A televisão brasileira sempre foi palco de grandes debates em todas as eleições, de municipal a federal. O público acompanha o confronto entre os candidatos para conhecer seus planos de governo e ideias, sem a maquiagem e a edição da propaganda política.

Silvio Santos

O primeiro debate realizado em rede nacional foi em 1982 pela então TVS, emissora do SBT. A tensão foi muito grande nos bastidores do encontro entre os candidatos, inclusive do dono, Silvio Santos.

O primeiro debate

Ferreira Netto

Depois de anos longe das urnas por conta do golpe militar de 1964, o povo voltava a escolher os governadores em 1982. Antes disso, era o Presidente da República que indicava quem seria o homem a comandar cada estado do país. Isso mudou depois da famosa abertura política “lenta, gradual e segura”.

Quando o SBT entrou no ar, em 1981, o jornalista Ferreira Netto conduzia um programa que levava o seu nome. A atração focava em assuntos da política e variedades, com especialistas e convidados para abordar um assunto.

Em 23 de março de 1982, Netto convidou o prefeito de São Paulo, Reinaldo de Barros (PDS, partido do governo militar) e o senador Franco Montoro (PMDB, partido de oposição), ambos candidatos ao governo do estado paulista. Assim ocorria o primeiro debate da televisão em rede nacional.

“Sempre fiz televisão como diversão”

SBT - Reinaldo de Barros e Franco Motoro

Silvio Santos acompanhou de perto o embate. O empresário foi até à sede da emissora e ficou no switcher, local em que a direção cuida da transmissão do programa. Preocupado com a repercussão, ele ficou o tempo todo atento e pronto para determinar se o debate deveria continuar ou não.

O SBT, que tinha menos de um ano no ar, veio de uma concessão cedida pelo presidente militar João Figueiredo. Silvio não queria se indispor com o governo.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, Silvio propôs a Ferreira Netto que ele fizesse o debate em outro canal, sem qualquer tipo de multa contratual. Ele também queria que não fosse ao vivo, mas acabou sendo persuadido. Em entrevista ao jornal (24/03/1982), ele mostrou todo o seu receio.

“Existem certas coisas que me amedrontam. Sempre fiz televisão como diversão, não estou acostumado com essas coisas, como política, por exemplo. Minha televisão é para servir”, declarou.

Um final feliz

Tanto Barros quanto Montoro estavam tensos e trocaram farpas durante o confronto. O regulamento e o tempo para pergunta e resposta não foi seguido à risca. O apresentador tinha que intervir com uma campainha pedindo que os candidatos se comportassem. De uma forma caótica e um pouco amadora, o debate seguiu ao vivo e sem cortes.

Ao final do debate, Ferreira Netto chamou Silvio Santos para falar e dar sua opinião sobre o espetáculo. O patrão enalteceu o que viu:

“Foi um belíssimo trabalho. Eu fiquei preocupado, como se eu tivesse que fazer um show em um ginásio, eu convidasse grandes astros, e teria a informação que viriam 200 mil pessoas em um local que cabe 50 mil. Tomei todas as precauções, conversei com o Franco Montoro, conversei com o Reinaldo, para que tudo saísse bem. Agora estou feliz e vou dormir feliz”.

A resposta das ruas

Debate no SBT

O debate mobilizou a imprensa, que saiu às ruas perguntando ao povo o que tinham achado do encontro entre os candidatos. Em matéria da Folha de São Paulo (24/03/1982), foi divulgado que o público gostou do programa.

As reclamações se restringiram à baixa qualidade técnica da exibição, da duração da atração que entrou na madrugada e a falta de transmissão simultânea na rádio.

Esse foi apenas o início de uma série de debates – a Globo e a Bandeirantes realizaram o encontro com Montoro e Barros e os demais candidatos que disputavam o governo de São Paulo, como Jânio Quadros, Lula e Rogê Ferreira.

Naquela ocasião, Franco Montoro foi eleito com 49,04% dos votos e Reynaldo de Barros ficou com 25,68%. O povo mostrou nas urnas que queria mudança e a televisão teve a oportunidade de saborear a democracia em debates que mobilizam a opinião pública. O SBT realiza o encontro com presidenciáveis no próximo sábado (24).

Compartilhar.
Avatar photo

Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor