Senadores proibiram velório de personagem de O Rei do Gado: “Ridículo”

O Rei do Gado - Carlos Vereza

Divulgação / Globo

De volta no Vale a Pena Ver de Novo, O Rei do Gado (1996) tem encantado o público com o amor entre o fazendeiro Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) e a sem-terra Luana (Patricia Pillar). Além disso, a novela traz a luta do Movimento Sem-Terra.

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Na trama de Benedito Ruy Barbosa, o honesto senador Roberto Caxias, papel de Carlos Vereza, é um político que luta pela reforma agrária e os direitos do MST. E uma das cenas mais importantes da trama, envolvendo Caxias, foi barrada por uma figura importante de Brasília.

O destino do senador é triste: ele é morto por jagunços contratados pelos fazendeiros que não aceitavam os acampamentos dos Sem-Terra, liderados por Regino (Jackson Antunes). Na ficção, a morte do senador se tornou comoção nacional.

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A ideia era fazer as cenas do velório de Caxias no Salão Nobre do Senado, trazendo realismo para o público.

Nada de caixão

Naquela época, o presidente do Senado, José Sarney, não gostou nem um pouco ao saber que um caixão faria parte da cena. Supersticioso, ele acabou vetando o féretro; outras cenas poderiam ser gravadas. Sarney aproveitou e tirou fotos com a atriz Ana Rosa, que fazia Maria Rosa, a esposa do senador.

A medida irritou profundamente Carlos Vereza, que criticou a decisão de Sarney de impedir a entrada do caixão no salão.

“Não seria ridículo nem folclórico. Ao contrário: seria digno homenagear um político que honrou a classe, mesmo sendo ficção. Eles só sabem fazer críticas à TV. O velório não iria denegrir a imagem do Senado. O que fere a dignidade do Congresso é quando chegam na terça e voltam para casa na quinta-feira”, relatou ao Jornal do Brasil, em 14 de janeiro de 1997.

Momento marcante da teledramaturgia

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Mesmo com a proibição de José Sarney, as cenas, sem o caixão, foram gravadas no Salão Nobre. Atores do elenco e figurantes choravam a perda do querido senador. A produção da novela fez sequências do cortejo nas avenidas de Brasília, escoltada pela Policia Militar, o que causou um grande congestionamento.

No dia da gravação, o PMDB (atual MDB) fazia uma convenção, o que tornou a situação ainda mais caótica e movimentada. A pauta sobre a emenda da reeleição era a polêmica do momento – e dividia os partidários.

As cenas do velório foram gravadas nos estúdios, mas políticos da vida real deram depoimentos sobre Roberto Caxias, como Benedita da Silva e Eduardo Suplicy, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT). Vereza ficou dentro do caixão, dormindo, trazendo mais realismo a um dos momentos mais dramáticos de O Rei do Gado.

Um senador irritado

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Esse não foi o único fato do folhetim da Globo que proporcionou incômodo a um político. O então senador paraibano Ney Suassuna criticou a cena em que Caxias fazia um discurso no plenário vazio.

“Então, por que a tomada do plenário superdimensionado – não é o plenário do Senado, e sim algo que poderia ser o auditório Petrônio Portella, por exemplo, ou algum teatro para pelo menos mil pessoas, não para o Senado que tem oitenta e uma cadeiras – senão para ampliar a ideia de vazio, reforçando a tese de um bando de vadios e negligentes que vivem aqui e ganham sem trabalhar?”, discursou no Senado em julho de 1996.

Poucos deram bola ao protesto. O personagem de Carlos Vereza se tornou um símbolo da luta e da honestidade na política brasileira.

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