Semana da criança: super-heróis brasileiros faziam a cabeça da garotada nos anos 1960 e 1970

09/10/2017 às 11h00

Por: Duh Secco
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Houve um tempo em que a TV brasileira apresentava histórias de nobres ingleses, químicos com identidade secreta, vigilantes acompanhados por cães e trapalhões que se metiam em grandes aventuras. Foi a era dos super-heróis tupiniquins, estrelas de séries e programas que fizeram a cabeça da criançada. De hoje (9) até sexta-feira (13), o TV História revisita algumas das atrações destinadas ao público infantil (ou não) que deixavam os pequenos colados na telinha. Começando, claro, pelos valentes garotinhos, policiais e lunáticos dos primórdios da nossa televisão…

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Falcão Negro (1954)

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Exibida duas vezes por semana – depois convertida em atração diária – a série Falcão Negro narrava as aventuras de um herói inglês, que lutava pelas classes mais pobres. E que em quase todo episódio desenvolvia novas habilidades, provenientes da imaginação fértil de Péricles Leal, autor e diretor do projeto. Como naquela época não existia uma rede única de TV, o personagem ganhou diferentes intérpretes nas várias emissoras da Tupi país afora. O Falcão Negro carioca, o ator Gilberto Martinho, acabou vivenciando uma história diferente dos demais: ferido por um objeto arremessado pelo vilão (Jece Valadão), Martinho desfaleceu – e como o programa era “ao vivo”, o público passou a questionar a morte do herói. A produção foi obrigada a desenvolver episódios que narrassem a recuperação física do Falcão.

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Capitão 7 (1954)

A novíssima Record apostou nas aventuras deste super-herói, que carregava no nome o número da estação em São Paulo (Canal 7). Misto de Super Homem, Capitão Marvel e Flash Gordon, o “7” (Ayres Campos) desenvolveu força, inteligência e até a incrível capacidade de voar graças ao auxílio de um alienígena, que o capturou quando ele ainda era menino para desenvolver suas habilidades num outro planeta. De sua nave, sempre trajando o uniforme atômico que resistia a tudo, o Capitão acompanhava a rotina dos humanos – incluindo a de seu namorada, Silvana (Idalina de Oliveira). Quando não fazia as vezes de super-herói, atacava de químico, o recatado Carlos. Os episódios do Capitão 7, produzido até 1966, foram perdidos nos incêndios que destruíram boa parte do acervo do canal.

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Turma do Sete (1960)

Apesar do título, eram oito os pequenos que compunham a turminha desta série, exibida na Record e na TV Rio. Eles não possuíam habilidades especiais, mas se envolviam constantemente em perigosas aventuras. O projeto, como quase tudo na TV nesta época, surgiu de um anunciante – São Paulo Alpargatas – em vias de lançar um novo produto (Sete Vidas). Jacyra Sampaio, a eterna Tia Nastácia do Sítio do Picapau Amarelo (1977), vivia aqui a mãe de um dos garotos, Chuvisco (Antônio Alípio). Nair Bello, Gessy Fonseca e Gilmara Sanches – hoje dubladora – se revezaram como a mãe de Fernando (Márcio Trunkl) e Bebeco (James Akel). Foram quatro anos de sucesso, coroados por quatro prêmios Roquete Pinto de melhor programa infantil.

O Vigilante Rodoviário (1961)

Talvez a mais famosa série de super-herói dos primórdios da televisão brasileira. O Vigilante Rodoviário fez tanto sucesso que o ator Carlos Miranda incorporou o personagem: exerceu por 25 anos, na “vida real”, o mesmo papel da ficção. A série reverenciara a Polícia Rodoviária de São Paulo, criada em 1948 para empregar os pracinhas que lutaram na Segunda Guerra, mas feria o regimento da instituição: o Inspetor Carlos (Miranda) era acompanhado pelo pastor alemão Lobo, também engajado no combate ao crime; os animais, contudo, não participam de patrulhas verídicas. Patrocinada pela Nestlé, a série foi filmada em película de cinema americano – para concorrer com produções enlatadas. Veiculada na Tupi, ganhou reprise na Globo, ainda na década de 60, e, recentemente, no Canal Brasil.

Capitão Furacão (1965)

Hoje brilhando em A Força do Querer, como a sofrida Aurora, Elizangela estreou na televisão vivendo a assistente do sábio Capitão Furacão (Pietro Mário, que aos 26 anos, era obrigado a passar por um processo de envelhecimento para o personagem). Aqui, no entanto, a teledramaturgia abria espaço para o tradicional formato dos programas infantis (o primeiro da Globo), tendo o navio como cenário e o Capitão em gincanas com crianças, lendo cartas de telespectadores e chamando desenhos e filmes curtos. Furacão também narrava suas aventuras pelos mares, dando conselhos a marinheiros iniciantes – os chamados “grumetes”, que ganhavam carteirinha de sócio do programa, mediante à aquisição dos produtos de algum dos patrocinadores da atração. No fim de cada programa, a saudação: “sempre alerta e obediente”.

As Aventuras de Eduardinho (1966)

Também trazia as peripécias de um grupo de amigos, capitaneados por Dudu (Dennis Carvalho, hoje diretor artístico). Este projeto de Vicente Sesso nasceu na Excelsior e chegou ao fim na Globo. Foram dois anos de aventuras sempre baseadas em fábulas contemporâneas e lendas do folclore nacional e internacional. Os episódios, semanais, sempre traziam Dudu e a turminha partindo para uma nova aventura; em todas elas, acabavam se deparando com figuras históricas e escritores famosos. Marcos Paulo, filho de Sesso, estreou na TV nesta produção, que contou também com Geraldo Del Rey, Henrique César, Ivan Mesquita, Maria Aparecida Baxter, Riva Nimitz e Paulo Castelli – que fez fama em tramas como Tititi (1985) e Bambolê (1987).

Águias de Fogo (1967)

Ary Fernandes, responsável por O Vigilante Rodoviário, desenvolveu também para a Tupi o roteiro desta série – que apesar do sucesso, sucumbiu à concorrência com a Excelsior, que transmitia Redenção (1966), a mais longa novela da TV brasileira. Apaixonado por aviação, Ary vivia aqui o Capitão Paulo César, um dos principais nomes do grupo Águias de Fogo, esquadrão especial da Força Aérea Brasileira, que usava helicópteros e jatos no combate a criminosos e em missões de resgate. Contudo, nenhum dos atores saiu do chão: as cenas no céu eram feitas no chão, tudo na base do improviso. Os 26 episódios de Águias de Fogo foram preservados na Cinemateca Nacional. E exibidos, em 2010, no Canal Brasil.

Linguinha x Mr. Yes (1971)

Os episódios de cerca de sete minutos deste seriado, estrelado por Chico Anysio, registravam mais audiência do que o Jornal Nacional, que o antecedia, e a novela O Homem Que Deve Morrer, de Janete Clair, exibida na sequência. Linguinha (Chico) era um jovenzinho estudioso que vivia molhando os lábios com a língua, ação que lhe dava poderes de super-herói, na luta contra Mr. Yes (Luiz Delfino), um vilão poluidor. Os métodos de Linguinha, contudo, eram bastante atípicos: não brigava e não usava armas. Também não saia de casa sem escovar os dentes, tomar banho e pentear os cabelos. Já os malvadões usavam bigodes, uma característica que auxiliava os pequenos a identifica-los. No elenco, nomes que se consagrariam nos humorísticos de Anysio: Antônio Carlos, Arnaud Rodrigues, Grande Otelo e Jorge Loredo.

Shazan, Xerife e Cia. (1972)

Personagens periféricos de O Primeiro Amor, novela que a Globo exibiu às 19h, Shazan (Paulo José) e Xerife (Flávio Migliaccio) fizeram tanto sucesso que a Globo resolveu aproveitá-los em um seriado. Um dos primeiros spin-off da televisão brasileira, ‘Shazan, Xerife’ foi exibido, inicialmente, nas noites de quinta-feira. Mas o êxito implicou numa mudança rápida e drástica: seis meses após a estreia, o programa ganhou o início das noites de segunda-feira a sexta-feira, com “novelinhas” envolvendo os dois amigos e famosíssima camicleta, espécie de caminhão com bicicleta, que lembrava veículos circenses. O ponto de partida, aliás, veio da camicleta: Shazan e Xerife desejavam construir uma bicicleta voadora. Saíam então atrás da peça mágica que ajudaria a cumprir tal objetivo, mas sempre acontecia algo que os impedia de realizar o sonho…

Jerônimo, o Herói do Sertão (1972)

Por fim, um sucesso radiofônico da década de 1950, transposto para a TV por Moysés Weltman, com supervisão (durante um breve período) de Benedito Ruy Barbosa. Em cena, o peão Jerônimo (Francisco di Franco), que, acompanhando da noiva Aninha (Eva Christian) e do Moleque Saci (Canarinho), lutava contra os desmandos do Coronel Saturnino Baga (Ítalo Rossi). O cavaleiro se escondia na mata para tentar proteger pequenos produtores das práticas criminosas do latifundiário, que tomava a terras vizinhas na base da chantagem. Foram quatro aventuras, exibidas pela Tupi ao longo de um ano, que incluíam outros vilões, como um cientista maluco. Na década de 1980, o SBT reeditou a série, outra vez com Francisco di Franco como protagonista. Mas a empreitada não passou da primeira história, Laços de Sangue.


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