Nilson Xavier

Muita gente tem notado na novela Mar do Sertão semelhanças com outras produções. A começar Cordel Encantado (2011), de Thelma Guedes e Duca Rachid. Natural, já que as ambientações de ambas são parecidas.

Mar do Sertão

A trama central (uma história de vingança) remete imediatamente ao clássico romance O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, já reciclado em inúmeras novelas, mais recentemente em O Outro Lado do Paraíso (2017-2018), de Walcyr Carrasco.

O retorno de Zé Paulino (Sérgio Guizé) a Canta Pedra, rico e disposto a colocar o passado a limpo – um entrecho do Conde de Monte Cristo -, me lembrou Roque Santeiro (1985-1986), de Dias Gomes.

A semelhança com algumas novelas de Walther Negrão é ainda mais latente, já que o autor se inspirou mais de uma vez no livro de Dumas: Despedida de Solteiro (1992-1993), Vila Madalena (1999-2000) e Flor do Caribe (2013).

Universo criativo

Laços de Família

É fato que os autores se repetem. Todos sem exceção. De Janete a Dias, Ivani a Vietri, Cassiano a Silvio, Gilberto a Maneco, Lauro a Bráulio, Negrão a Benedito, Glória a Aguinaldo, Lombardi a Walcyr. Porque cada autor tem seu próprio universo criativo: o beneditoverso, o manecoverso, o aguinaldoverso, o walcyrverso, etc.

Às vezes, uma trama central inteira é repetida. Outras, um entrecho em alguma trama paralela, ou o perfil de um personagem.

Quantas Helenas em crise e quantos Doutores Moretti residentes no Leblon nos foram apresentados por Manoel Carlos! Os reis do gado, painhos, diabos na garrafa e imigrantes italianos na obra de Benedito; Donas Terezinhas Romano em novelas de Silvio de Abreu; pais em dificuldade de relacionamento com filhos nas tramas de Lombardi; socialites esnobes e jovens carreiristas sonhando com o grand monde nas histórias de Gilberto Braga; os lobisomens de Dias Gomes; etc.

Igual, mas diferente

O Cravo e a Rosa

A Megera Domada, de Shakespeare, já foi recontada de várias formas em quase todas as novelas de Ivani Ribeiro. Filmes – dos clássicos aos blockbusters – serviram de inspiração para vários autores. E aqueles tipos maus-caracteres, sedutores que ganham a torcida do público, nas obras de Janete Clair: Miro, Herculano Quintanilha, Bruno Baldaracci, Von Strauss, etc.

Ricardo Linhares trabalhou muito com Aguinaldo Silva, razão de sua novela Meu Bem-Querer (1998-1999) ser quase uma antologia do universo de Aguinaldo.

As autoras Izabel de Oliveira e Paula Amaral reproduziriam em Verão 90 (2019) cenas icônicas de nossa teledramaturgia, mas nada foi mais explícito do que sequências inteiras “chupadas” de Vale Tudo (1988).

Todas as novelas são iguais? Não necessariamente, mas sim. A base da telenovela é o folhetim e o melodrama, cujos códigos próprios a tornam um produto único, aproveitado no rádio, cinema, televisão e em todo o audiovisual.

Algumas novelas seguem uma linha de história, outras vão por caminhos diferentes. É a forma como são contadas que as diferenciam e as tornam únicas.

Compartilhar.
Avatar photo

Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor