A atual novela das sete vem conseguindo agradar o público com um enredo leve e que rende inusitadas situações em torno da família de 1886 que descongelou em 2018. É verdade que O Tempo Não Para tem pecado pela ausência de bons conflitos, Mário Teixeira parece sem rumo em torno dos acontecimentos de sua história e a falta de ritmo já está incomodando. Porém, o folhetim ainda é agradável de se acompanhar e um dos êxitos do autor é a dupla formada por Coronela e Januza, duas personagens que pareciam irrelevantes no começo.

Solange Couto e Bia Montez foram escalações certeiras. As duas logo demonstraram um entrosamento cênico e não demorou para a dupla protagonizar momentos engraçadíssimos. Embora se odeiem, uma não vive sem a outra e amam fofocar sobre a vida dos outros. Sempre falando mal, é claro. A equipe de cenografia, inclusive, merece elogios pela ótima ideia de colocar uma janela na cozinha, bem em frente ao refeitório dos clientes da pensão, remetendo aos velhos tempos das vizinhas futriqueiras.

Aliás, Coronela é dona da modesta pensão em São Paulo e Januza trabalha como escrava para a patroa, que lhe deve vários ordenados. A dona do estabelecimento se considera uma pessoa muito requintada e ama dinheiro. Tanto que faz de tudo para se aproveitar dos outros, como, por exemplo, vender lixo reciclável para Eliseu (Milton Gonçalves).

Ao perceber que Dom Sabino (Edson Celulari) e Dona Agustina (Rosi Campos) eram os “famosos congelados”, logo se interessou pela possível fortuna que o casal poderia ter e fez questão de abrigá-los, cobrando bem caro por isso. Ela ainda é mãe de Waleska (Carol Castro), Oficial da Marinha que investigava o caso da família de 1886.

E Januza é uma solteirona que se acha irresistível. Mesmo insatisfeita com a exploração, segue ao lado da patroa e represa uma fiel escudeira. Nem tão fiel assim, diga-se. Isso porque as duas passaram a protagonizar um triângulo amoroso desde que Teófilo (Kiko Mascarenhas), o guarda-livros de Dom Sabino, foi descongelado e se mudou para a pensão junto de seus patrões.

Coronela, pensando na grana que o homem administra, logo se aproximou e iniciou um caso com ele. A empregada, por sua vez, não pensou duas vezes e fez questão de partir para cima do atrapalhado sujeito com o claro intuito de “furar os olhos” da rival. Esse contexto rendeu uma cena mais hilária que a outra.

As personagens, ao menos nas primeiras semanas, pareciam meras coadjuvantes sem muita importância. Felizmente, foi uma impressão equivocada. O autor tem destacado bastante as atrizes e a tendência é manter a relevância da dupla no enredo. As duas estão ótimas e merecem essa valorização.

Curiosamente, inclusive, ambas não recebiam papéis dignos do talento há anos e as personagens mais emblemáticas das intérpretes foram duas Donas: a Dona Jura – em O Clone (2001), há 17 anos – e a Dona Vilma – em Malhação (2001/2007), há 11 anos. O autor não poderia ter uma ideia melhor do que juntar dois talentos tão marcantes em uma parceria cômica.

Depois do sucesso na trama de Glória Perez, Solange ganhou perfis apagados em novelas como Começar de Novo (2004), Três Irmãs (2008), Ribeirão do Tempo (2010) – Record – e Malhação – Seu Lugar No Mundo (2015). Bia sofreu do mesmo mal, vide participações sem muita importância em Beleza Pura (2008), Dona Xepa (2013) – Record – e A Lei do Amor (2016).

O Tempo Não Para é uma trama leve e um dos trunfos da novela tem sido a parceria de Solange Couto e Bia Montez. As atrizes ganharam bons papéis e o festival de maledicência protagonizado por Coronela e Januza diverte quem assiste. Que cresçam ainda mais até o final da trama.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor