Semelhança com desafeto da autora fez artista perder papel em novela

Mulheres de Areia

No dia 17 de fevereiro de 1967, ia ao ar pela Globo o último capítulo de O Sheik de Agadir. A trama escrita por Glória Magadan foi uma das mais representativas da linha de “capa e espada” trilhada pela emissora nos anos 1960. E o ator Sebastião Vasconcelos, que participou de grandes sucessos da emissora, como Mulheres de Areia (foto abaixo), acabou pagando o pato por algo que não teve culpa.

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Baseada no romance Taras Bulba, de Nikolai Gogol, a trama narrava o triângulo amoroso entre o xeque Omar Bem Nazir (Henrique Martins), que disputa o amor da francesa Janette Legrand (Yoná Magalhães) com o oficial do exército francês Maurice Dummont (Amilton Fernandes).

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A novela tinha como grande atrativo estranhos assassinatos, que garantiram o suspense da história, mas só se sabia que o criminoso usava a alcunha de Rato.

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No final da trama, descobre-se que a responsável pelas mortes era a princesa árabe Éden de Bássora, vivida pela atriz Marieta Severo.

Temas controversos

Os atores que viveram os personagens nazistas ganharam a antipatia do público, Emiliano Queiroz chegou a ser agredido numa loja de departamentos em Copacabana, no Rio de janeiro.

Outro ator que interpretou um personagem nazista foi o ator Mário Lago (1911-2002). O Sheik de Agadir foi a estreia do ator na Globo. Mário, que era comunista assumido, teve que contornar a resistência de Glória Magadan para ser admitido na novela e viver o coronel nazista Otto Von Lucken que, para ficar mais cruel, chegou a usar uns tapa-olhos.

A questão era que a autora cubana era anticastrista (corrente ideológica derivada do anticomunismo e que se opõe ao governo comunista), assim Mário Lago só foi mantido no elenco por insistência de Walter Clark.

Menos sorte teve o ator Sebastião Vasconcelos que, por ostentar uma enorme barba na época, foi eliminado da trama porque Magadan o achava parecido com Fidel Castro. Seu personagem foi uma das vítimas do assassino Rato.

Marieta Severo comentou sobre as peculiaridades da autora, que mandava e desmandava no núcleo de teledramaturgia nos primeiros anos do canal:

“Valia tudo no caldeirão dela. Tinha árabe, nazista e outras histórias embaralhadas”, destacou, em depoimento ao Memória Globo.

Quem foi Glória Magadan

Glória Magadan era o nome artístico de María Magdalena Iturrioz y Placencia, nascida em Havana, Cuba, em 1920. Escreveu sua primeira novela em meados dos anos 1940 e, logo em seguida, começou a trabalhar no departamento de publicidade Colgate-Palmolive.

Mudou-se para o Brasil em 1964 e ingressou na TV Globo no ano seguinte, para dirigir o recém-criado departamento de novelas da emissora, a convite do diretor geral, Walter Clark.

Ao todo, a profissional escreveu nove novelas no canal, sendo a primeira delas Paixão de Outono (1965), que inaugurou o horário das 21h30. Seguiram-se A Sombra de Rebecca (1967), A Rainha Louca (1967) e Eu Compro Essa Mulher (1966).

Ela ficou conhecida por imprimir um estilo melodramático, privilegiando tramas romanticamente fantasiosas e, em geral, ambientadas em longínquos cenários.

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Saída da Globo

Apesar do seu prestígio à frente do departamento de novelas da Globo, no fim dos anos 1960, começou a surgir na televisão brasileira uma demanda por narrativas que mostrassem histórias nacionais, com traços mais realistas.

Essa ansiedade foi percebida e primeiramente correspondida pela TV Tupi com o lançamento de Beto Rockfeller (1968), novela de Bráulio Pedroso onde entrava em cena o cotidiano da vida urbana e da modernização brasileira.

Ainda como metáfora desse novo momento, a novela Anastácia, a Mulher Sem Destino, inicialmente escrita por Emiliano Queiroz, ainda sob supervisão de Magadan, é passada para a autora Janete Clair, que trouxe para a Globo a experiência adquirida na Rádio Nacional e na TV Tupi.

Com o estilo de Janete e Dias Gomes cada vez mais valorizado, a autora deixou a Globo em 1969. No ano seguinte, ainda escreveu a obscura novela E Nós, Aonde Vamos? para a TV Tupi, seu último trabalho no Brasil antes de retornar para Miami.

Na década de 1970, escreveu telenovelas para a mexicana Televisa e para a venezuelana RCTV. Em 1996, chegou a participar de um projeto não finalizado para a TV Manchete.

Glória Magadan morreu em Miami, em 27 de junho de 2001, aos 81 anos de idade.

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