Em 7 de março de 1977, a Globo estreou a primeira de suas duas versões para o Sítio do Picapau Amarelo. A adaptação da obra de Monteiro Lobato, em parceria com o Ministério da Educação e Cultura e a TV Educativa – hoje TV Brasil –, marcou a história dos programas infantis na televisão.

Sítio do Picapau Amarelo

O ‘Sítio’, que contava com Zilka Salaberry, Jacyra Sampaio, Dirce Migliaccio, André Valli, Rosana Garcia e Júlio César no elenco principal, tornou-se alavanca para o horário nobre. A programação daquele tempo era quase toda importada, com desenhos e séries dominando as manhãs e as tardes.

Atrações educativas da TVE abriam a grade, às 8h. Logo depois, 9h, a animação Os Herculóides – substituída na semana seguinte pelas reapresentações do Sítio do Picapau Amarelo. A série Perdidos no Espaço ocupava o vídeo a partir das 9h30. Em seguida, 10h30, O Túnel do Tempo e Terra de Gigantes em esquema de revezamento. ‘Túnel’ ficava com as segundas, quartas e sextas-feiras; ‘Gigantes’ nas terças e quintas.

Finalizando o período matutino, os documentários de O Mundo Animal (11h30) e a reprise do Globinho veiculado no dia anterior (11h55). Berto Filho respondia pela apresentação do boletim com notícias “dos adultos” transmitidas numa linguagem acessível para crianças e adolescentes.

Berto também conduzia o Jornal Hoje, ao lado de Lígia Maria e Sônia Maria, às 13h. O formato unia jornalismo às “revistas femininas”, com direito a previsões do horóscopo nas idas para o intervalo e análises dos lançamentos em discos e fitas por Nelson Motta. Antes, 12h, o Globo Cor Especial contava com Os Flintstones e outros cinco desenhos, distribuídos de segunda a sexta: Josie e as Gatinhas, Fantasminha Legal, Top Cat, Os Monstros Camaradas e Missão Quase Impossível.

A partir das 13h30, a Globo reexibia Vejo a Lua no Céu (1976) – a faixa só ganhou o título Vale a Pena Ver de Novo em 1980. No capítulo do dia, Suzana (Norma Blum), desconfiada das escapadelas de Fernando (Eduardo Tornaghi), ensopa o banheiro, causando a queda do noivo. Mesmo avariado, o rapaz segue para o bar onde está trabalhando, escondido da amada, que não sabe do rompimento dele com a família, por amor a ela.

A Sessão da Tarde (14h) destacou o filme para TV Tom Sawyer (1973), dirigido por James Neilson. Ainda, a Sessão Comédia (16h), com A Feiticeira toda segunda, quarta e sexta e Jeannie é um Gênio nas terças e nas quintas. A Faixa Nobre (16h45) também exibia séries, uma para cada dia da semana. Incluía-se na sessão Phyllis, O Agente 86, Rhoda, Holmes & Yoyo e Mary Tyler Moore.

O ‘Sítio’ entrava no ar às 17h25, com O Picapau Amarelo. Nesta trama, Pedrinho (Júlio César) deixava a cidade grande para viver ao lado da avó e da prima, Dona Benta (Zilka Salaberry) e Narizinho (Rosana Garcia), na propriedade da família, onde Tia Nastácia (Jacyra Sampaio) reagiu chocada à boneca de pano que virava gente (Emília, Dirce Migliaccio) e ao sabugo de milho que também virava gente (Visconde de Sabugosa, André Valli).

Logo após o Globinho (17h55), então inédito, À Sombra dos Laranjais, de Sylvan Paezzo e Benedito Ruy Barbosa, ouriçava o público dos folhetins das 18h com a procura de Das Graças (Monah Delacy) por sua filha. Ela cruzou com a menina numa ida à farmácia. O problema é que Zulmira (Isis Koschdoski), fruto da relação da artista circense com Tomé (Ary Fontoura), acreditava ser herdeira de Marta (Beatriz Lyra) – irmã de seu pai biológico, que também atacava de palhaço.

O bloco HB 77, às 18h50, trazia os desenhos A Formiga Atômica, O Esquilo sem Grilo, Zé Buscapé, A Feiticeira Faceira, Lula Lelê e O Xodó da Vovó, distribuídos de segunda a sábado. As animações dos estúdios Hanna-Barbera asseguravam mais de 70% de audiência, embaladas pelas tramas das 18h e das 19h.

Aliás, Locomotivas, de Cassiano Gabus Mendes, foi a responsável pelos maiores índices da década neste último horário. A primeira produção a cores das 19h apostou, naquela segunda, na chegada de Celeste (Ilka Soares) ao prédio onde Margarida (Miriam Pires) morava com o filho, Netinho (Dennis Carvalho). A solteirona logo reparou no zelo excessiva de Margarida com o herdeiro. E Netinho, então interessado em Patrícia (Elizangela), não demorou a cair de amores pela nova vizinha…

A partir das 19h45, Cid Moreira e Sérgio Chapelin narravam as notícias do Brasil e do mundo no Jornal Nacional. Em 1977, Glória Maria fez a primeira entrada ao vivo e a cores no ‘JN’, cobrindo o movimento da saída de carros do Rio de Janeiro em um fim de semana.

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Tal qual Um Lugar ao Sol, com Rebeca (Andréa Beltrão) e Felipe (Gabriel Leone), Duas Vidas, de Janete Clair, às 20h10, focalizava o relacionamento de uma mulher mais velha com um homem mais jovem.

Sônia (Isabel Ribeiro) estava decidida a ir embora do Rio de Janeiro quando soube do acidente do namorado, Maurício (Stepan Nercessian). Ela correu para o hospital visitá-lo, mas se escondeu para não encarar o pai e a noiva do rapaz, Seu Sena (Hélio Ary) e Juliana (Christiane Torloni).

Duas Vidas

O humorístico O Planeta dos Homens (21h) garantia o humor nas noites de segunda com quadros capitaneados por Jô Soares e Paulo Silvino, entre outros, críticas ao regime militar e paródias como Seu Flor e Suas Duas Mulheres e 7 ou 700 – do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e do dominical 8 ou 800.

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Após a linha de shows, que contava também com o Globo Repórter às terças, séries e documentários em Quarta Nobre, Chico City nas quintas e especiais na Sexta Super, Berto Filho voltava ao vídeo para o noticioso Jornalismo Eletrônico, de apenas cinco minutos (21h55).

Sem novela inédita para 22h, após a censura de Despedida de Casado, a Globo recorreu ao compacto de O Bem-Amado (1973). Coube ao então editor Paulo Ubiratan – promovido a diretor-geral e de núcleo nos anos seguintes – condensar a obra de Dias Gomes, estrelada por Paulo Gracindo, como o inesquecível Odorico Paraguaçu.

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O Jornalismo Eletrônico contava com uma segunda edição, às 22h25, antes da segunda linha de shows, com Amaral Neto, o Repórter e as séries Baretta, Contragolpe, Kojak e As Panteras.

Para encerrar a noite, o jornal Amanhã (23h45), com Carlos Campbell e Márcia Mendes, que introduziu projeções no cenário e séries especiais, divididas em cinco edições. Ainda, a sessão Coruja Colorida, com O Mensageiro (1970).

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.