Semana da criança: super-heróis brasileiros faziam a cabeça da garotada nos anos 1960 e 1970

Houve um tempo em que a TV brasileira apresentava histórias de nobres ingleses, químicos com identidade secreta, vigilantes acompanhados por cães e trapalhões que se metiam em grandes aventuras. Foi a era dos super-heróis tupiniquins, estrelas de séries e programas que fizeram a cabeça da criançada. De hoje (9) até sexta-feira (13), o TV História revisita algumas das atrações destinadas ao público infantil (ou não) que deixavam os pequenos colados na telinha. Começando, claro, pelos valentes garotinhos, policiais e lunáticos dos primórdios da nossa televisão…

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Falcão Negro (1954)

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Exibida duas vezes por semana – depois convertida em atração diária – a série Falcão Negro narrava as aventuras de um herói inglês, que lutava pelas classes mais pobres. E que em quase todo episódio desenvolvia novas habilidades, provenientes da imaginação fértil de Péricles Leal, autor e diretor do projeto. Como naquela época não existia uma rede única de TV, o personagem ganhou diferentes intérpretes nas várias emissoras da Tupi país afora. O Falcão Negro carioca, o ator Gilberto Martinho, acabou vivenciando uma história diferente dos demais: ferido por um objeto arremessado pelo vilão (Jece Valadão), Martinho desfaleceu – e como o programa era “ao vivo”, o público passou a questionar a morte do herói. A produção foi obrigada a desenvolver episódios que narrassem a recuperação física do Falcão.

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Capitão 7 (1954)

A novíssima Record apostou nas aventuras deste super-herói, que carregava no nome o número da estação em São Paulo (Canal 7). Misto de Super Homem, Capitão Marvel e Flash Gordon, o “7” (Ayres Campos) desenvolveu força, inteligência e até a incrível capacidade de voar graças ao auxílio de um alienígena, que o capturou quando ele ainda era menino para desenvolver suas habilidades num outro planeta. De sua nave, sempre trajando o uniforme atômico que resistia a tudo, o Capitão acompanhava a rotina dos humanos – incluindo a de seu namorada, Silvana (Idalina de Oliveira). Quando não fazia as vezes de super-herói, atacava de químico, o recatado Carlos. Os episódios do Capitão 7, produzido até 1966, foram perdidos nos incêndios que destruíram boa parte do acervo do canal.

Turma do Sete (1960)

Apesar do título, eram oito os pequenos que compunham a turminha desta série, exibida na Record e na TV Rio. Eles não possuíam habilidades especiais, mas se envolviam constantemente em perigosas aventuras. O projeto, como quase tudo na TV nesta época, surgiu de um anunciante – São Paulo Alpargatas – em vias de lançar um novo produto (Sete Vidas). Jacyra Sampaio, a eterna Tia Nastácia do Sítio do Picapau Amarelo (1977), vivia aqui a mãe de um dos garotos, Chuvisco (Antônio Alípio). Nair Bello, Gessy Fonseca e Gilmara Sanches – hoje dubladora – se revezaram como a mãe de Fernando (Márcio Trunkl) e Bebeco (James Akel). Foram quatro anos de sucesso, coroados por quatro prêmios Roquete Pinto de melhor programa infantil.

O Vigilante Rodoviário (1961)

Talvez a mais famosa série de super-herói dos primórdios da televisão brasileira. O Vigilante Rodoviário fez tanto sucesso que o ator Carlos Miranda incorporou o personagem: exerceu por 25 anos, na “vida real”, o mesmo papel da ficção. A série reverenciara a Polícia Rodoviária de São Paulo, criada em 1948 para empregar os pracinhas que lutaram na Segunda Guerra, mas feria o regimento da instituição: o Inspetor Carlos (Miranda) era acompanhado pelo pastor alemão Lobo, também engajado no combate ao crime; os animais, contudo, não participam de patrulhas verídicas. Patrocinada pela Nestlé, a série foi filmada em película de cinema americano – para concorrer com produções enlatadas. Veiculada na Tupi, ganhou reprise na Globo, ainda na década de 60, e, recentemente, no Canal Brasil.

Capitão Furacão (1965)

Hoje brilhando em A Força do Querer, como a sofrida Aurora, Elizangela estreou na televisão vivendo a assistente do sábio Capitão Furacão (Pietro Mário, que aos 26 anos, era obrigado a passar por um processo de envelhecimento para o personagem). Aqui, no entanto, a teledramaturgia abria espaço para o tradicional formato dos programas infantis (o primeiro da Globo), tendo o navio como cenário e o Capitão em gincanas com crianças, lendo cartas de telespectadores e chamando desenhos e filmes curtos. Furacão também narrava suas aventuras pelos mares, dando conselhos a marinheiros iniciantes – os chamados “grumetes”, que ganhavam carteirinha de sócio do programa, mediante à aquisição dos produtos de algum dos patrocinadores da atração. No fim de cada programa, a saudação: “sempre alerta e obediente”.

As Aventuras de Eduardinho (1966)

Também trazia as peripécias de um grupo de amigos, capitaneados por Dudu (Dennis Carvalho, hoje diretor artístico). Este projeto de Vicente Sesso nasceu na Excelsior e chegou ao fim na Globo. Foram dois anos de aventuras sempre baseadas em fábulas contemporâneas e lendas do folclore nacional e internacional. Os episódios, semanais, sempre traziam Dudu e a turminha partindo para uma nova aventura; em todas elas, acabavam se deparando com figuras históricas e escritores famosos. Marcos Paulo, filho de Sesso, estreou na TV nesta produção, que contou também com Geraldo Del Rey, Henrique César, Ivan Mesquita, Maria Aparecida Baxter, Riva Nimitz e Paulo Castelli – que fez fama em tramas como Tititi (1985) e Bambolê (1987).

Águias de Fogo (1967)

Ary Fernandes, responsável por O Vigilante Rodoviário, desenvolveu também para a Tupi o roteiro desta série – que apesar do sucesso, sucumbiu à concorrência com a Excelsior, que transmitia Redenção (1966), a mais longa novela da TV brasileira. Apaixonado por aviação, Ary vivia aqui o Capitão Paulo César, um dos principais nomes do grupo Águias de Fogo, esquadrão especial da Força Aérea Brasileira, que usava helicópteros e jatos no combate a criminosos e em missões de resgate. Contudo, nenhum dos atores saiu do chão: as cenas no céu eram feitas no chão, tudo na base do improviso. Os 26 episódios de Águias de Fogo foram preservados na Cinemateca Nacional. E exibidos, em 2010, no Canal Brasil.

Linguinha x Mr. Yes (1971)

Os episódios de cerca de sete minutos deste seriado, estrelado por Chico Anysio, registravam mais audiência do que o Jornal Nacional, que o antecedia, e a novela O Homem Que Deve Morrer, de Janete Clair, exibida na sequência. Linguinha (Chico) era um jovenzinho estudioso que vivia molhando os lábios com a língua, ação que lhe dava poderes de super-herói, na luta contra Mr. Yes (Luiz Delfino), um vilão poluidor. Os métodos de Linguinha, contudo, eram bastante atípicos: não brigava e não usava armas. Também não saia de casa sem escovar os dentes, tomar banho e pentear os cabelos. Já os malvadões usavam bigodes, uma característica que auxiliava os pequenos a identifica-los. No elenco, nomes que se consagrariam nos humorísticos de Anysio: Antônio Carlos, Arnaud Rodrigues, Grande Otelo e Jorge Loredo.

Shazan, Xerife e Cia. (1972)

Personagens periféricos de O Primeiro Amor, novela que a Globo exibiu às 19h, Shazan (Paulo José) e Xerife (Flávio Migliaccio) fizeram tanto sucesso que a Globo resolveu aproveitá-los em um seriado. Um dos primeiros spin-off da televisão brasileira, ‘Shazan, Xerife’ foi exibido, inicialmente, nas noites de quinta-feira. Mas o êxito implicou numa mudança rápida e drástica: seis meses após a estreia, o programa ganhou o início das noites de segunda-feira a sexta-feira, com “novelinhas” envolvendo os dois amigos e famosíssima camicleta, espécie de caminhão com bicicleta, que lembrava veículos circenses. O ponto de partida, aliás, veio da camicleta: Shazan e Xerife desejavam construir uma bicicleta voadora. Saíam então atrás da peça mágica que ajudaria a cumprir tal objetivo, mas sempre acontecia algo que os impedia de realizar o sonho…

Jerônimo, o Herói do Sertão (1972)

Por fim, um sucesso radiofônico da década de 1950, transposto para a TV por Moysés Weltman, com supervisão (durante um breve período) de Benedito Ruy Barbosa. Em cena, o peão Jerônimo (Francisco di Franco), que, acompanhando da noiva Aninha (Eva Christian) e do Moleque Saci (Canarinho), lutava contra os desmandos do Coronel Saturnino Baga (Ítalo Rossi). O cavaleiro se escondia na mata para tentar proteger pequenos produtores das práticas criminosas do latifundiário, que tomava a terras vizinhas na base da chantagem. Foram quatro aventuras, exibidas pela Tupi ao longo de um ano, que incluíam outros vilões, como um cientista maluco. Na década de 1980, o SBT reeditou a série, outra vez com Francisco di Franco como protagonista. Mas a empreitada não passou da primeira história, Laços de Sangue.


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