Sol Nascente chega ao fim nesta terça-feira (21) após 175 capítulos. Ao longo de sua trajetória, a novela de Walther Negrão, Suzana Pires e Júlio Fischer ficou marcada por todo um conjunto de erros: histórias fracas, ritmo arrastado, escalações erradas, pífio desenvolvimento do enredo, problemas de bastidores e desperdício de talentos.

Sua premissa central abordou o amor de Mário (Bruno Gagliasso) e Alice (Giovanna Antonelli), ele, neto dos italianos Gaetano (Francisco Cuoco) e Geppina (Aracy Balabanian); ela, filha adotiva de uma família japonesa liderada por Kazuo Tanaka (Luís Melo).

Os dois são amigos de infância e se apaixonam inesperadamente; porém, a mocinha se interessa pelo ambicioso César (Rafael Cardoso), que quer se aproximar dela para roubar a empresa de pescados de Tanaka juntamente com a avó, Sinhá (Laura Cardoso), uma golpista disfarçada de senhora amorosa. Uma trama muito fraca para ser enredo principal de uma novela, pois não havia grandes obstáculos para os mocinhos ficarem juntos.

Paralelamente ao núcleo central, outras histórias se desenrolavam de forma igualmente pífia: o bar Rota 94, ponto de encontro de motociclistas, era liderado por Lenita (Letícia Spiller) e seu irmão, o tatuador Ralf (Henri Castelli). Ela se encanta por Vittorio (Marcello Novaes), pai de Mário, enquanto o personagem de Castelli se envolveria com Milena (Giovanna Lancelotti), irmã de Mário, inicialmente uma garota sem vaidades, que se transforma em uma adolescente rebelde após rejeitar o namoro do pai com Lenita, em função da esperança do retorno da mãe, Loretta (Cláudia Ohana), que abandonou o marido e os filhos. Além disto, um núcleo de personagens caiçaras liderado por Dora (Juliana Alves), Tiago (Marcello Melo Jr.) e Chica (Tatiana Tibúrcio) mostrou-se praticamente avulso, sem que seus personagens tenham uma função definida.

Em função da fraqueza das tramas, ficou evidente o desperdício de talentos de boa parte do elenco. Giovanna Antonelli, uma das melhores atrizes do país, desta vez apresentou um desempenho apenas correto, sua mocinha naufragou e em muitos momentos irritou por ser facilmente manipulável, além de o biotipo da personagem ser inadequado para Giovanna – Alice poderia muito bem ser vivida por uma atriz bem mais jovem. Do mesmo mal sofreu o também talentoso Bruno Gagliasso – em virtude da inadequação dos perfis e da história desinteressante, a química entre os atores foi nula.

Letícia Spiller e Marcello Novaes chamaram atenção logo nas chamadas, pelo fato de novamente fazerem um par romântico, como ocorreu em Quatro Por Quatro (1994), na qual fizeram tanto sucesso que chegaram a ficar juntos na vida real. Ao contrário de Antonelli e Gagliasso, aqui a mesma química da novela anterior continuou presente. Ainda assim, o par foi igualmente mal aproveitado, mesmo com os conflitos causados pelo retorno de Loretta (Cláudia Ohana). Nomes como Aracy Balabanian, Renata Dominguez, Maria Joana, Sílvia Bandeira, Juliana Alves, Marcello Melo Jr., Sílvia Bandeira e João Côrtes também não tiveram seus talentos valorizados.

Rafael Cardoso, após uma série de mocinhos, ganhou a chance de viver um personagem diferente, o vilão César, e se saiu bem, mesmo em meio à história problemática. A talentosa Giovanna Lancelotti ganhou destaque com a transformação e o amadurecimento de Milena e seu envolvimento com Ralf (Henri Castelli) chegou a ganhar certa torcida nas redes sociais.
Problemas de bastidores também afetaram a condução de Sol Nascente. Antes da estreia, a escalação de Luís Melo como um japonês despertou críticas, uma vez que o grande ator não possuía o biotipo necessário. Além disso, Laura Cardoso e o autor Walther Negrão sofreram com problemas de saúde. A ausência da grande atriz foi sentida, uma vez que Sinhá era um dos raros acertos da novela, e o afastamento deixou a sensação de marasmo ainda pior. A solução foi a entrada da grandiosa Nívea Maria como Dona Mocinha, irmã de Sinhá, que representaria seu papel e se regenerou na reta final.

Porém, nem tudo é ruim. Um justo acerto que merece ser reconhecido é a homenagem preparada pelo elenco para o retorno de Laura Cardoso às gravações, no início de janeiro deste ano, sendo aplaudida pelo elenco no bar Rota 94. Ficção e realidade se misturaram na cena e foi visível o carinho dos colegas pela veterana. O retorno de Sinhá desencadeou uma trama policial que chegou a levar Alice para a cadeia.

Mais tarde, Sol Nascente teve seu fim adiado em nove capítulos em função de problemas nos bastidores de sua sucessora, Novo Mundo. Os autores aproveitaram este esticamento para fazer com que César surtasse – um vício recorrente em tramas de Walther Negrão – e para criar um conflito desnecessário para o casal Milena e Ralf: a entrada do professor Daniel (Lucas Lucco), despertando o ciúme do tatuador, não acrescentou em nada à novela.

A trama de Negrão, Fischer e Suzana Pires, em função do ritmo lento e da falta de bons conflitos, derrubou seis pontos da média geral de sua antecessora, Eta Mundo Bom, um fenômeno de Walcyr Carrasco. Ainda assim, está prevista para fechar com 21 pontos, dentro da meta do horário e pouco acima de novelas de qualidade e repercussão muito superiores, como Sete Vidas (19) e Além do Tempo (20).

Apesar da audiência satisfatória, Sol Nascente não pode ser considerada uma boa novela. A pouca criatividade dos autores, o mau aproveitamento de seu elenco, o enredo nada atraente e mal desenvolvido e os problemas de bastidores contribuem para que a história seja rapidamente esquecida. Não deixará saudades.


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