No auge dos programas de calouros na televisão, uma figura divertida, colorida e que sempre aparecia em cena com suas extravagantes perucas chamava a atenção. Era Elke Maravilha (1945-2016), que alcançou enorme popularidade ao atuar como jurada nos programas de Chacrinha e Silvio Santos (foto abaixo).

Silvio Santos
Reprodução / SBT

A figura, que começou na carreira artística como modelo e também foi atriz, é dona de uma trajetória cheia de nuances que acabou virando um livro. Porém, a publicação, que reúne depoimentos de pessoas importantes na vida e na carreira da artista, não conta com a participação de Silvio Santos. Por conta de supostas rusgas, o dono do SBT se recusou a falar sobre Elke.

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Parceria histórica

Cassino do Chacrinha
Divulgação / Globo

Elke Maravilha chamou a atenção na TV nos anos 1970 como jurada nos programas de Chacrinha (foto acima). Mas, por conta de um corte de verbas, ela acabou deixando a atração do Velho Guerreiro e passou a integrar o time do júri do Show de Calouros, famoso quadro do Programa Silvio Santos.

A parceria, claro, rendeu. Ao lado de nomes como Pedro de Lara, Aracy de Almeida, Sonia Lima e cia, Elke Maravilha dava seus pitacos e fazia comentários sempre espirituosos, ácidos e inteligentes sobre as apresentações artísticas do programa. Tudo isso chamando todo mundo de “criança”, com a voz doce que sempre a caracterizou.

Porém, nos bastidores, a relação entre Elke e Silvio Santos não seria das melhores. Tanto que, de acordo com o colunista Fefito, do UOL, o apresentador teria guardado mágoa da estrela, ao ponto de se recusar a participar da biografia da artista, que foi escrita por Chico Felitti.

Recusa

Elke Maravilha e Mara Maravilha
Divulgação / SBT

Segundo Fefito, Chico Felitti procurou Silvio Santos para dar seu depoimento ao livro Elke: Mulher Maravilha, lançado em 2020. Mas, para a surpresa do biógrafo, a resposta do animador teria sido curta e grossa.

“Ah, a Elke? Que maravilha. O que eu tenho pra falar sobre ela? Absolutamente nada”, teria dito o “patrão”.

Ainda de acordo com Fefito, o estranhamento entre Elke e Silvio Santos teria começado ainda nos anos 1970, quando a artista estreou como jurada em seu programa. Elke costumava se recusar a votar nos calouros preferidos do animador, o que o desagradava. Além disso, nos anos 1980, a jurada voltou a trabalhar com Chacrinha, ficando ao lado do apresentador até sua morte.

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Mágoa

Elke Maravilha e Silvio Santos
Reprodução / SBT

Curiosamente, depois disso, Silvio Santos aceitou ter Elke Maravilha de volta. Além de seguir como jurada no Show de Calouros, a artista até ganhou um programa só dela no SBT, o talk show vespertino Elke, que estreou em 21 de junho de 1993, na faixa das 16h.

Mas, ainda segundo Fefito, o programa acabou ajudando a azedar de vez as relações entre Elke Maravilha e Silvio Santos. A apresentadora passou a ignorar os famosos bilhetes enviados pelo “patrão” com orientações e seguiu fazendo seu programa da maneira que bem quis, inclusive promovendo debates politizados sobre racismo, homofobia e outros assuntos incomuns para a época.

Porém, a incursão de Elke Maravilha nas tardes do SBT acabou tendo vida curta. Um dia, enquanto saía da casa do amigo Leão Lobo, a artista torceu o pé e precisou se afastar das gravações de seu programa por uma semana. Quando retornou à emissora, encontrou seu camarim ocupado por integrantes do Aqui Agora e descobriu que a atração havia acabado.

Mesmo com boa audiência, o programa Elke não chegou a ficar seis meses no ar. Depois disso, a relação entre Silvio Santos e Elke Maravilha acabou de vez.

Alfinetada

Elke Maravilha
Divulgação / Elke

Elke Maravilha nunca fez questão de esconder suas desavenças com Silvio Santos. Tanto que, em 2014, a estrela foi entrevistada por Rafinha Bastos no extinto Agora É Tarde, da Band, e detonou o dono do SBT.

“O Silvio Santos era um patrão. Nunca conversávamos e de vez em quando ele tinha um tipo de desrespeito com o Pedro de Lara, por exemplo. Não posso obrigar ninguém a gostar de mim, mas também não gosto de grosserias. Respeito é bom. Já o Chacrinha era como um pai. Ele é atemporal e nunca foi desrespeitoso. Ele sempre foi um pai. Chacrinha era um painho e Silvio Santos era patrão”, disparou a ex-jurada.

“Sinto saudades do Chacrinha, do Silvio Santos não sinto a menor falta. Gosto de respeito”, completou.

Elke Maravilha morreu em 16 de agosto de 2016, aos 71 anos, por falência múltipla de órgãos. Ela não reagiu bem aos medicamentos durante uma cirurgia para tratar de uma úlcera, por conta da diabetes.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor