Se viva fosse, Ruth de Souza estaria completando 100 anos neste dia 12 de maio. O Google homenageia a atriz com o doodle em sua página central. Grande dama dos palcos, do cinema e da televisão, a atriz faleceu em 28 de julho de 2019, no Rio de Janeiro, onde estava internada em um hospital para tratar de uma pneumonia. Carioca, nascida Ruth Pinto de Souza, em 12 de maio de 1921, a atriz saiu de cena aos 98 anos.

Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a ganhar notoriedade no Brasil. Em 1945, entrou para o Teatro Experimental do Negro. Participou do primeiro grupo de teatro negro a subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a peça O Imperador Jones, de Eugênio O’Neill.

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Estreou no cinema em 1948, com o filme Terra Violenta. Entre os filmes em que atuou, Falta Alguém no Manicômio (1948), Também Somos Irmãos (1949), Ângela (1951), Terra É Sempre Terra (1952), Sinhá Moça (1953, pelo qual foi a primeira atriz brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema, no Festival de Veneza), Bruma Seca (1961), O Assalto ao Trem Pagador (1962), O Homem Nu (1968), Jubiabá (1987), Um Copo de Cólera (1999), As Filhas do Vento (2004), O Vendedor de Passados (2015,), Primavera (2018, o último), e outros.

No teatro, a atriz destacou-se em peças como O Filho Pródigo (1947), Calígula (1950), Vestido de Noiva (1958), Quarto de Despejo (1961), O Milagre de Anne Sullivan (1967), Passageiros da Estrela (1980), Réquiem para uma Negra (1963) e Anjo Negro (1994), entre outras.

Na década de 1950, atuou no rádio e na televisão. Sua primeira personagem de destaque em novela foi a criada Narcisa em A Deusa Vencida, na TV Excelsior, em 1965. Entre 1968 e 1969, atuou em duas produções da TV Globo: Passo dos Ventos e A Cabana do Pai Tomás, na qual viveu Cloé, mulher do protagonista Pai Tomás, vivido por Sérgio Cardoso (pintado de negro, em um dos mais controversos casos de black face da história da TV brasileira).

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Ao longo de seu trabalho em televisão, Ruth de Souza viveu muitas criadas e escravas. Em depoimento ao projeto Memória Globo, ela declarou que os melhores papeis em novela lhe foram dados por Janete Clair e Dias Gomes – como Chiquinha do Parto em O Bem-Amado (1973).

Na novela Sinhá Moça, Ruth viveu um trabalho marcante: a desmemoriada escrava Balbina, formando uma dupla emocionante com Grande Otelo. A atriz, aliás, participou em três diferentes produções de Sinhá Moça: o filme de 1953, a novela de 1986 e o remake dessa novela, em 2006.

Dona Mocinha, na novela O Clone (2001-2002), é outro trabalho muito lembrado de Ruth de Souza – a avó do clone Léo (Murilo Benício). Destacou-se também nos papeis de duas damas de companhia: Albertina em O Grito (1975-1976), contracenando com Tereza Raquel, e Jerusa em Sétimo Sentido (1982), com Eva Todor. A participação na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, exibida em 2019, foi seu último trabalho na TV.

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Foram mais de 25 novelas com papeis fixos, mas, lamentavelmente, sempre como coadjuvantes, ainda que algumas fossem ótimas personagens. A televisão ficou lhe devendo protagonistas de destaque. Ruth de Souza foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz no carnaval carioca de 2019, com o enredo “Ruth de Souza – Senhora liberdade. Abre as asas sobre nós“.

Uma das maiores atrizes que o Brasil já teve, Ruth de Souza será sempre lembrada pelo talento e pela defesa do espaço do negro nas artes.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

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Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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