Cinco anos antes da criação do SBT, entrava no ar o primeiro canal concedido pelo governo a Silvio Santos. Na noite do dia 14 de maio de 1976, uma sexta-feira, os cariocas puderam ver, pela primeira vez, a TVS, sigla para TV Studios Silvio Santos, canal 11 do Rio de Janeiro, que pode ser considerado o embrião da futura rede nacional do empresário e animador.

Silvio Santos

Desde os anos 1960, Silvio Santos já pensava em ter sua própria emissora – o animador chegou a pedir ao governo para assumir a concessão do canal que pertencia à Excelsior, que saiu do ar em 1970.

Em 1975, o governo federal abriu licitação para o canal 11 do Rio de Janeiro. Incentivado pelo amigo e ex-sócio Manuel de Nóbrega (1913-1976), pai de Carlos Alberto de Nóbrega, que o ajudou no início da carreira, Silvio resolveu participar, pois sentira que havia chegado o momento de ter sua própria emissora.

Apoio

Carlos Imperial

Ele também recebeu o apoio de artistas do Brasil inteiro. Até mesmo Carlos Imperial (1935-1992), figura muito popular na televisão brasileira nos anos 1960 e 1970 e feroz crítico dos seus programas, fez campanha pela concessão.

“Silvio compra os horários das estações de TV e paga diretamente aos artistas. Nunca artista algum reclamou de falta de pagamento. Não trabalho (nunca trabalhei ou nem vou trabalhar) para o Silvio Santos. Pelo contrário, minhas críticas em relação ao seu programa dominical nunca foram agradáveis. Mas, justiça seja feita, ele tornou-se um sinônimo de bom emprego e do trabalho compensador”, disse em sua coluna na revista Amiga TV Tudo de 9 de abril de 1975.

“Tenho que reconhecer nele o excelente empresário e o homem correto das nossas comunicações. Por favor, ministro Quandt de Oliveira, dê um presente de mãe para filho ao artista brasileiro. Dê esse canal 11 ao único empresário artístico que nos respeitou até hoje. Em nome de todos os artistas deste imenso Brasil, faço um apelo ao ministro: dê o canal 11 a quem gosta da gente. O Silvio Santos”, completou Imperial.

A campanha deu certo. Em 22 de dezembro de 1975, Silvio recebeu a concessão para operar o canal 11 do Rio de Janeiro.

Luciano Callegari e Silvio Santos

O próximo passo seria adquirir mais equipamentos – ele já tinha toda a estrutura que gravava seus programas em São Paulo – e colocar a emissora no ar no menor tempo possível, desejo dele e do Ministério das Comunicações.

O animador foi aos Estados Unidos e fez um investimento de 60 milhões de cruzeiros, a serem pagos em cinco anos.

“Disse que queria o material pronto em 90 dias. E os diretores das duas empresas deram risada, não acreditaram. E exigiram multas contratuais, alegando que eles preparariam o material e que eu não conseguiria as guias de importação e os contratos de financiamento”, disse Silvio em vídeo institucional exibido no dia da estreia da emissora.

Mas ele bancou a aposta, mesmo com todos os riscos. Talvez ainda duvidando, as fornecedoras não cumpriram o prazo.

“O equipamento comprado estava demorando. Já estava com cinco dias de atraso. Fui rapidamente aos Estados Unidos reclamar e disse que ou eles entregavam ou pagavam a multa”, enfatizou.

Sorte

TV Continental

Silvio Santos também teve sorte, como ele mesmo reconheceu no vídeo. Leu nos jornais que haveria um leilão da massa falida da extinta TV Continental.

[anuncio_5]

“Se arrematarmos tudo do leilão, não vamos precisar esperar oito meses pela construção da torre e da antena”, disse ele a Luciano Callegari, um de seus fiéis escudeiros por muitos anos.

O material anunciado no edital era sucata, dizia a mídia da época. O próprio leiloeiro achava que iria vender um monte de ferro velho.

Mas Silvio estava de olho na torre, no transmissor e na antena, que ficavam no alto do Morro do Sumaré, no Rio de Janeiro.

Silvio Santos

A TVS venceu o leilão e arrematou os equipamentos. O Jornal da Tarde de 30 de outubro de 1975 exclamou: “para que o animador de televisão Silvio Santos deseja os velhos e obsoletos equipamentos de transmissão da TV Continental, fechada em 1971”.

Só que aí foi descoberto que o velho transmissor da Continental já funcionava a cores alguns anos antes das transmissões oficiais se iniciarem, em 1972 – nem Silvio Santos sabia disso.

“Foi uma descoberta espantosa. Mas quando há boa vontade, Deus ajuda e tudo acontece”, ressaltou Silvio no vídeo.

[anuncio_6]

Sem programação especial

A TVS não teve uma festa ou uma programação especial de inauguração. “Vamos simplesmente começar os trabalhos”, decretou Silvio. Na noite da estreia, foi ao ar o programa Silvio Santos Diferente.

[anuncio_7]

A emissora tinha grade de programação diária das 18 horas à meia-noite. Basicamente era composta por séries e filmes, principalmente dos anos 1960, exibidos à exaustão, em sistema de sessão corrida (o mesmo episódio de uma série era exibido três vezes seguidas, por exemplo), além de produções como Um Instante Maestro, com Flávio Cavalcanti, um humorístico com Ronald Golias e musicais.

O tradicional Programa Silvio Santos só passou a ser exibido pela emissora em 1º de agosto de 1976, uma semana após o animador deixar a Globo.

Flávio Cavalcanti

Foi aí que o canal, que ainda patinava nos índices de audiência, começou a deslanchar, alcançando o segundo lugar no ranking.

A programação experimental foi até 1977, quando a emissora ampliou seu horário de exibição e recebeu investimentos, como a novela O Espantalho.

Em agosto de 1981, a TVS do Rio se juntou ao canal 4 de São Paulo e as demais concessões conquistadas por Silvio Santos para a formação do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Desde agosto de 2012, o nome oficial da emissora é SBT Rio.

Compartilhar.
Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor