Desde sua estreia, há um mês e meio, o quadro Show dos Famosos do Domingão do Faustão se tornou uma das coisas mais interessantes da TV aberta nos últimos tempos. A proposta é boa: desafiar artistas a incorporar outras personalidades e provar suas habilidades artísticas para ver quem é o mais completo e versátil.

O primeiro show foi bem promissor: Eriberto Leão abriu os trabalhos como Bob Dylan (estava muito bom). Em seguida, Samantha Schmutz fez uma Elis Regina questionável de caracterização, mas incontestável de potência e registro vocais.

Quando Fafá de Belém surgiu como Alcione, não tinha como não se apaixonar de vez pelo quadro. Ícaro Silva chegou trabalhado na ousadia e na coragem, trazendo a Beyoncé que parecia mais a atriz de Orange Is The New Black, Laverne Cox, mas que se converteu imediatamente em um dos momentos marcantes do programa que tem mais de duas décadas. Inclusive o jovem ator foi considerado o melhor da estreia.

Quando o segundo grupo se apresentou, no domingo seguinte, vimos que o quadro teria seus altos e baixos, pois o nível estava bem abaixo das performances da estreia. O Show dos Famosos teve momentos bem sofríveis, como Luiza Possi encarnando George Michael e Nelson Freitas ganhando 3 notas 10 como Tina Turner. A falta de critérios do trio de jurados Claudia Raia, Miguel Falabela e Sílvio de Abreu também tirou o brilho do quadro em muitos momentos.

Eles, por exemplo, tiraram pontos do Nelson por esquecer a letra em sua performance excelente como Cauby Peixoto, mas celebraram a Adele questionável de Fafá, que cantou em embromation ao invés de inglês. Aliás, nunca compreendi porque o trio de jurados é fixo, uma vez que nitidamente eles são amigos pessoais de alguns dos concorrentes e não escondem isso nos décimos da pontuação.

Mas, no último dia 11, o Show dos Famosos deixou tudo isso de lado e conseguiu emocionar. Pode ter sido um ponto fora da curva, mas as performances de Ícaro Silva e Fafá de Belém nos lembraram todo o potencial desse quadro.

Foram praticamente duas “incorporações”.

Quando os primeiros acordes de Redmption Song soaram, eu cheguei a achar que Ícaro de Bob Marley seria apenas mediano. Essa música é linda, mas o caminho mais óbvio poderia ter sido Is This Love ou Three Little Birds, mais conhecidas do grande público não familiarizado com toda a obra do rei do reggae. Só que foi perfeito (sem o balé, totalmente desnecessário, teria sido sublime).

Ícaro conseguiu passar por todas as sutilezas de Marley, o registro vocal estava muito próximo, e quando ele largou o violão foi para brilhar de vez, com trejeitos que deixaram todo mundo de queixo caído.

A maior injustiça foi o 9.9 do Sílvio de Abreu. Ícaro sempre foi muito consistente: já fez Beyoncé, Alexandre Pires e Ney Matogrosso, mas depois do Bob Marley carimbou de vez o passaporte para a final e agora tem a obrigação de se superar. A torcido do público ele já tem.

Fafá tirou o nosso fôlego ao entoar os primeiros acordes de Asa Branca, incrivelmente caracterizada como Luiz Gonzaga. Ela poderia ter ficado no grande hino do rei do baião, mas armou um medley, que foi num crescente de animação. Eu diria que se ela tivesse conseguido perder o seu vício de cantar com vibrato, teria sido algo próximo de divino.

E laureada pelas 3 notas 10 dos jurados, só não levou a melhor do dia, porque o auditório lhe deu um injustíssimo 9,3. Fafá é muito deusa, realmente. Em sua trajetória no quadro, seu único escorregão grave foi com a Adele. Entre seus acertos, destaque também para sua performance como Maria Bethânia, algo espetacular e hipnotizante.

Depois de Ícaro e Fafá, ficou difícil lembrar que aquele domingo ainda teve Samantha como uma Rihanna (tão ruim quanto seu Ricky Martin) e Eriberto, que mirou na Adriana Calcanhotto e acertou no ex-BBB Sergio Orgastic.

Mas se tudo fosse no nível do que Fafá e Ícaro apresentaram em sua quarta rodada, o Show dos Famosos estaria já sendo exportado para 147 países e mais uns dois planetas fora do sistema solar. Eles nos lembraram que este pode ser uma das melhores coisas que o programa do Faustão já criou.


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