O SBT (ou TVS, como era mais conhecida na época) entrou no ar dia 19 de agosto de 1981 sob o olhar descrente de Globo, Band e Cultura, suas concorrentes da época – vale lembrar que metade da Record pertencia a Silvio Santos. Pois bem: pouco mais de um ano depois da estreia, a emissora do dono do Baú da Felicidade havia abocanhado o segundo lugar e chegava cada vez mais perto dos globais, líderes absolutos.
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O canal focava no público das classes C e D e apresentava programas popularescos, como O Povo na TV. O carro-chefe da casa, como não poderia deixar de ser, era o Programa Silvio Santos, aos domingos, além do Show Sem Limite, de J. Silvestre (1922-2000), nas noites de segunda, da Sessão Proibida, às quintas, e o tradicional Almoço com as Estrelas, nas tardes de sábado.
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Reportagem especial de Cida Taiar na Folha de S. Paulo de 10 de outubro de 1982 escancarava o fato. “O que parecia impossível começa a acontecer: a TVS está chegando mais perto da Globo, na guerra da audiência. E não há segredos por trás disso: a TVS utiliza uma velha fórmula de sucesso, já suficientemente testada pelos camelôs que habitam as praças brasileiras: oferece ao seu público nada além do que ele deseja ou precisa para consumo imediato”.
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Por exemplo: naquela época, enquanto a Globo normalmente alcançava 50 pontos no Ibope, as demais marcavam entre três e seis pontos, como eram os casos de Band e Record. O SBT alcançava dois dígitos, o que era impensável até então. Em setembro de 1982, aos domingos, o Programa Silvio Santos marcou 26,1, além de 6,4 na Record, que retransmitia a atração, contra 21,5 da Globo.
“Temos uma filosofia simples: levar nossos programas para o maior número de pessoas. Popular é aquilo que todo mundo gosta, é o que dá audiência. E audiência interessa a todas as emissoras: a Bandeirantes se dizia qualificada e não tinha audiência”, disse, na reportagem, Roberto Manzoni, que era diretor de programação do SBT na época.
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Globo no contra-ataque
A Globo, quem diria, resolveu partir para o contra-ataque, popularizando alguns nichos de sua programação. Contratou novamente Chacrinha, afastado da casa desde 1972, e lhe deu as tardes de sábado. Estreou o Caso Verdade, que consistia em histórias enviadas pelos telespectadores que eram dramatizadas em capítulos durante a semana, além de ressuscitar o humor engessado do Balança, Mas Não Cai, fora da grade desde o início dos anos 1970.
O então todo-poderoso da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, também falou na reportagem da Folha e contestou os números do SBT. “Desde que foi inaugurada, os índices de audiência da TVS na verdade não progrediram. Em 82, nos horários em que a concorrência é mais competitiva, houve um crescimento do público da Globo com o Caso Verdade, Viva o Gordo, líderes nacionais de audiência, e Balança, Mas Não Cai, que, ganhando em todo o Brasil, perde apenas em São Paulo por pequena margem, quando perde”, disse.
Boni também negou que a emissora estivesse popularizando sua programação. “A Rede Globo sempre foi uma emissora dirigida ao grande público e a todas as classes sociais, econômicas e culturais. Acreditamos que os programas populares devem ser feitos. Não admitimos a ideia de que, para atingir o público de menor nível de cultura, seja necessário fazer programas ruins, de baixo nível. Por isso, somos a favor do popular e contra o popularesco”, disparou.
A Band, que era reconhecida por alguns programas voltados às classes A e B e para intelectuais, como Canal Livre e Crítica e Autocrítica, não deixou por menos: contratou Flávio Cavalcanti (1923-1986) e lhe deu um programa noturno diário, o Boa Noite Brasil. E estava de olho em J. Silvestre, que realmente iria para o canal em 1983, após brigar publicamente com Silvio Santos.
Eduardo Lafon (1948-2000), então diretor de programação da emissora, disse que a emissora partiria em busca do público do SBT sem perder o seu. “Não podemos deixar que o público C e D fique só com o Silvio Santos. Ninguém vive apenas de prestígio, vamos também faturar”.
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Como é sabido, o SBT não ultrapassou a Globo e se consolidou durante anos como o líder absoluto do segundo lugar, como a própria emissora se intitulava. Atualmente, briga com a Record pela vice-liderança.
Na primeira metade dos anos 1980, a emissora tinha audiência, mas não faturava, pois afugentava anunciantes de peso. Ainda na matéria da Folha, Boni definiu bem esta situação: “Com uma programação dirigida às camadas mais inferiores, aquela emissora tem um público de baixíssimo poder aquisitivo, de pouco interesse para agências e anunciantes”.
Isso até Silvio Santos mudar os rumos da programação a partir de 1988, com a contratação de nomes como Jô Soares e Boris Casoy, entre outros.