Após muitas décadas, a Globo deixou de exibir Fórmula 1 neste ano, perdendo os direitos de competição para a Band após não chegar a acordo com a Liberty Media, proprietária da categoria.

A história da competição com a emissora carioca teve início nos anos 1970, quando Emerson Fittipaldi corria pela Lotus e faturava o primeiro título para o Brasil. Desde então, fomos testemunhas do sucesso de Nelson Piquet e de Ayrton Senna (1960-1994), além das vitórias de Rubens Barrichello e Felipe Massa. A Globo investia muito nas transmissões e o esporte caiu no gosto popular graças às conquistas dos pilotos brasileiros nas pistas do mundo.

Sem sombra de dúvidas, existem dois personagens que ajudaram a popularizar a F1 no Brasil: Galvão Bueno e Reginaldo Leme. Os dois comandaram inúmeras e memoráveis transmissões, com uma química forte, seja na narração apaixonada do Galvão, seja nos comentários técnicos de Reginaldo. Porém, esse “casamento” teve seus altos e baixos e quase teve uma ruptura por conta de uma briga envolvendo Ayrton Senna.

Em 1990, Senna disputava o bicampeonato contra Alain Prost, ganhador do campeonato do ano anterior de forma nenhum pouco esportiva. Naquele GP do Japão, antes da primeira curva da volta inicial, Senna bateu em Prost e os dois saíram da corrida, fazendo com que o piloto brasileiro se tornasse bicampeão.

Reginaldo, que estava cobrindo o evento no Japão, não poupou críticas à atitude de Senna na corrida, o que irritou Galvão, amigo do piloto. Durante a exibição, eles não trocavam palavras, o contato era mínimo.

No livro Ayrton – O Herói Revelado, de Ernesto Rodrigues, a irritação de Galvão foi tão grande que ele ameaçou abandonar a narração, sendo impedido por Marco Mora, coordenador da transmissão.

O auge das críticas de Reginaldo a Senna foi durante o pódio do grande prêmio, vencido por Nelson Piquet. O comentarista elogiou Piquet e afirmou: “Nelson Piquet: é de gente como você, é de homem como você que o esporte brasileiro precisa”, alfinetando o rival. Galvão ignorou e exaltou Senna, dizendo que ele era, de fato, o campeão do ano.

Ayrton soube dos comentários e rompeu com Reginaldo: a partir disso, os dois não se falaram mais. A solução encontrada pela Globo foi contratar Roberto Cabrini, que fazia a cobertura do campeonato pelo SBT, para entrevistar o piloto brasileiro. Na temporada de 1991, a emissora carioca teve que fazer malabarismo por conta de toda essa briga.

Esse desentendimento pesou nos planos de Galvão para sair da Globo e seguir o caminho de Luciano do Valle que, além de narrador, era também um empresário do esporte.

Para esse tipo de trabalho, não haveria espaço para ele na emissora. Galvão acabou indo para a pequena Rede OM, em 1992, cuidando do departamento de esporte e transmitindo a Libertadores da América daquele ano.

Essa empreitada não deu certo e, em 1993, Galvão voltou para a Globo. Em 1992, Reginaldo Leme fez as pazes com Ayrton Senna e voltou às boas também com o narrador, tendo trabalhado no canal até 2019. Atualmente, está justamente na Band, trabalhando na cobertura da categoria.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor