Dois fatos absolutamente instigantes estão acontecendo neste momento na redação de jornalismo do SBT. Novamente, por conta de Silvio Santos e suas determinações, o departamento da casa está se sentindo desvalorizado.

O primeiro deles é a decisão de pedir para “produtores caseiros” enviarem um grande material de conteúdo para produção de programas da linha de shows. Por mais que seja para o entretenimento, o jornalismo acha que poderia ajudar de alguma forma, como já aconteceu outras vezes.

A outra é uma determinação mais recente. Segundo o jornalista Ricardo Feltrin, do UOL, Silvio Santos determinou veto de reportagens longas ou de séries sobre um determinado tema. Ele quer matérias mais ágeis, onde sejam tratados temas que impactem diretamente a vida do telespectador.

Lógico que a determinação revolta, principalmente por dois pontos. Hoje, o maior diferencial do jornalismo do SBT são as investigações e reportagens especiais de Roberto Cabrini.

Exibido nas noites de domingo, o Conexão Repórter é um dos melhores programas da televisão atualmente, justamente porque se diferencia do que é exibido normalmente pelo canal, que fica sempre em um conteúdo raso.

O segundo ponto é justamente a limitação de conteúdo. Esta semana, o SBT Brasil exibiu uma série de reportagens feita pelo jornalista Sérgio Utsch, correspondente europeu do canal, sobre a Guerra do Iraque.

A reportagem sobre a guerra do ponto de vista das crianças é digna dos maiores elogios. Um dos melhores trabalhos que vi na televisão este ano. Imagine se este veto fosse feito pelo Silvio antes dela ser produzida? Sim, um dos melhores trabalhos no ano na TV seria proibido de ser exibido.

É evidente que há uma intenção do dono do canal de fazer um jornalismo mais popular, mais próximo do cidadão.

Mas ele não precisa ser fútil, raso e tosco, como tem sido muitas vezes. É com medidas como essa que Silvio Santos joga contra o seu próprio jornalismo, queira ou não, um patrimônio da emissora que diz tanto amar.

Entendo que ele é o Patrão, dono da concessão. Mas não é possível que os funcionários não possam se organizar e consigam pelo menos tentar um diálogo ou um meio termo em relação a isso.

Alguém, qualquer pessoa que seja do SBT, precisa tomar uma atitude. Ele é o dono, mas não pode ser tão intransigente e jogar contra quem quer jogar a favor dele. Alguém precisa parar o que Silvio Santos faz com o seu jornalismo.


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