidados em relação à sua imagem, ele jamais entrou em conflito por ser uma pessoa pública.
“O personagem Dirceu, da novela Saramandaia, foi o primeiro e único galã que cometi. Não peguei gosto e nem tão pouco me causou mossa. Não tenho essa vivência, mas vejo que alguns reclamam um pouco do excesso de açúcar. Nunca entrei em conflito por ser uma pessoa pública. Talvez por não ter que agir como um galã”, revelou ele, em entrevista ao portal RD1 em 4 de setembro de 2015.
Mais adiante, na mesma entrevista, o ator relembrou sua atuação como um gay na novela Pedra Sobre Pedra (1992). Ele afirmou que a aceitação de Adamastor pelo público se deu porque ele soube lapidar bem o personagem.
“Adamastor foi uma pequena joia construída por Aguinaldo Silva e lapidada por mim, digo sem nenhuma modéstia. Não concordo que ele estava ‘dentro de padrões’, mas sim que apresentava padrões diferentes para personagens identificáveis como gays”, enfatizou.
“Não era pintosa, mas tinha laivos de frescura. Não desmunhecava, mas em alguns momentos perdia o controle das mãos. Não agia como mulher, mas tinha uma alma feminina. Não tenho certeza se o público percebia isso. Mas minha alta autoestima em relação a aquele trabalho quer me convencer que o público sentia isso e era o suficiente para mim”, completou
E ao ser questionado o motivo de alguns personagens gays ainda serem rejeitados pelo grande público, Pedro Paulo disparou.
“Machismo e hipocrisia”, respondeu.
Medo de morrer
O último trabalho de Pedro Paulo Rangel foi o monólogo O Ator e o Lobo, espetáculo com tom autobiográfico no qual ele revelava, em cena, que tinha medo de morrer.
Durante a apresentação, o artista narrava as lembranças que guardava da infância convivendo com os avós portugueses, e abria histórias dos bastidores do período que trabalhou na Globo, além de experiências no teatro e da sua vida política, quando integrou o elenco da montagem de Roda Viva, em 1968, do Teatro Oficina.
A apresentação, que entremeava as memórias de Rangel com crônicas e trechos de romances do escritor português António Lobo Antunes, deixava para o público o que seria realidade ou ficção o que o ele estava narrando no palco. Um dos pontos altos era o seu depoimento de como descobriu que sua mãe tinha um amante.
Ainda neste espetáculo, que teve o texto assinado pelo veterano ator, Rangel abordou alguns temas delicados, como a dificuldade de se assumir homossexual, apesar de nunca ter falado sobre sua própria orientação publicamente, ao longo da vida. Ele também contava como imaginava o mundo artístico quando era jovem.
O Ator e o Lobo se encontrava em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio, mas acabou sendo interrompido com a internação do ator.
Pedro Paulo Rangel estava internado desde o dia 30 de novembro no CTI da Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio, para tratar de uma descompensação do quadro de enfisema pulmonar.