Nilson Xavier

Travessia, atual novela das nove da Globo, encara um desafio que não tem sido fácil: segurar os ótimos índices de audiência de Pantanal. Esta é a sina de toda novela que substitui um grande sucesso. Mais do que conquistar o novo público, é preciso, ao menos, agradar os viúvos da novela que finou-se. Passaram por essa situação dezenas de tramas.

Existe uma falácia na internet de que toda produção precedida por um sucesso é ofuscada pelo sucesso da atração anterior. Até acontece, mas uma coisa nada a tem a ver com a outra. Este não é um postulado ou um dado científico que deva ser usado como regra.

Esclarecimento: quando falo em “sucesso”, não me refiro exclusivamente a números de audiência, mas a uma série de fatores:  também repercussão, importância e lembrança do público. 

Público viúvo

Pantanal

O que determina o sucesso, a audiência ou a repercussão de uma telenovela não é a que a precedeu ou sucedeu. O máximo que pode acontecer é o público, ao sentir-se “viúvo” das tramas e personagens da obra que termina, passar inicialmente a rejeitar a nova que inicia.

Uma novela pode ficar seis meses no ar e, logicamente, a emissora fará o que estiver ao seu alcance para despertar a atenção do espectador. Inúmeros foram os casos de novelas que começaram cambaleando na audiência, mas este quadro acabou revertido e o público conquistado.

Inúmeros, também, foram os casos de novelas seguidas que foram sucesso popular, no Ibope ou em repercussão, mesmo que tenham começado “mal”.

Década de 1970

Irmãos Coragem

Entre as décadas de 1960 e 1970, autores escreviam novelas seguidas, como Janete Clair. Véu de Noiva foi reconhecidamente um sucesso. A novela seguinte, Irmãos Coragem, também de sua autoria, teve ainda mais repercussão. Uma trama nada a tinha a ver com a outra. Pelo contrário, uma era urbana e a outra, rural.

No antigo horário das dez da noite da Globo, uma sequência de três títulos marcaram a TV: Assim na Terra Como no Céu, O Cafona e Bandeira Dois, exibidas entre 1970 a 1972. Na mesma época, quatro novelas do horário das sete fizeram bonito no Ibope: Minha Doce Namorada, O Primeiro Amor, Uma Rosa com Amor e Carinhoso, no ar entre 1970 e 1974.

Entre 1976 e 1977, três novelas das sete: Anjo Mau, Estúpido Cupido e Locomotivas. Entre 1978 e 1979, uma trinca de ouro às oito da noite: O Astro, Dancin´ Days e Pai Herói.

O reinado da faixa das sete

Guerra dos Sexos

O horário das sete reinou por toda a década de 1980. A sequências de novelas de sucesso eram raramente quebradas, como Jogo da Vida, Elas por Elas, Final Feliz e Guerra dos Sexos, entre 1981 e 1983.

Outra sequência inesquecível foi entre 1987 e 1990: Brega e Chique, Sassaricando, Bebê a Bordo, Que Rei Sou Eu? e Top Model. Não podemos deixar de fora Ti-ti-ti seguida de Cambalacho, entre 1985 e 1986.

No final da década, o horário das oito bombou com uma sequência de ouro: Vale Tudo, O Salvador da Pátria, Tieta e Rainha da Sucata, no ar entre 1988 e 1990.

Anos 1990 e a guerra pela audiência

Marcos Frota

A partir da década de 1990, com o acirramento da “guerra pela audiência”, os casos de sequências de sucesso começam a diminuir. A Globo passou a não mais reinar absoluta no gosto do público.

Assim tivemos bons momentos, como 1993 para 1994, com Mulheres de Areia e Sonho Meu, às 18 horas; e 1994 e 1995, com A Viagem e Quatro por Quatro, às 19 horas.

No horário nobre, a trinca O Rei do Gado, A Indomada e Por Amor, entre 1996 e 1998, e Terra Nostra e Laços de Família, de 1999 a 2001.

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Anos 2000 em diante

Mulheres Apaixonadas

Os casos foram rareando, mas nunca deixaram de ocorrer. Às 21 horas, Mulheres Apaixonadas, Celebridade, Senhora do Destino e América, entre 2003 e 2005; e A Favorita e Caminho das Índias, entre 2008 e 2009.

Às 18 horas, Chocolate com Pimenta e Cabocla, entre 2003 e 2004; e Alma Gêmea e Sinhá Moça, entre 2005 e 2006 – curiosamente, novelas de Walcyr Carrasco seguidas de remakes de Benedito Ruy Barbosa.

Já nos anos 2010, vale destacar Fina Estampa e Avenida Brasil, às 21 horas, entre 2011-2012; Totalmente Demais e Haja Coração, às 19 horas, entre 2015 e 2016; e A Força do Querer e O Outro Lado do Paraíso, de novo às 21 horas, entre 2017 e 2018.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor