Sinal de alerta: em 10 anos, Globo teve mais fracassos que sucessos

25/01/2023 às 10h39

Por: Dyego Terra
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Jade Picon e Chay Suede em Travessia

Dyego Terra

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É dramática a situação da Globo em sua principal faixa de novelas. Em dez anos, a emissora coleciona fracassos de audiência e repercussão, tendo a maioria dos títulos exibidos saindo de cena com baixos índices ou totalmente esquecido pelo telespectador – isso quando as duas coisas não acontecem.

Fábio Rocha / Globo

Foram poucos os motivos que o canal teve para comemorar na última década. A conta atual é totalmente desigual. De dezoito tramas exibidas em todo este período, apenas sete podem ser consideradas êxitos.

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Avenida Brasil abriu as portas

Avenida Brasil - Débora Falabella

Encabeçando a lista, Avenida Brasil (2012), de João Emanuel Carneiro, talvez tenha sido o maior fenômeno dos últimos anos. Nunca antes – e nem depois -, uma história foi tão comentada pelo público, tanto no boca a boca, como pelas redes sociais.

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Absolutamente tudo sobre o folhetim repercutia, desde as desventuras dos personagens, que eram como se fizessem parte de cada família brasileira, aos erros de lógica do enredo – como a história de Nina (Débora Falabella) com o famigerado pendrive.

Mas, se a produção, que conquistou não só o Brasil, mas também o mundo, angariou um grandioso número de telespectadores, em seguida a sua substituta espantou todo mundo.

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Salve Jorge as fechou

Salve Jorge - Carolina Dieckmann e Nanda Costa

Salve Jorge, do mesmo ano, escrita por Gloria Perez, viveu uma situação completamente oposta a da trama anterior. Controversa, com um elenco gigantesco que chegava a ficar um mês sem dar as caras e com uma mocinha apática, o melodrama não emplacou e jogou fora todo o sucesso recente da faixa.

“E agora, quem poderá me ajudar?” Ele mesmo: Walcyr Carrasco. Chamado para ressuscitar faixas e mudar o panorama de um horário quando tudo parece perdido, o escritor trouxe sobrevida com Amor à Vida (2013).

Ele apresentou uma história que, mesmo criticada e bem barriguda, voltou a repercutir. Afinal, quem não falava do vilão que virou comediante Félix (Mateus Solano), da louca Valdirene (Tatá Werneck), entre outros? Além, é claro, dos números subirem consideravelmente.

Gangorra

Império - Alexandre Nero

Na gangorra das produções, a faixa voltou à parte de baixo com Em Família (2014). Manoel Carlos se despediu mal dos melodramas com um que ninguém se quer lembra que existiu. Passou totalmente em branco.

Na sequência, agora na parte mais alta, Agnaldo Silva emplacou Império (2014), a novela do Comendador (Alexandre Nero) como ficou conhecida. Apesar do enredo depender exclusivamente do personagem para render, o saldo foi positivo, tanto que foi uma das escolhidas para retornar no período pandêmico. Se deixou tanta saudade assim para tal, é assunto para outra conversa…

Em 2015, a gangorra quebrou de vez. Abriu-se a porta dos fracassos de tal forma que foi difícil fechá-la. A Globo, na certa, quis esquecer a sequência de Babilônia (2015), A Regra do Jogo (2015), Velho Chico (2016) e A Lei do Amor (2016). Foram simplesmente quatro tramas em sequência sem ver a cor do sucesso. Todas controversas, criticadas ou simplesmente ignoradas. Não teve chamada citando João Emanuel como “do mesmo autor de Avenida Brasil” que tenha salvo A Regra do ostracismo.

Dupla de sucesso

A Força do Querer - Paolla Oliveira e Raul Gazolla

Gloria Perez, que faz uma novela boa e outra não, voltou inspirada após o fracasso de Salve Jorge e entregou uma ótima trama em A Força do Querer (2017). Foi a Globo tirando a barriga da miséria depois de longos anos sem conseguir emplacar nada. Abordando assuntos que repercutiram, como a transexualidade, vício em jogos e sereísmo, o enredo foi o respiro que a empresa tanto precisava diante de inúmeros fiascos.

Walcyr, fermento de ibope que salva faixas advindas do mais profundo subsolo, não teve dificuldade alguma em emplacar mais um folhetim, agora recebendo com bons índices. Assim, mesmo complicada e beirando o ridículo em diversos momento, a vingança de Clara (Bianca Bin) carregou a novela nas costas e fez de O Outro Lado do Paraíso um grande sucesso em 2017.

Alegria durou pouco…

Segundo Sol

A alegria da rede, no entanto, não durou muito, pois Segundo Sol (2018) não manteve o desempenho da antecessora e se confirmou como uma novela que dividia o telespectador entre ser boa e ruim, enquanto O Sétimo Guardião (2018) foi ladeira abaixo, irritando o público e até os artistas do elenco.

Alguns até decidiram se aposentar após o folhetim, como Bruno Gagliasso. Vale lembrar que, após a trama, Agnaldo Silva foi demitido da Globo, que ainda carregou a polêmica de plágio. Um projeto para o canal esquecer.

O salvador da pátria

Juliana Paes - A Dona do Pedaço

Divulgação / TV Globo

Coube à Carrasco salvar a pátria com outra história problemática, mas farofada do jeito que o povo gosta. Assim, A Dona do Pedaço (2019) ficou por muito tempo como o último êxito do canal no horário das nove, até porque, no ano posterior, viria a pandemia de Covid-19, obrigando a estação a reprisar alguns folhetins.

Última antes da pausa obrigatória, Amor de Mãe (2020) começou bem promissora, mas a autora Manoela Dias foi perdendo o fim da meada e a novela foi desagradando meio mundo logo depois. Muita gente parou para assistir a continuação após a pausa pela crise sanitária na base do ódio, apenas porque já havia visto boa parte do começo antes de desistir. Depois de tanta espera, pelo menos o reencontro entre Lourdes (Regina Casé) e Domênico (Chay Suede) era de lei.

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Maior fracasso de todos os tempos

Primeira trama inédita após a pandemia, porém gravada praticamente inteira durante o período, Um Lugar ao Sol (2021), como bem argumentou um importante diretor da emissora, foi a novela que deu para ser feita naquele momento.

Estreia de Lícia Manzo na faixa principal, o folhetim, que não recebeu lá muito bem da reprise de Império, não agradou de início e também não teve forças para conquistar o seu espaço, saindo do ar como a pior audiência de uma novela das nove da história.

Sucesso emprestado

Pantanal - Cristiana Oliveira, Ingra Lyberato e Marcos Palmeira

Foi necessário recorrer ao remake de Pantanal, sucesso dos anos 90 da extinta Manchete, para colocar ordem na casa. Considerada o fenômeno do ano, a história da trupe de Zé Leôncio (Marcos Palmeira) dominou os programas da casa, deu fama a todo elenco, inclusive ao da primeira fase – mesmo que esse tenha ficado por pouco tempo no ar -, virou assunto entre as pessoas no dia a dia, internet e tudo isso se refletiu na audiência, que voltou a crescer e revisitou a casa dos 30 pontos.

Destaque para a fotografia e direção do folhetim, além, é claro, para todo o elenco, que apesar de reclamações a Bruno Luperi porque a novela não corrigiu problemas da versão original, escrita pelo avô Benedito Ruy Barbosa, teve um saldo mais que positivo.

Público das nove evaporou

Encerrando 2022, Travessia pertence ao ano da alternância em que Gloria não entrega novela boa. Totalmente oposta à antecessora, a produção é insossa, anda em círculos e padece da falta de carisma, tanto na história, como nos personagens. A mocinha é tão sem sal quanto a de Salve Jorge e, curiosamente, quem rouba a cena é justamente um casal advindo da mesma trama, Helô e Stênio, personagens interpretados por Giovanna Antonelli e Alexandre Nero, voltando aos mesmos papéis dez anos depois.

Não dá para dizer que o enredo não repercute nas redes, mas os comentários, em sua maioria, são de críticas às situações incoerentes e controversas da trama. Já no ibope, compete fortemente pelo título de pior produção do horário. O público de Pantanal foi embora, não foi para a concorrência, simplesmente evaporou.

Calma, que Carrasco vem aí!

Walcyr Carrasco

Mas a Globo parece calma, afinal, o super Carrasco estará de volta logo após Travessia, e com novela boa ou não, promete fazer bastante sucesso. A emissora já já se concentrará em Terra Vermelha, desistindo de vez da atual.

Preocupada mesmo a rede deveria estar com quem irá ficar no lugar do escritor, pois, é um fato que ele irá reerguer a faixa, mas para quem segurar? Gloria Perez e João Emanuel estão no ar com trabalhos, sobrou mais algum grande autor para as nove? Pois é…

E, por falar nele, Carneiro foi o destaque do ano com Todas as Flores e merece menção honrosa. Mesmo exibida apenas no digital em 2022, já conseguiu entrar para o hall das grandes novelas da Globo. Sucesso na plataforma como a trama mais vista de lá, também arranca elogios e comentários dos internautas, mesmo reduzida a um nicho específico. Fenômeno.

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